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Crítica | Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge

por Rafael W. Oliveira
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Depois do feito alcançado por Christopher Nolan em Batman – O Cavaleiro das Trevas, a principal indagação era: seria o diretor capaz de realizar algo melhor ou quase tão bom quanto aquele filme? O fim da trilogia nos traria novamente um vilão tão marcante e inesquecível como o Coringa de Heath Ledger? Durante muito tempo, tais dúvidas pairaram na mente daqueles que aguardavam ansiosos o desfecho da trilogia de Nolan para o Homem Morcego, que até aquele momento, recebia uma aclamação quase unânime do público e da crítica. Nolan nos prometia um desfecho épico, e era justamente por isto que todos ansiavam.

Nestes termos, pode-se dizer que Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge é um encerramento absolutamente feliz para a trilogia, uma vez que sua grandiosidade, especialmente em termos visuais, nos salta aos olhos já nos primeiros minutos, com uma espetacular e muitíssimo bem filmada sequência envolvendo o sequestro e a destruição de um avião. Nesta sequência, já nos deparamos com o vilão da vez, o imponente Bane (Tom Hardy), que com seu físico intimista e voz alterada, nos causa uma desconfortável sensação de ameaça.

Já em termos emocionais, O Cavaleiro das Trevas Ressurge fica abaixo do que era esperado. Novamente, Nolan demonstra a mesma preocupação com seus personagens e a construção dos mesmo, o que é algo extremamente benéfico, especialmente para os novos rostos, como o jovem policial John Blake (Joseph-Gordon Levitt), a vigarista Selina Kyle (Anne Hathaway) e a filantropa Miranda Tate (Marion Cotillard). Entretanto, Nolan se deixa misteriosamente levar pelos excessos, e acaba criando uma obra extensa além do necessário, deveras pretensiosa em certos momentos, e com o roteiro de Christopher ao lado de seu irmão, Jonathan, tomando liberdades que acabam por quebrar o forte tom de realismo pregado pelos primeiros filmes. De fato, O Cavaleiro das Trevas Ressurge é o capítulo mais problemático e descuidado da trilogia.

Mas se você pensa que tais empecilhos foram capazes de diminuir a força da obra, enganou-se.

Pois O Cavaleiro das Trevas Ressurge é um filme que cumpre o que promete desde o início. As expectativas o prejudicaram, sem dúvidas, mas não a ponto de cegar o público para os méritos do filme, que não são poucos. Embora bastante dependente dos filmes anteriores (especialmente de Batman Begins, com o qual constrói diversas pontes), O Cavaleiro das Trevas Ressurge é um filme de densidade própria e dono de um sentimento singular. Por mais que algumas escolhas de Nolan soem duvidosas, é possível notar a firmeza e o pulso forte de alguém que sabe o que está fazendo. Há erros e incoerência, mas é de se admirar a coragem de Nolan em se arriscar justamente no encerramento de uma trilogia que, indubitavelmente, já se tornou referência em meio as adaptações de super-heróis.

A começar pelo número de personagens, consideravelmente maior. Muitos rostos passeando pela tela já prejudicaram diversos filmes, e neste momento, lembro imediatamente de Homem-Aranha 3, onde a salada de personagens do filme de Sam Raimi acabou criando uma bagunça dentro do próprio roteiro do filme. Embora isto leve o filme a ter uma duração longa demais (são cerca de 164 minutos), O Cavaleiro das Trevas Ressurge nos traz personagens muito bem delineados, apresentados de maneira correta e sem pressa, o que nos permite conhecer mais intimamente cada uma de suas personalidades, sejam dos rostos novos ou dos já conhecidos.

Como o título original sugere, O Cavaleiro das Trevas Ressurge é sobre a ascensão do homem morcego após o mesmo ter assumido a culpa pela morte de Harvey Dent (Aaron Eckhart) no filme anterior. Após oito anos recluso, Bruce Wayne (Christian Bale) se vê novamente obrigado a vestir o uniforme e a capa quando uma nova ameaça surge em Gothan City, o maníaco Bane (Hardy), que transformar Gotham em cinzas, ao mesmo tempo que novas presenças cruzam o caminho de Bruce, entre elas a ladra Selina Kyle (Hathaway) e a altruísta Miranda Tate (Cotillard).

Se voltarmos com as comparações, não, O Cavaleiro das Trevas Ressurge em nenhum momento supera o filme anterior, embora, como já dito, seja um filme de méritos próprios. É algo que pode ser visto, principalmente, na figura de Bane, que apesar de não ser tão fascinante ou complexa quanto a loucura de Coringa, ganha méritos por carregar um ar extremamente ameaçador e impactante, um feito alcançado graças ao trabalho do ator Tom Hardy, que com boa parte do rosto coberto, faz uso de sua postura física e olhares intimistas como principal arma para enxergarmos Bane como uma verdadeira ameaça física para o homem morcego, o que funciona como um contraponto ideal ao Coringa. E por mais que muitos tenham reclamado da artificialidade na voz de Bane (que de início incomoda), nada consegue ser pior do que o Bane mudo e estapafúrdio que vimos no desastre de Joel Schumacher conhecido como Batman & Robin. O roteiro é bastante eficaz em nos permitir criar um interesse gradativo pela figura de Bane, embora lá pelas tantas Nolan cometa o misterioso deslize de diminuir a importância de Bane dentro da trama, embora isto não diminua seus méritos como antagonista.

Já Bruce Wayne, após perder boa parte da atenção no filme anterior, volta a receber a devida atenção do roteiro, que aprofunda o personagem em sua melancolia e conflitos internos. O Bruce Wayne de Nolan é maravilhosamente humano, um sujeito que faz uso de sua raiva como mote para buscar a justiça, mesmo que isto o obrigue a tomar decisões que afetarão continuamente sua vida, distanciando-o de uma vida normal. E Christian Bale mais uma vez nos surpreende com sua composição ideal para o personagem, que nos convence tanto como o galã excêntrico e bilionário como o homem por trás da máscara sedento por justiça.

Joseph-Gordon Levitt, como o policial John Blake, demonstra uma notável segurança em uma interpretação que comprova o amadurecimento de Levitt como ator, quebrando a imagem que muitos cultivaram sobre sua pessoa desde (500) Dias com Ela. Seu paralelo com Bruce Wayne, apesar de clichê, não deixa de ser válido, ao mesmo em que nos dá uma pista sobre a pequena surpresa envolvendo seu personagem; Anne Hathaway sai do conformismo das comédias românticas e se entrega na pele de Selina Kyle, uma personagem repleta de dubiedade e sensualidade, características estas muito bem captadas pela atriz; Michael Caine, apesar da curta aparição, mais uma vez surge digno de aplausos na pele do mordomo Alfred, protagonizando dois dos momentos mais tocantes do filme; Gary Oldman, apesar da aparente perda de importância, retorna em boa forma como o comissário James Gordon; já Morgan Freeman e Marion Cotillard, infelizmente, acabam sendo os mais prejudicados. O primeiro por não possuir nenhuma função realmente relevante na trama (embora seja sempre um prazer ver Freeman em ação), e a segunda por receber um tratamento extremamente inadequado por parte do roteiro, que não apenas lhe concede uma reviravolta estúpida e mal idealizada, mas acaba colocando uma atriz do nível de Cotillard em meio a situações e diálogos, no mínimo, vergonhosos.

Aliás, boa parte deste sentimento de vergonha alheia se origina justamente na misteriosa decisão de Nolan em fazer deste o filme mais “mastigadinho” da trilogia, com detalhes dos planos dos vilões sendo detalhadamente exibidos, onde até mesmo antagonista encontra tempo para explicar, tintim por tintim, seus motivos para destruir Gotham City. Entende-se que tal abstração de Nolan do realismo (e, mais uma vez, é visível que Nolan sabia o que estava fazendo) surge como uma espécie de referência interna ao famoso seriado dos anos 60 estrelado por Adam West (assim como uma tentativa de desforrar aqueles que o acusavam de se distanciar demais dos quadrinhos), mas tal escolha acaba mais por prejudicar o andamento da trama do que beneficiar, embora, repito, a coragem de Nolan em tomar tais decisões seja admirável.

Mas o diretor nos compensa com mais um trabalho de direção firme, seguro, onde Nolan demonstra um antes desconhecido controle sobre a grandiosidade visual da obra. Sendo o mais gráfico da trilogia, Nolan concede ao seu filme o nível de grandiosidade correto, sem precisar que a adrenalina e o fascínio visual se sobreponham a necessidade de contar a história, o que Nolan o faz muito bem. Três sequências, em especial, merecem destaque: a já comentada abertura, o impactante primeiro confronto entre Bane e Batman, e a surpreendente cena das explosões na cidade, com Nolan demonstrando um total domínio sobre a câmera, algo privilegiado pelo excelente trabalho de edição.

O Cavaleiro das Trevas Ressurge decepcionou a muitos, é verdade. Mas, mesmo diante de seus visíveis problemas, há trunfos que compensam, e Nolan fechou sua trilogia como havia prometido desde o início: com um sentimento épico de que os filmes de super-heróis, após sua era, jamais seriam os mesmos.

Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rises, EUA, 2012)
Roteiro: Jonathan Nolan, Christopher Nolan
Direção: Christopher Nolan
Elenco: Christian Bale, Tom Hardy, Liam Neeson, Joseph-Gordon Levitt, Anne Hathaway, Gary Oldman, Aidan Gillen, Juno Temple, Marion Cotillard, Morgan Freeman, Michael Caine, Matthew Modine, Cillian Murphy
Duração: 164 min.

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