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Crítica | Barbie – A Sereia das Pérolas

Mas, afinal, Barbie é uma sereia?

por Leonardo Campos
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Os filmes da Barbie possuem todos o mesmo estilo de narrar. Geralmente, temos uma jovem que já é ou teve o posto de princesa, tendo que aprender/reaprender a ser uma representante do reino, além da presença fiel de alguns amigos e caricatos antagonistas para atrapalharem a sua jornada. Resignada, ela sempre renega alguns prazeres da vida para o bem comum, em prol do coletivo, além de buscar quase sempre o amor romântico. Não seria diferente em Barbie – A Sereia das Pérolas, vigésima sétima animação da série, dirigida por Ezekiel Norton, escrita pela dupla formada por Cydne Clark e Steve Granat, equipe que entrega ao público uma história supervisionada pelo design de produção de Walter P. Martishuis, profissional que mantém o tom dos antecessores e conta com o gerenciamento de animação de Daniel Broverman para a finalização de gráficos e demais contornos. Junto ao trabalho de Jim Dooley na condução musical, temos mais uma habitual história envolvendo a estilosa personagem, sempre preocupada com o outro, assim como consigo mesma, em especial, quando o assunto é a manutenção da estética, um padrão na série.

Sobre a mitologia e relacionamento com os elementos que formam as sereias como figuras presentes em nosso extenso imaginário cultural, Barbie – A Sereia das Pérolas não dialoga com nada do universo além do espaço cênico e das situações envolvendo personagens que são divididos entre o reino dos humanos e o mundo dos peixes. O filme conta a história da Princesa Lumina (voz de Leonardo Campos), uma jovem sereia branca e privilegiada, serpenteante pelas profundezas do reino de Seagundia, vibrante com os seus olhos azuis e longos cabelos loiros. Herdeira, sem saber, do trono deste império oceânico, a jovem de 17 anos nasceu com o dom de manipular (para o bem, sempre) as pérolas do fundo do mar. Quando criança, foi sequestrada pela mulher que julgava ser a sua tia. A tramoia? Simples: Scylla foi paga por Caligo, tio de Lumina, para aniquilar a jovem herdeira, pois seu interesse era que seu filho Fergis, antipático ao posto de futuro imperador e com um desejo incontrolável de ser botânico, comandasse Seagundia.

Filha do Rei Nereu e da Rainha Lorelei, Lumina passou por eras sem ter o direito de exercer os privilégios de ser uma princesa, mas com o avanço da narrativa, as trapalhadas revelam todos os segredos e as coisas se encaixam devidamente em seu lugar, permitindo que a ordem seja estabelecida e lições de moral, companheirismo e bom comportamento sejam ensinadas por esta animação sobre uma princesa saltitante, sempre a ver a bondade em todos, criativa diariamente e em busca de inovações para tornar os dias mais coloridos e intensos. Ao flertar com a identidade desconhecida da princesa e a redenção da personagem até o desfecho, Barbie – A Sereia das Pérolas segue o padrão das animações desta série, isto é, o empreendimento em torno da beleza e dos cuidados estéticos e de estilo. Lumina passa um bom tempo se cuidando com outros personagens no La Mer, salão frequentado por outras sereias que estão constantemente a ornamentar a cauda, os cabelos, etc.

Ao terminar a sessão, lembrei-me de duas leituras bem interessantes para pensarmos essa pedagogia proposta, de maneira diluída, nas animações da série Barbie e, em específico aqui, no filme A Sereia das Pérolas. A primeira é a elucidativa tese de doutorado O Corpo Rifado, escrita pela pesquisadora Patrícia Abel Balestrin, texto que dentre tantas coisas, afirma que as narrativas audiovisuais que consumimos produzem sujeitos e identidades por meio as imagens que põe em movimento na tela, sendo o cinema um dos projetores mais poderosos no exercício da pedagogia no sentido que ensinam modos de ser, viver e de comportar, dentre outras coisas. O outro texto é o capítulo Gênero e Sexualidade nos Desenhos da Disney, assinado pela pesquisadora Claudia Cordeiro Rael. Ela expõe que o cinema, os documentários, os shoppings-centers, a mídia, os museus, os brinquedos, etc., podem ser compreendidos como instancias educativas, além de locais e objetos de informação e entretenimento. Ao produzirem e sugerirem representações de determinados comportamentos e identidades sociais, produções como A Sereia das Pérolas ou Barbie em Vida de Sereia podem regular algumas formas de lidarmos com as coisas em nosso cotidiano, da mesma forma que os filmes e séries sobre luta e velocidade tentam empreender ideologias sobre o que seria o masculino para os meninos. São debates interessantes, bem melhores que os filmes em si, narrativas bobas, insossas e nalguns casos, pouco interessantes como entretenimento, como é o caso deste A Sereia das Pérolas, médio, “quase abaixo” disso.

Barbie: A Sereia das Pérolas (Barbie: The Pearl Princess) — EUA, 2014
Direção: Ezekiel Norton
Roteiro: Cydne Clark, Steve Granat
Elenco: Kelly Sheridan, Katy Crown, Mark Oliver, Rebecca Shoichet, Trish Pattendon, John Novak, Simon Hill, Peter New
Duração: 73 min.

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