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Crítica | Batman: Noite das Corujas

por Luiz Santiago
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estrelas 4

O primeiro arco da revista Batman, nos Novos 52, foi A Corte das Corujas, onde Scott Snyder estabeleceu o início de um novo grupo-vilão (uma espécie de Sociedade Secreta que agia há tempos em Gotham) e estruturou uma nova ameaça para o Morcego. As edições #1, 2, 3, 4 e 5 a 7 tiveram como função arquitetar o perigo, mostrar o primeiro contato do Batman com a Corte e contar a história do grupo para os leitores.

O exercício de Snyder foi louvável naquele primeiro arco e já apontava para um final épico. Anunciou-se a ideia de um crossover pós-reboot entre Batman e as outras revistas da batfamília (exceto a Batwoman) e estabeleceu-se que quando chegasse ao número #09 de sua publicação, haveria eventos simultâneos ocorrendo entre a timeline de Batman e todo o ‘batunivero’.

Já no Prelúdio para a Noite das Corujas (Batman #08) tivemos um pré-crossover entre alguns títulos, mostrando a presença dos Garras e da Corte em diversos lugares de Gotham e influenciando, assassinando ou manipulando vários de seus cidadãos. A famosa Noite das Corujas, o desfecho de toda a saga, começaria na edição seguinte.

A presente crítica traz unicamente os eventos da Noite das Corujas narrados em Batman. Caso o leitor queira ter acesso aos textos relacionados aos outros eventos desse mesmo período ou arcos para as outras revistas da batfamília, acesse o nosso Especial Batman ou os links disponibilizados no decorrer do presente texto. E vale ainda avisar que há massivos spoilers adiante.

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É, eu ACHO que o Batman está com um pouquinho de raiva…

No Prelúdio para a Noite das Corujas já tínhamos visto os Garras invadirem a Mansão Wayne e a Batcaverna, colocando o Morcego numa situação muito difícil e a vida de Alfred em risco. Após “o chamado” emitido, as coisas passaram a ter duas grandes linhas de ação simultânea, uma protagonizada pelo Morcegão e outra levada a cabo por diversos membros da batfamília.

Scott Snyder levou a sério a neurose que ele mesmo criara no Batman e em Bruce Wayne nas edições passadas. Seu roteiro para essa Noite das Corujas prensa o herói e o civil contra a parede, não só defrontando-o com inimigos muitíssimo bem treinados e com recursos financeiros capazes de desafiá-lo de igual para igual, mas acima de tudo, com uma linha de acontecimentos dotados de forte teor psicológico, tocando em pontos sensíveis da vida pessoal do herói — o verdadeiro motivo dele ter se tornado um herói! — e tentando fazê-lo desacreditar de sua própria origem.

Nós sabemos que a família e todo o conceito possível que dela podemos ter é uma das coisas mais preciosas para o Batman. A sua existência como vigilante tem um núcleo familiar e toda a carreira do herói é pontuada por exemplos dessa força que o cerca e que ele não deixa de dar atenção. Nesse cômputo, temos os diversos Robins, os membros distantes da linhagem do Morcego que recebem assessoria — mesmo à distância –, a Corporação, as obras sociais… a batfamília. A vida de Bruce Wayne e a luta do Batman sempre teve um caráter familiar intrínseco e de importância vital para ambos. É justamente por isso que o roteiro de Scott Snyder conseguiu alçar voo tão alto: ele fere e corrompe esse lado do herói.

Algumas investigações podem levar a resultados perigosos.

É claro que a “Noite das Corujas” tem um valor conceitual tremendo na coroação da saga começada na Batman #01, mas ela é apenas uma parte de todo o trajeto que o Morcegão percorreu durante o arco, um arco extremamente violento, diga-se de passagem. Aliás, o traço de morte é posto em grande destaque nessa fase dos Novos 52, tanto explorado na saga das Corujas quando no arco que viria logo a seguir, Morte da Família.

O caminho segue em crescendo até a edição #10, intitulada Ataque à Corte. Aqui, a arte de Greg Capullo ganha uma agilidade quase física, ao mesmo tempo que mostra suavidade e limpeza de traços (mantida fielmente na ótima finalização de Jonathan Glapion), um exercício modulação rítmico-estética que dá um poder tremendo ao que está sendo narrado. E, convenhamos, essa edição #10 precisou muito disso. Nela, Batman começa visitando o complexo dos três últimos andares do Hotel Powers; em seguida dirige-se para a Harbor House (sede da Corte); vai descansar/pensar em casa e então se direciona para o destino final, aquele que trará o grande choque não só para o leitor as também para o Morcegão: o Lar para Crianças Wilowwood.

Quando eu disse que Snyder fere e corrompe o núcleo familiar do Batman, eu não quis dizer que ele faz isso de forma errônea ou herética. Mas por quê? Bem… porque ele não altera absolutamente nada o que não é para alterar, ele acrescenta coisas ao que já sabíamos. Todavia, não é apenas uma adição de caráter curioso e que pode facilmente morrer com essa saga. O autor consegue construir uma sólida “versão” para a infância do Batman e para a história de sua família, pondo em cena o curioso personagem de Lincoln March/Thomas Wayne Jr./Garra (um dos). Mesmo que a edição #11 (O Guardião de Meu Irmão) tenha um início desnecessariamente forçado (as cenas do avião e da explosão da Torre são as piores e, infelizmente, a maior parte da revista), o personagem permanece notável e com curiosa origem, além de deixar no ar uma inquietante informação.

Greg Capullo fazendo jus à densidade da história.

A saga da Noite das Corujas nos trouxe um enorme arcabouço de informações sobre o passado de Gotham, dos Wayne e de como certas ameaças pareceram sempre existir na cidade. Com uma arte detalhista e inteligentemente modulada de Greg Capullo, a aventura ganhou uma aparência severa, madura, muito próxima de enquadramentos cinematográficos. O artista também teve o cuidado de não exagerar em momentos que o texto deveria ser mais importante, ao mesmo tempo que nos dava quadros repletos de objetos e pessoas, constituição de imagens que se tornou ainda melhor com a finalização de Glapion e com o excelente trabalho de cores (grande destaque para o filtro de sombras e todas as cenas noturnas do arco) feito por Dave McCaig e pela empresa FCO Plascencia.

Mesmo que não tenha criado uma obra-prima, Scott Snyder conseguiu com Corte e Noite das Corujas um feito notável para uma série que acabou de passar por um reboot. Tudo bem que algumas coisas não foram explicadas — entendemos que isso faz parte do jogo da Nona Arte e é algo a se esperar de uma reformulação da DC — e que alguns exageros poderiam ter sido evitados ou reescritos, mas o essencial do arco e o ingrediente principal de toda a proposta para uma revista do Batman está aqui e recebeu a devida atenção dos autores, tanto em texto quanto em arte. Se lermos com atenção a conversa final entre Bruce e Dick Grayson, perceberemos que o ciclo da aventura se fecha num jogo familiar e com uma intrigante interrogação. Mais ou menos como tudo começou. Exatamente como deveria “terminar”.

Para ler a Parte 2 desse arco, A Queda da Casa Wayne, clique aqui.

Pequena sequência de eventos notificados nessas edições:

19h51 – Batcaverna: Batman luta contra os Garras e tem ajuda técnica de Alfred.

20h36 – Batmóvel: Batman a caminho do Asilo Arkham, para salvar Jeremiah.

23h02 – Prédio de campanha de Lincoln March: Batman vê o candidato morrer e recebe uma importante pista para investigar a Corte.

Batman Vol.2 – #09 a 11: Night of Owls (EUA, julho a setembro de 2012)
No Brasil: Noite das Corujas, fevereiro a abril de 2013 (Panini)
Roteiro: Scott Snyder
Arte: Greg Capullo
Arte-final: Jonathan Glapion
Cores: Dave McCaig, FCO Plascencia

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