Home FilmesCríticas Crítica | Batman: O Longo Dia das Bruxas – Parte Dois

Crítica | Batman: O Longo Dia das Bruxas – Parte Dois

por Ritter Fan
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A decisão de adaptar a HQ clássica de um Batman em começo de carreira, escrita Jeph Loeb e desenhada por Tim Sale, supostamente para inserir o máximo possível da história no que acabou sendo algo como três horas de animação, acabou sendo um tiro no pé. Se a Parte Um, que estabelece as bases para o desfecho visto aqui já havia sido parada demais, subserviente demais ao material de origem para realmente funcionar, a Parte Dois naturalmente continua cometendo os mesmos erros, ainda que, claro, também consiga manter o que de positivo havia no começo.

Da mesma forma que a primeira parte, a segunda mantém a atmosfera de uma Gotham atemporal, mas com pegada de “anos 30” para fazer a transição da carreira do Homem-Morcego de vigilante que lida com vilões “normais” para super-herói que precisa enfrentar uma quadrilha de insanos super-vilões, o que é toda a proposta original da HQ. O trabalho de voz, nesse processo, também é excelente, valendo destaque para Jensen Ackles como o Batman, Naya Rivera como Mulher-Gato e Josh Duhamel como Harvey Dent, ainda que todo o elenco tenha sido muito bem escolhido e tenha se esmerado em belas performances.

O problema está mesmo na lentidão da narrativa, com o roteiro de Tim Sheridan teimando em manter-se fiel à graphic novel e ainda acrescentando elementos novos aqui e ali que não ajudam realmente na coesão narrativa. O Longo Dia das Bruxas pode funcionar muito bem nas páginas dos quadrinhos – e realmente funciona -, mas uma transposição como essa para o audiovisual simplesmente exigia um exercício de concisão para evitar o esgarçamento de linhas narrativas que acaba tornando grandes eventos, como a transformação final de Dent no Duas-Caras, em apenas mais outro momento perdido em um mar de textos expositivos, explicativos e reveladores que giram em torno do passado da  família Wayne e sua relação com os Falcone, quem afinal é – ou não é – o vilão Feriado e até mesmo o parentesco de Selina Kyle.

E há ainda um agravante na Parte Dois. O que antes eram interrupções abruptas e quase aleatórias da narrativa com a galeria de vilões do Batman surgindo do nada para fazer o que fazem e, depois serem descartados – como a sequência do ataque do Coringa (Troy Baker) com um avião – tornaram-se partes integrantes da narrativa principal, como, por exemplo, Hera Venenosa (Katee Sackhoff) trabalhando para Carmine Falcone (Titus Welliver) para fazer Bruce transferir alguns bens para o conglomerado de Carmine ou a aliança de Duas-Caras com Solomon Grundy (Fred Tatasciore) e, pior ainda, com os demais grandes vilões em outro momento completamente diluído e mal aproveitado. E sim, eu sei que os bandidos coloridos do Homem-Morcego também aparecem de maneira substancialmente semelhante na HQ, mas, como eu disse, o que funciona nas páginas impressas nem sempre ganha eco no audiovisual sem uma adaptação verdadeira.

Com isso, a vilania espalhafatosa dos quadrinhos do Batman, mesmo considerando a fotografia escurecida do longa que impede exageros, não combina de verdade com a pegada mais realista que a história-macro estabelece com todos os detalhes possíveis na Parte Um. A impressão que dá é que o roteirista não só queria em tese respeitar demasiada e desnecessariamente a obra base, como recebeu instruções para tornar o longa mais completamente reconhecível pelo público em geral (ou seja, os não leitores de quadrinhos), obviamente pouco acostumado em ver o Morcegão lutando contra o crime organizado humano e sem superpoderes.

Não que os vilões clássicos não devessem aparecer, mas é que eles parecem cair de paraquedas aqui, sem nenhuma organicidade dada à forma como eles são introduzidos. Hera Venenosa abre o filme de maneira triunfal, para somente ser descartada em seguida, reaparecendo ao final, com o Espantalho (Robin Atkin Downes) e o Chapeleiro Maluco (John DiMaggio) também funcionando como minions aleatórios de Falcone, além do uso do Pinguim (David Dastmalchian) e do Coringa, por exemplo, chega a ser patético, já que eles não são mais do que extras quase que completamente sem falas (acho que Cobblepot nem fala tem) que parecem existir unicamente por fan service e para “preencher” os quadros da animação em uma sequência de ação de qualidade e necessidade duvidosa.

E isso acaba detraindo do drama principal que gravita ao redor de Harvey Dent e sua esposa Gilda e também atrapalha a parceria da Mulher-Gato com o Batman, quase que criando capítulos que a direção de Chris Palmer não consegue costurar muito bem em um longa que é esteticamente muito bonito, com bons trabalhos de animação e voz, mas muito claramente quase duas vezes mais longo do que deveria ser. Chega a ser frustrante ver uma história tão boa ganhar uma adaptação tão… meramente comum…

Batman: O Longo Dia das Bruxas – Parte Dois (Batman: The Long Halloween – Part Two – EUA, 27 de julho de 2021)
Direção: Chris Palmer
Roteiro: Tim Sheridan (baseado em obra de Jeph Loeb e Tim Sale)
Elenco: Jensen Ackles, Naya Rivera, Josh Duhamel, Billy Burke, Alastair Duncan, Julie Nathanson, Katee Sackhoff, Titus Welliver, Laila Berzins, David Dastmalchian, Zach Callison, John DiMaggio, Robin Atkin Downes, Fred Tatasciore
Duração: 87 min.

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