Home TVEpisódio Crítica | Bates Motel – 5X10: The Cord

Crítica | Bates Motel – 5X10: The Cord

por Luiz Santiago
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Episódio, Temporada e Série

estrelas 4,5

spoilers! Leiam as críticas dos demais episódios de Bates Motel aqui. E leiam as críticas para as várias versões de Psicose aqui.

Uma ótima reescrita. Isso foi o que Bates Motel se tornou em sua 5ª Temporada, começando pela mudança do famoso assassinato no chuveiro, em Marion, e terminando com o final “moralmente correto” para Norman: a morte. Mas este caminho não foi palmilhado de maneira fácil ou resultou em um final feliz clichê. Claro que os elementos da felicidade encontrados em obras onde o vilão “tem o que merece” estão todos aqui, e isso com certeza deve ter incomodado alguns espectadores — o que é plenamente compreensível. Todavia, é necessário entender que o final da série seguiu um caminho diferente do que esperávamos. Toda a jornada não foi para nos deixar no lugar que conhecíamos de Psicose. Foi para nos colocar em conflito ao ver eventos muito semelhantes terem um desfecho e consequências diferentes. Uma espécie de “o que aconteceria se…?” para a TV, se preferirem.

Muito superior em relação ao penúltimo episódioThe Cord encerra o show de maneira digna. Norman volta para casa. Não há desvios de atenção, não há espaço para dramas paralelas ou muitas cenas que quebram a sequência narrativa que esperávamos dos produtores, ou seja, focar no jovem psicótico e na forma como as coisas terminariam para ele. Há apenas um ponto que parece desconexo no episódio: a chegada de uma mulher com os dois filhos (claro espelho de “Norma e os garotos, numa espécie de terceira realidade nesse Universo”) e a permanência dela no hotel por algumas horas. Como não há nada ali que adicione coisas relevantes para Norman, já que toda a visão “positiva” da realidade que ele tinha estava sendo muito bem mostrada de outra forma, concluímos que este foi um último gesto dele como gerente do hotel. Mas na trama, trata-se de uma sequência completamente dispensável.

O término do arco de Romero e da relação mental/comportamental entre Norman e a Mãe me pareceram um pouco apressados a princípio, mas quando Romero é morto e uma belíssima Vera Farmiga aparece, com um figurino escolhido com precisão (o guarda-roupa da personagem nessa temporada foi a melhor parte do trabalho da equipe de figurinos, especialmente de Monique Prudhomme, que assinou 43 dos 50 episódios da série), diz para Norman que ela não tinha mais do quê protegê-lo tudo faz sentido. A separação parece definitiva e vem em um turbilhão de coisas para o jovem, que naquele momento encontra o seu penúltimo refúgio, como se tivesse resetado o cérebro e voltado ao ponto onde tudo começou.

A alucinação de uma vida feliz (ou memórias felizes do passado) que Norman vive do meio para o final do episódio é um primor de últimos passos para o personagem. Ele volta para o seu maior refúgio, para uma última estadia na casa, achando que começava ali uma nova vida, como em um ciclo. Esse curioso aspecto não veio acompanhado apenas de um bom roteiro e montagem, mas também da sempre excelente fotografia de John S. Bartley (responsável por 45 dos 50 episódios da série), que tornou a casa um ambiente belo novamente, desta vez, tanto no mundo real quanto na mente de Norman. O uso de paletas diferentes para cada espaço da casa — isso foi raramente utilizado na série porque a casa servia como núcleo de grandes emoções, não de fragmentos dela, de modo que existia mais uma nuance fotográfica predominante do que particular — e a interação dos planos da mente de Norman para o que Dylan vê é um espetáculo.

E novamente, a interação entre os irmãos é intensa e marcante. No episódio The Body, os diálogos entre os dois demonstraram uma química tremenda e com certeza o roteiro foi ajustado aqui para termos Dylan e Norman em cenas solo novamente, agora com um final que pode ser feliz para todos os lados, apesar de ter o lado triste se levarmos em consideração as peças em jogo. Norman reencontra a pessoa com quem prometeu ficar para sempre e com isso, é feliz. A morte, aí, vem como uma bênção. Mas também como expurgo, punição ou seja lá que tipo de classificação podemos dar para o fato de que também presenciamos a morte de um assassino.

Uma parte da família — ironicamente, a parte mais traumática — foi quem ganhou o melhor desfecho, e confesso que foi bom ver Dylan, Emma e a filha juntos. Esta é a fase dos clichês que levantei no início da crítica, mas novamente ressalto que para chegar a este ponto, o trajeto não foi feliz e é bom lembrar que sempre haverá um quê de culpa e marca trágica para o casal, porque ambos estão envolvidos pessoal ou indiretamente com assassinatos. É o tipo de felicidade conseguida a sangue, algo que até momentos antes víramos Norman tentar. Chega a doer o nível de realidade e relações fraternas/familiares que o roteiro nos coloca aqui, apesar de tudo terminar “como deveria”.

Sim… uma ótima reescrita. Eu realmente não esperava que Bates Motel tivesse uma reta final com tantas novidades como as que foram mostradas nesta sua última temporada, e é muito bom perceber que a coisa toda funcionou muito bem. Estamos diante de um olhar moderno para um drama clássico. As discussões sobre o papel da mulher e uma série que outras questões midiáticas, sociais, morais e mesmo artísticas de nossos tempos foram levadas em conta nesta releitura de Psicose, deixando-nos com um resultado final inesquecível.

Foi uma longa jornada e tivemos um bom fim.

Nossa estadia acabou.

É hora de sair do hotel.

Check-out.

Bates Motel – 5X10: The Cord (EUA, 24 de abril de 2017)
Direção: Tucker Gates
Roteiro: Kerry Ehrin, Carlton Cuse
Elenco: Vera Farmiga, Freddie Highmore, Max Thieriot, Nestor Carbonell, Chris Shields, Brooke Smith, Ian Tracey, Nicholas Holmes, Diana Bang, Nathan Cann, Nicholas Carella, Glen Gordon, Hayley Gray, Jennifer Copping, Aiden Lane Robson, Leah Cairns
Duração: 45 min.

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