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Crítica | Barry – 1ª Temporada

por Kevin Rick
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Começando agora.

Barry tem uma das premissas mais legais de séries de televisão que saíram nos últimos anos. O sucesso da HBO lançado em 2018 acompanha o personagem-titular, um assassino de aluguel e ex-fuzileiro naval interpretado pelo comediante Bill Hader (ex-membro do Saturday Night Live), que se destaca em seu trabalho, mas que também acha que a profissão está causando sérios danos mentais e emocionais. Quando ele precisa matar um alvo em Los Angeles, Barry tropeça em uma aula de atuação e é forçado a atuar em uma cena de improviso. De repente, ele se sente vivo pela primeira vez em muito tempo, e decide que vai deixar o jogo do assassino para trás. Mas, como ele descobre rapidamente, é mais fácil falar do que fazer.

Uma espécie de mistura (guardadas as várias devidas proporções) da narrativa criminosa convincente e cheia de reviravoltas de Breaking Bad, o humor negro de Fargo e o estudo psicológico de Taxi Driver, a série criada pelo próprio Bill Hader e também por Alec Berg, é uma aula de equilíbrio entre comédia e drama. De maneira bastante orgânica, o criadores constroem o show a partir de ideias dramáticas comuns de arrependimento e a busca por um novo propósito e modo de vida gratificante, mas a profundidade e intimidade do arco do protagonista, bem como a vontade de explorar de forma realista as duas jornadas (ator e assassino), torna Barry uma dramédia honesta e pragmática dentro de seus absurdos, considerando como lida bem com gêneros.

Na primeira metade da temporada, é estabelecido um tom de meta-comédia/paródia inteligente com os núcleos de teatro e serviços de hitman que dividem a atenção de Barry, ao mesmo tempo que desenvolvem um drama humano afetivo associado aos dois ambientes. Por um lado, a obra zomba de vários clichês hollywoodianos da máfia russa, assassinos e da indústria do entretenimento, nos apresentando criminosos infantis e afáveis – especialmente NoHo Hank, interpretado por Anthony Carrigan, a personificação de carisma e ironia -, um teatro que só faz monólogos de filmes e uma certa banalidade da morte usada como piada.

No entanto, cada momento cômico acima é pontuado ou tem como contraponto camadas complexas fascinantes. Por exemplo, quando um assassino famoso decide se suicidar, existe um piada em torno da sua morte em relação ao timing da circunstância e a reação da máfia, mas as comoventes palavras finais do personagem evocam o drama dos danos causados pela profissão que Barry tanto teme. A personagem de Sarah Goldberg, a aspirante à atriz Sally Reed, é tanto um interesse de comédia romântica clichê quanto um exemplo dos dramas que circundam mulheres no meio laboral/relação íntima com a toxicidade masculina. Dessa forma, a série está sempre condensando com muito cuidado um pano de fundo dramático com o humor. Se inicialmente Barry nos faz rir com um hitman aparentemente desajeitado querendo virar ator, as gargalhadas lentamente se tornam risos desconfortáveis até se transformarem em lágrimas.

Os dois episódios finais, especialmente o sétimo, viram uma chave de abordagem dentro da série que muda totalmente o tom narrativo. Como a série vai dando mais atenção às consequências dos atos de Barry e companhia, a obra demonstra que mudança não significa remição. E com isso, Barry faz a coisa mais importante que uma série de comédia desse subgênero (humor negro com crime) pode fazer: leva o assassinato a sério. Em um twist explosivo, a série atinge seu clímax com a junção dos mundos de Barry que ele desesperadamente quer separar, finalmente realizando o impacto emocional dos seus atos enquanto atua (e é cruelmente elogiado) com a verdade.

Indo além da premissa instigante, Hader e Berg revestem seu show de complexidades. Navegando entre a estrutura de comédia situacional, especialmente com o lado teatral, e o drama do crime perfeitamente pontilhado com twists e o perturbador arco psicológico de Barry, além de várias sequências fantásticas de ação, a obra se mostra uma das séries mais inovadoras com temas batidos, pois entende como misturá-los e dosá-los com um controle assustador. A performance de Bill Hader personifica a linguagem multi-gêneros da obra, indo de um paspalhão desconfortável até um assassino ameaçador com uma facilidade surpreendente.

No fim, como Barry diz várias vezes durante sua jornada: “Começando agora“, a série, ao ser uma amálgama de estilos e tons, está em constante transformação, mas nosso protagonista complicado parece não entender que sua história é raramente dissociativa. Ele não é seu trabalho, mas seu trabalho (o passado) é uma parte dele. Em Barry, a metalinguagem teatral, o drama humanista, a paródia e a violência estão estritamente vinculadas, e assistir Barry querendo diferenciar períodos nos entrega uma montanha-russa de sentimentos, emoções e reações.

Barry – 1ª Temporada (EUA, 25 de março de 2018 a 13 de maio de 2018)
Criação: Alec Berg, Bill Hader
Direção: Alec Berg, Bill Hader, Hiro Murai, Maggie Carey
Roteiro: Alec Berg, Bill Hader, Duffy Boudreau, Emily Heller, Ben Smith, Elizabeth Sarnoff, Sarah Solemani, Jason Kim
Elenco: Bill Hader, Stephen Root, Sarah Goldberg, Glenn Fleshler, Anthony Carrigan, Henry Winkler, Paula Newsome, Micharl Irby, D’arcy Carden, Mark Ivanir, Kirby Howell-Baptiste
Duração: 235 min. (08 episódios)

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