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Crítica | Batgirl: Além de Burnside

"De férias" na Ásia.

por Luiz Santiago
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Arco de abertura da Batgirl na fase do Renascimento DC, Além de Burnside é uma história relativamente confusa que começa com Barbara Gordon resolvendo passar férias no Japão. Em termos de construção, dá mesmo a impressão de que estamos no começo de uma nova fase, com o roteiro de Hope Larson mostrando a heroína fora de seu ambiente familiar e abrindo espaço para reflexões dela sobre a carreira, a vida e os sentimentos. Então vem a primeira grande estranheza para estragar a vibe, acontecendo quando a personagem encontra Kai Ma, um grande amigo de infância (é um personagem novo, aparece pela primeira vez aqui, portanto, faz parte de um dos retcons na história da heroína nessa Era pós-Novos 52). Imaginem a seguinte situação: alguém viaja dos Estados Unidos para o Japão, aluga um quarto num albergue e acaba tendo como colega de quarto um antigo amigo do bairro, alguém com quem costumava brincar e aprontar, em tenra idade. É um nível de coincidência tão absurdo e tão ridículo que eu fiquei pedindo a todos os deuses que, na mesma edição, o roteiro desse uma explicação racional para isso. Mas a explicação não veio.

Quando o leitor parte de um princípio estranho como este (o encontro acontece na página quatro da primeira revista) demora um pouco mais para que mergulhe de bom grado no restante da história, e é justamente o que acontece aqui. Para a sorte da publicação (e do leitor também, convenhamos), a arte de Rafael Albuquerque é bastante agradável; sua finalização aqui é limpa e a diagramação que ele faz das páginas consegue ritmar bem a aventura e dar um considerável destaque às emoções. É um projeto gráfico um pouquinho mais “intimista”, no sentido de dar bastante prioridade para rostos e destaque a objetos, placas e alguns lugares, que é uma representação visual para a marcação da memória fotográfica da senhorita Gordon.

Quando o leitor consegue superar a estranheza do encontro entre Babs e Kai, surge uma indicação no roteiro sugerindo que o rapaz está enrolado com alguma coisa perigosa. Ao mesmo tempo, fica claro que as férias de Barbara não serão nada parecidas com o que ela imaginava. Seu encontro com a Morcego da Fruta, uma heroína japonesa dos anos 1940 que ainda está viva, no alto de seus 103 anos de idade, é um momento incrível do arco e abre as portas para a investigação que colocará Barbara no caminho dos “estudantes” e da “professora“. É nesses termos que a problemática da narrativa se arma e, junto dela, vem uma frustração que só aumenta nas edições seguintes. Hope Larson sugere muitas coisas, coloca muita importância em um determinado personagem ou evento, mas não consegue fazer com que as respostas para estas suposições sejam tão interessantes quanto os mistérios criados em torno delas. Arma-se um hype narrativo imenso, mas o desenvolvimento do drama e a resolução do caso não fazem jus à espera.

A largada do plot em Além de Burnside é de uma história típica de ação. Seu desenvolvimento mescla artes marciais com tecnologia, num sub-arco sem nenhum charme, e traz alguns poucos elementos que provam que Kai estava mesmo envolvido com algo muito ruim — um “algo ruim” difícil de entender, mal explicado pelo roteiro e muitíssimo mal aproveitado em termos de ameaça. Ou seja, há pouca coisa que realmente permanece boa por muito tempo na saga, o que me faz bater na tecla da frustração e do desperdício de uma potencial boa história.

A derradeira edição, que foca no retorno de Barbara para casa, é absurdamente inútil para os eventos deste arco, tendo como única coisa chamativa e instigante a chegada de Ethan Cobblepot (futuro Sol Negro) ao aeroporto de Gotham. Quem reconhece o sobrenome do jovem, sabe que virá problemas adiante. Já o encontro de Barbara com a Hera Venenosa no avião e o perrengue com a planta pré-histórica me parece ser algo que ganhará alguma explicação no futuro do título, mas aqui ela está completamente deslocada e reforça a sensação de que estamos perdendo tempo lendo essa revista final. Definitivamente não é um bom começo para a garotona da Bat-família. Melhor seria focar nas férias da Batgirl, criando uma historinha de reflexão sobre a vida num momento de descanso, do que sonhar tão alto, tão cedo, a praticamente morrer na praia.

Batgirl: Além de Burnside (Batgirl – Vol.5 – #1 a 6: Beyond Burnside) — EUA, Setembro de 2016 a Fevereiro de 2017
Roteiro: Hope Larson
Arte: Rafael Albuquerque
Arte-final: Rafael Albuquerque
Cores: Dave McCaig
Letras: Deron Bennett
Capas: Rafael Albuquerque
Editoria: Mark Doyle, Rebecca Taylor
24 páginas (cada edição)

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