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Crítica | Avenue 5 – 2ª Temporada

À deriva.

por Ritter Fan
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  • spoilers. Leiam, aqui, a crítica da temporada anterior.

Quase três anos depois de sua primeira temporada, Avenue 5, a inusitada sátira de ficção científica de Armando Iannucci, criador de The Thick of It e Veep, retorna para as telinhas com a continuidade do destino da luxuosa nave de cruzeiro do título que, em razão dos eventos que testemunhamos em seu ano inaugural, teve seu tempo de permanência no espaço aumentado de oitos semanas para três anos inicialmente e, depois, nada menos do que oito anos. A nova temporada começa pouco tempo depois que a história parou, com apenas um punhado de pessoas sabendo dessa quase década de “atraso” e tendo que tomar decisões difíceis.

Em paralelo, na Terra, a Avenue 5 e seus tripulantes tornaram-se celebridades, com uma série de televisão sendo lançada para aproveitar o momento, algo que é usado na segunda temporada como uma espécie de artifício narrativo para ajudar na ancoragem da narrativa também em nosso planeta, com o uso de uma comentarista vlogueira que é fã da série e o retorno de Daisy May Cooper como a atriz Zarah, irmã de Sarah. Também na Terra, há uma subtrama que, aos poucos, vai ganhando relevância, que lida com o assessor do TOTOPUS (The Office of the Other President) e a descoberta de um asteroide de lítio que pode suprir a falta calamitosa do metal.

Se a primeira temporada mostrou-se refrescante em muitos aspectos, ainda que não particularmente genial, a segunda é, apenas, uma pálida lembrança do que Iannucci é capaz de criar. Sem a novidade a seu favor e também se apelar para artifícios mais… digamos… gráficos, como o crescente anel de lixo que orbitava a nave, tudo o que resta à série é criar situações internas típicas de espaço confinado para trabalhar o caos que uma situação com essa classicamente gera. No entanto, a temporada não só faz pouca comunicação entre os eventos no cruzeiro e na Terra, deixando com que as duas linhas narrativas corram soltas por muito tempo, como tudo o que ocorre no espaço parece uma sucessão de gags episódicas que são gangorras cômicas com altos pouco altos e baixos consideravelmente baixos.

Há razoável inspiração com a parada que a nave faz no que eles acham que é uma base militar espacial, mas que, na verdade, é uma prisão, com um canibal migrando para a Avenue 5, o processo de candidatura e votação em um “líder supremo” e, mais para o final, a inteligência artificial que, no melhor estilo Grande Irmão, observa o comportamento de todos para decidir quem deve sobreviver à aniquilação da nave pelo míssil enviado pelo TOTOPUS. No entanto, essas inspirações são momentâneas e, pior, usadas repetidas vezes dentro do episódio específico em que cad situação é criada, o que esvazia e banaliza rapidamente o pouco de novidade que elas são capazes de trazer.

Hugh Laurie e Josh Gad, respectivamente como o Capitão e, depois, Supremo Líder Ryan Clark e o egoísta e ignorante dono da nave Herman Judd, continuam sendo os destaques, mas mesmo eles parecem estar de má vontade em seus papeis, quase que atuando no automático, sem o mesmo timing cômico que demonstram na temporada inaugural. Não diria que o problema está no elenco, porém, mas sim nos textos sem vida e sem ritmo da equipe de roteiristas sob o comando de Iannucci que insistem em tirar o pé do acelerador, transformando o humor original em algo substancialmente mais domado, sem coragem de ir a fundo no que abordam.

Com um final sem graça que sequer consegue construir um cliffhanger que crie curiosidade pelo que está por vir se a série for renovada, Avenue 5 parece que, muito mais rapidamente do que se poderia esperar, está à deriva no espaço, sem capacidade de ligar seus motores para continuar andando para a frente. Talvez Iannucci seja mesmo mais talhado para séries de cunho fortemente político em que ele pode explorar as podridões humanas sem a necessidade de se preocupar com enguias, separação de nave, asteroides de lítio e outros penduricalhos que ele não mostrou consistência em lidar.

Avenue 5 – 2ª Temporada (EUA, 10 de outubro a 28 de novembro de 2022)
Criação e showrunner: Armando Iannucci
Direção: William Stefan Smith, David Schneider, Annie Griffin, Ollie Parsons, Armando Iannucci
Roteiro: Will Smith (William James Smith), Keith Akushie, Jon Brown, John Finnemore, Tony Roche, Rose Heiney, Georgia Pritchett, Ian Martin, Marina Hyde, Sean Gray, Simon Blackwell
Elenco: Hugh Laurie, Josh Gad, Zach Woods, Rebecca Front, Suzy Nakamura, Lenora Crichlow, Nikki Amuka-Bird, Ethan Phillips, Daisy May Cooper, Lucy Punch
Duração: 224 min. (oito episódios)

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