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Crítica | Batman & Drácula – Chuva Rubra

por Ritter Fan
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estrelas 5,0

De todos os Elseworlds com Batman, a trilogia Batman & Drácula, iniciada com Chuva Rubra, de 1991 e escrita por Doug Moench e desenhada por Kelley Jones é uma de minhas preferidas. É claro que o “fator cool” de simplesmente ter o “homem que acha que é um morcego” lutando contra o verdadeiro, clássico e definitivo “homem morcego” conta muito, mas a grande verdade é que o trabalho de Moench vai bem além de uma luta entre esses dois personagens icônicos.

Primeiro, há a preocupação de situar Batman, muito claramente, em outro mundo (ou Terra, ou dimensão, chamem do que quiser – a DC chama de Terra-43, só para referência), para permitir total liberdade narrativa, longe dos grilhões da continuidade. E essa liberdade narrativa não levou Moench ao caminho mais fácil, apenas permitindo que ele esquecesse a continuidade. Ele foi além, com a impressionante arte de Kelley Jones literalmente recriando Gotham City, Bruce Wayne, Alfred e o Comissário Gordon. O visual gótico da cidade, que aprendemos a apreciar, ganha outro significado aqui, com a história passando-se nos dias atuais, mas, anacronicamente, trazendo elementos de cidades medievais europeias. A Mansão Wayne é um castelo, a prefeitura é uma espécie de forte e até mesmo, no clímax, Jones se inspira na Catedral da Sagrada Família, arquitetada por Gaudí e ainda em construção em Barcelona para emprestar à cidade elementos verdadeiramente apavorantes.

E, indo além, a arte trabalha até em elementos normalmente imutáveis na mitologia de Batman, como a aparência física de Bruce Wayne. Em Chuva Rubra, ele tem rosto completamente diferente do que vemos por aí, causando até estranhamento em um primeiro momento. Alfred continua fundamentalmente igual, mas Jones empresta traços caricatos ao fiel mordomo da família Wayne.

Claro que a grande inovação da história (daí a necessidade absoluta de ela ser um Elseworld) é a transformação de Batman em um vampiro. Por meio de sonhos sensuais, a vampira Tanya se aproxima de Wayne em seu leito para, ao longo do tempo, convertê-lo em desmorto. A narrativa de Moench se inspira fortemente no original e ainda melhor obra sobre vampirismo – Drácula, de Bram Stoker – nessas sequências e não corre com a narrativa. Logo quando isso começa a acontecer e Wayne afasta o ocorrido como um mero sonho, o leitor ainda tem esperanças de que isso não está acontecendo de verdade. Na medida em que a história progride, porém, aquilo que não esperamos – e, lá no fundo, talvez não queiramos, por sermos puristas – acaba mesmo acontecendo e novamente Moench nos faz aceitar algo improvável de maneira natural, com o Morcego literalmente se transformando em um sanguessuga para ter alguma chance na luta contra Drácula e seu plano de dominação total da cidade.

Tenho para mim que isso só funciona realmente graças à arte de Jones, que propositalmente foge ao “padrão da indústria”, criando uma espécie de “capa viva” para Batman e uma anatomia mais esguia e poderosa ao Homem Morcego. Ver Batman voando por uma Gotham verdadeiramente gótica atrás do Senhor dos Vampiros é incrivelmente prazeroso e a narrativa de Moench é redonda, bem trabalhada na criação de tensão, dúvidas e com um desfecho redondo, que, em princípio, não exigiria qualquer continuação (mas, como disse antes, elas existem).

Se você ler um Elseworld de Batman, leia Batman – O Cavaleiro das Trevas. Se ler dois, tenha certeza de que será Chuva Rubra.

Batman & Dracula: Chuva Rubra (Batman & Dracula: Red Rain, EUA)
Roteiro: Doug Moench
Arte: Kelley Jones
Cores: Les Dorscheid
Publicação (nos EUA): DC Comics, em 1991
Publicação (no Brasil): Editora Abril (originalmente em 1992)
Páginas: 97

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