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Crítica | Badou Boy + Le Franc

por Luiz Santiago
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Em Le Franc, Djibril Diop Mambéty trabalha na comédia uma questão de sorte aliada ao sonho do músico Marigo (Dieye Ma), que é constantemente cobrado pela senhoria (a grande cantora Aminata Fall) o aluguel que não paga há meses. Com o seu instrumento (um congoma) confiscado pela mulher, pouco lhe sobra de alternativa para conseguir ganhar algum dinheiro, o que faz a sua situação financeira virar uma perigosa bola de neve. Essa relação entre espaço social, necessidade imediata de dinheiro e diversas lutas para consegui-lo nos faz vislumbrar ecos de Mandabi aqui, mas Mambéty tem um caráter experimental e leve de nos apresentar esse dilema.

Marigo sonha acordado. Ele tem fé em Yaadikoone Ndiaye (o arquétipo popular do bandido de honra em Senegal, um admirado “Robin Hood nacional”), imagina-se tocando o seu congoma e possuidor de diversas riquezas, uma representação dos desejos genéricos de posse por alguém à margem da sociedade. No filme, os problemas sociais orbitam o cotidiano desse músico sonhador, que progressivamente passa a ser tratado como um personagem de comédias pastelonas, algo que não funciona o tempo todo no filme: começa bem, mas o diretor exagera nesse tipo de exposição de trapalhadas, passos trôpegos e quedas de Marigo carregando a sua porta com o bilhete da loteria colado atrás da foto de Yaadikoone.

Pensado como a primeira parte de uma trilogia chamada Contos de Pessoas Comuns, Le Franc só teve mais uma sequência (A Pequena Vendedora De Sol), sendo o projeto interrompido pela morte do diretor, em julho de 1998. Trata-se de uma obra sobre desejo de ascensão social e sobre sorte, exposta como um escapismo simplista de felicidade e que justamente por ser sorte, não muda nada na base da pirâmide, onde a pobreza e a miséria imperam. Mas ao mesmo tempo é um conto sobre o amor de um homem pela música, o pouco ou nenhum dinheiro que inicialmente tem e a alegria que exibe ao conseguir romper os empecilhos que os separavam de um grande prêmio em dinheiro. Uma ótima fantasia social com uma excelente trilha sonora e uma abordagem ágil, cômica e experimental.

Le Franc (Senegal, Suíça, França, 1994)
Direção: Djibril Diop Mambéty
Roteiro: Djibril Diop Mambéty
Elenco: Dieye Ma, Aminata Fall, Demba Bâ
Duração: 46 min.

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Badou Boy

Em Badou Boy (1970), o diretor Djibril Diop Mambéty segue fazendo os experimentos iniciados em Cidade de Contrastes, no ano anterior, mas aqui com uma força muito maior na comédia física, que penetra todos os núcleos narrativos do filme e coloca esses personagens em constante situação de movimento, cada um procurando algo e sendo atrapalhado em sua busca por uma espécie de “destino tragicômico“, assemelhando-se, em essência, à abordagem que Chaplin dava ao seu Carlitos, especialmente em situações onde estava fugindo de um homem da lei ou algum outro tipo de figura imponente e central na sociedade.

A intenção do diretor, portanto, é clara: acompanhar um personagem à margem (Badou, interpretado por Laminé Ba) e ver o que ele faz para despistar o policial Al (Al Demba Ciss), que o persegue de bicicleta por toda Dacar. A primeira relação que salta aos olhos é a fragilidade da motivação para que a lei ponha os olhos em Badou, já que ele não tem de verdade um crime em mãos. O garoto seria uma espécie de antigo malandro carioca, mas isso na maneira como age para conseguir trabalho, algo que torna a perseguição a ele verdadeiramente irônica. Com base nisso, Mambéty estabelece uma interessante relação de força, de atitudes de trabalho, de ócio e de ideias que uma classe ou grupos em distintas funções sociais têm uns sobre os outros.

A perseguição é também uma oportunidade para o diretor nos mostrar a cidade, onde situações relativamente parecidas (de gente procurando sobreviver) seguem em andamento. A técnica experimental e criativa, tanto no uso não diegético do som quanto na montagem da obra, com seu lado metalinguístico na introdução e aceleração ou repetição de momentos slapstick, para fins cômicos, ressaltam o lado sério do filme, escancarando o ciclo de luta por dignidade, encontrando pelo caminho acusações, perseguições, promessas políticas ou eventos para poderosos e candidatos a importantes cargos locais. Tudo isso enquanto o povo tenta conseguir trabalho e sequer pode se reunir para criticar os homens no poder ou fazer propostas políticas que melhorariam a vida de todos. A eterna marcha do poder tentando acabar com tudo aquilo que colocaria a força política nas mãos dos mais fracos e necessitados.

Badou Boy (Senegal, 1970)
Direção: Djibril Diop Mambéty
Roteiro: Djibril Diop Mambéty
Elenco: Laminé Ba, Al Demba Ciss, Christoph Colomb, Aziz Diop Mambéty
Duração: 56 min.

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