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Crítica | Batman: O Messias

por Guilherme Coral
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estrelas 5,0

Escrito por Jim Starlin, O Messias nos traz a trama que serviu de base para alguns elementos vistos em O Cavaleiro das Trevas Ressurge. Além disso, contudo, a minissérie trabalha em cima do conceito do vigilante nos questionando, mais uma vez, os efeitos das ações de Batman em Gotham. Com apenas quatro edições estamos diante de uma história bem conduzida e fechada em si mesma, não requerendo muito conhecimento prévio das aventuras do Homem-morcego.

A trama tem início com uma espécie de sonho ou alucinação de Wayne. Ele imagina a morte do coringa pelas suas mãos, como uma espécie de perda de controle, acesso de fúria. Aqui, Starlin, já insere um dos principais pontos de sua narrativa, colocando em cheque as ações do vigilante mascarado até então. Batman então acorda e se vê preso no esgoto, cercado por moradores de rua. Logo ele descobre estar no meio de um tipo de culto que visa acabar com a injustiça e a criminalidade em Gotham, porém com ações mais violentas que o Morcego. “Quantas vezes os criminosos capturados por você se viram livres por tecnicalidades?” – indaga o líder do grupo, Joseph Blackfire.

Enquanto essa lenta persuasão de Bruce procede acompanhamos, através de flashbacks e mudanças de perspectiva, os estranhos eventos que ocorrem em Gotham. Da desaparição de centenas de moradores de rua (que formam o culto de Blackfire) à diminuição da criminalidade vemos um efeito similar à primeira chegada do Homem-morcego na cidade, com as reações dos cidadãos sendo levadas em conta. A causa de Joseph, porém, não é tão nobre quanto aparenta e logo descobrimos fazer parte de um esquema para dominar a cidade.

Com crueza e violência, Starlin compõe sua história, trazendo interessantes questionamentos à mesa. A lavagem cerebral empregada em Wayne é um dos pontos altos da história, conduzida de forma orgânica a fim de não parecer da água para o vinho. Chegamos a nos perguntar se os métodos de Joseph não são mais eficazes da mesma forma que o protagonista. Com o traçado de Bernie Wrightson o herói ainda parece atingir uma gradual loucura, como se sua mente realmente estivesse se quebrando aos poucos. Ao mesmo tempo, contudo, a arte coloca em cheque a violência empregada pelo Culto ao trazer retratações explícitas de seus métodos brutais, firmando ainda mais a instabilidade psicológica do vigilante mascarado.

O uso das cores se representa altamente simbólico desde os primeiros quadros, ilustrando as mudanças emotivas de cada personagem. Essa funcionam também para diminuir a confusão do leitor com as constantes mudanças de ponto de vista, utilizando tonalidades diferenciadas a cada transição. Como em O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller, temos constantes focos em noticiários que ajudam a construir o clima da obra como um todo, além de manter uma notável fluidez ao funcionarem como elipses para o que ocorre com o herói nas mãos do Culto.

Batman: O Messias nos traz uma interessante desconstrução do Homem-morcego e uma abordagem mais humana ao herói, ao passo que sua maior arma, o intelecto, é colocada em cheque. Uma história que progride forma orgânica e um carismático vilão, Jim Starlin constrói uma excelente história do vigilante mascarado, que merece ser lida e relida tanto por sua narrativa quanto pelas fortes imagens que a ilustram.

Batman: O Messias (Batman: The Cult) – EUA, 1988
Roteiro: Jim Starlin
Desenhos: Bernie Wrightson
Editora: DC Comics
Editora no Brasil: Editora Abril
Páginas: 208

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