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Crítica | Batman – O Homem Que Ri

por Luiz Santiago
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estrelas 4

Nos vários contos que fazem parte de Batman #1 (1939), temos dois protagonizados pelo Coringa. Nesse primeiro enfrentamento entre o Palhaço o Batman, uma sequência de roubo de diamantes e mortes misteriosas de grandes magnatas de Gotham City estão no cardápio, exatamente como na revisão feita para a história de Bill Finger, realizada por Ed Brubaker em 2005 e intitulada O Homem Que Ri.

A diferença é que Brubaker teve a difícil tarefa de fazer essa revisão com base em uma longa mitologia escrita através dos anos, além de ter como ícones passados o clássico A Piada Mortal (a gênese do Coringa) e o ponto específico da cronologia do Batman onde a história deveria se enquadrar, o Ano Um.

Dadas essas exigências, o roteirista precisou se desdobrar em diversos sentidos narrativos e de concepção. Primeiro, porque ele tinha como meta não aludir à obra do gigante Alan Moore. Por outro lado, não era possível ignorar a essência do que o bruxo britânico escrevera, sendo necessário então chegar a um meio termo entre uma “não-continuação” e “não-traição” da piada mais mortal já contada na saga do Morcegão. A tarefa, obviamente, não era fácil, mesmo que Brubaker não tivesse aspirações de fazer sua história um clássico.

Já a parte que envolve o tempo em que a trama acontece, o problema foi menor, mas que cobrou bastante do roteirista um ritmo e uma abordagem precisos. Era preciso levar em consideração a posição de Gordon recentemente promovido; o fato de que Gotham parece não estar plenamente acostumada com o Homem Morcego; e principalmente, o modelo de ação investigativa do Batman. Todos esses pontos deveriam obedecer o contexto do primeiro ano do Morcego. E a despeito de todas as adversidades conceituais, Ed Brubaker realiza um trabalho muito interessante.

A loucura do Coringa em tão pouco tempo, passando de Capuz Vermelho para um vilão que a mídia logo dá um propício nome é algo que convence o leitor, porque jamais nega os percalços psicológicos em torno da transformação. Todavia, o autor acrescenta elementos sociais e políticos até, que marcam as motivações assassinas do vilão. Um ponto interessante é que na primeira versão (a já citada história de Batman #1, 1939), a atitude do Coringa era menos violenta e até menos caótica. Em O Homem Que Ri, ele aparece como um vilão sem limites éticos ou morais, atirando em quem bem entende, por pura vonta ou como parte de um protocolo que só ele entende.

O ponto não explicado é o veneno, mas isso não negativiza a história, porque a verdadeira importância está em outros lugares e estes sim são bem desenvolvidos.

Como um acréscimo a essa realidade caótica, temos a arte de aparência suja de Doug Mahnke, com seus quadros de ação destacando a carnificina e tendo até uma lembrança de horror, especialmente em ambientes noturnos. A diagramação é pouco inventiva, mas os desenhos e a finalização dão a impressão de que tudo não passa de um relatório policial sem cortes, expondo passo a passo e com requinte de detalhes os primeiros passos do demoníaco palhaço de Gotham.

Tendo como base o filme de Paul Leni, de 1928 (que por sua vez teve como base a obra homônima de Victor Hugo), O Homem Que Ri é uma história essencial sobre o Batman, um detalhe sombrio e elucidativo que acompanha os seus alguns de seus primeiros passos e seu primeiro enfrentamento – nessa nova fase – com o seu vilão por excelência.

Batman – O Homem Que Ri (Batman: The Man Who Laughs) — EUA, 2005
Roteiro: Ed Brubaker
Arte: Doug Mahnke
Cores: David Baron
Letras: Rob Leigh
Capa: Doug Mahnke, David Baron

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