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Crítica | Batman: A Jornada do Cavaleiro das Trevas

por Luiz Santiago
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estrelas 3,5

O escritor Andrew Helfer planejava uma série do Batman já a bastante tempo, quando criou A Jornada do Cavaleiro das Trevas (2005 – 2006). A ideia do roteirista era trazer para o público uma aventura que tivesse semelhanças com Ano Um (1987), mas com um outro foco narrativo. Para ele, a famosa história de Miller e Mazzucchelli era mais sobre Gordon do que sobre o Batman e a ideia de A Jornada do Cavaleiro das Trevas era “remediar” isso.

A minissérie em 12 edições, publicada nos Estados Unidos entre outubro de 2005 e setembro de 2006, localiza-se no início do ano dois do Batman da Era Moderna. Na verdade, é a aventura que abre este segundo ano do herói, sendo as edições #1 a 6 ambientadas entre fevereiro e março daquele ano (1990, na timeline do Batman/Bruce Wayne desta Era) e as edições #7 a 12 entre junho e setembro do mesmo ano. Há ainda uma particularidade sobre a datação desta segunda parte, mas falarei dela ao final da crítica.

A intenção de Andrew Helfer em criar uma história cujo andamento fosse semelhante a Ano Um de fato foi bem pensada. O autor logrou espalhar pelas 12 edições da minissérie uma boa dose de surpresas, ações e detalhes sobre Gotham e sobre a relação entre Batman e Gordon no início da jornada do Cavaleiro das Trevas. A primeira parte da aventura ocorre durante um período de 3 semanas, onde vemos Bruce atormentado por pesadelos, culpa e conflitos entre sua ação como vigilante e como filho querendo desvendar e vingar a morte dos pais. Isso se torna ainda mais forte quando Summer Skye Simmonds entra em cena e se torna um caso amoroso de Wayne e detalhes do passado da poderosa família de Gotham são abordados.

O texto nesse primeiro momento é misto de suspense e legítimo drama de investigação. Gotham é ameaçada por um vírus mortal e Batman, ainda com pouco experiência (lembremos que é o início de seu segundo ano como vigilante), é engolido pelos eventos que envolvem Cary Rinaldi (The Carrier). Apesar de confusa, a história nos ganha rapidamente porque imaginamos que irá ser melhor desenvolvida nos números seguintes, o que é apenas uma verdade parcial.

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A Cara do Batman para Gordon é simplesmente impagável.

O problema é que são muitas ações acontecendo ao mesmo tempo e o corte narrativo de uma para outra é sempre rápido demais, dando pouco tempo para o leitor se familiarizar com determinados cenários ou situações. Basicamente temos Batman investigando o caso do vírus mortal; Bruce Wayne às voltas com pesadelos e tormentos psíquicos e completamente inseguro sobre assumir a diretora da Wayne Enterprises; Gordon tentando fazer o seu trabalho em parceria com Batman, e, por fim, pequenas janelas dramáticas como casos de corrupção na Wayne Enterprises, o caso das crianças piromaníacas e detalhes sobre a vida passada e presente de Cary Rinaldi.

De alguma forma, o leitor imagina que essa avalanche de eventos vá ganhar profundidade mais adiante, mas isso não acontece. Na edição #6, uma suposta e insossa resolução do caso central é dada, levando-nos para a edição #7, com um salto de quatro meses. Particularmente vejo a estrutura da história muitíssimo bem elaborada, mas o conteúdo que preenche essa estrutura é falho, porque se quer grandioso demais, com coisas demais em pauta, muitas vezes dando demasiada atenção para algo que, algumas edições à frente, não valerá de absolutamente nada.

Neste segundo bloco, a questão volta-se mais para Bruce Wayne e sua posição como diretor da empresa. Alguns personagens da primeira parte reaparecem como ideia de link (frágil, diga-se de passagem); uma tal de Sister Lailah é citada –- e ela ganhará um destaque tão absurdo e um enredo tão fraco que é difícil acreditar -– e Bruce vê seus tormentos do início da minissérie alçarem altos voos. Ele tenta matar alguém, se torna fugitivo e é internado clandestinamente no Asilo Arkham, onde encontra o Coringa, a grande surpresa das edições #11 e 12.

No início eu havia citado uma particularidade de datação para este bloco, e aqui vai ela. É citado na história que o Coringa se torna “médico” de Bruce por três meses. Se formos levar a citação ao pé da letra e não como um erro de contagem, exagero ou fala figurativa de Gordon, assumimos que Batman está fora de ação de meados de junho a meados de setembro de 1990. Dentro da linha do anos dois isso é possível, mas há quem prefira interpretar a fala como algo figurativo. Vai, portanto, da interpretação de cada leitor.

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Momento tenso com as crianças piromaníacas.

O desfecho dessa minissérie me lembrou muito o arco Descanse em Paz, de Grant Morrison e Tony S. Daniel, lançado dois anos depois, só que com um objeto de dominação mental diferente. Bruce, após um bom tempo sendo drogado e “tratado” pelo Coringa, quase o ajuda a cometer um crime utilizando um dedo virulento arrancado do finado Cary Rinaldi, uma tentativa de Helfer em fechar o ciclo. Obviamente, a impressão é de barra forçada.

A arte de Tan Eng Huat na minissérie é o único ponto constantemente interessante. O artista brinca com estilos diferentes para mostrar distintos pontos de vista, o que é interessante porque nos apresenta o grau de alteração mental de alguns personagens. Também é válido destacar o trabalho com perspetiva, ponto de fuga e profundidade de campo que ele realiza, especialmente nos quadros maiores, cheios de objetos ou personagens em ação. Os melhores momentos são os desenhos urbanos na crônica das crianças piromaníacas, os grandes quadros com o Batman e a excelente representação dos pesadelos de Bruce Wayne, com acertada escolha de cores (paleta reduzida a preto, branco e vermelho) e crescente dose de horror nas faces.

A Jornada do Cavaleiro das Trevas possui inúmeros bons momentos e tem uma ideia geral de enredo extremamente interessante. Todavia, a constante alteração do objeto central da trama ou a fraca/insatisfatória ligação entre cada bloco de histórias acabaram por nos deixar uma impressão final bastante amarga. A trama é válida pelo conhecimento que nos traz da relação de Bruce com o pai e como ele, desde cedo, se viu obrigado a buscar controle além de seu corpo, de sua mente, uma lição que já deveria ter aprendido em Xamã e que aqui se torna, para ele, uma necessidade vital. Se almejava combater loucos, era hora do Batman saber como não se tornar um louco também.

Batman: Journey Into Knight (EUA, 2005 – 2006)
Minissérie em 12 edições
Roteiro:
Andrew Helfer
Arte: Tan Eng Huat
Cores: David Baron
Páginas: 24 (cada número)

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