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Crítica | Batman Vs. Bigby! Um Lobo em Gotham

Era uma vez um morcego e um lobo...

por Ritter Fan
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Não tenho dados estatísticos para provar minha afirmação, mas desconfio fortemente que, em todos esses anos de indústria vital, nunca houve tanta ressuscitação de obras já encerradas como nos últimos anos, quando a corrida do streaming realmente tomou corpo. O engraçado – ou não tão engraçado, dependendo de que como encaramos o fenômeno – é que isso reflete, também, em outras mídias, como nos quadrinhos, com Jeff Lemire e Garth Ennis trazendo Sweet Tooth e The Boys de volta, isso só para citar dois exemplos recentes, e com Bill Willingham, criador da excepcional HQ Fábulas, do finado selo Vertigo, também embarcando nesse trem com o anúncio da continuação de sua série principal em 2022, depois que a 150ª edição foi publicada em 2015.

O crossover em seis edições entre os universos de Fábulas e DC Comics, portanto, vem como um tira-gosto, uma preparação para o retorno efetivo da série, algo que tenho dúvidas se era realmente necessário. E é claro que os protagonistas dessa reunião simplesmente tinham que ser Bigby, o Grande Lobo Mau, representando os personagens de contos de fadas e Batman, o Homem Morcego, representando o universo de quadrinhos principal da editora. E quando digo universos, no plural, quero dizer isso mesmo, pois, ainda bem, a escolha editorial, aqui, foi manter os dois separados – mas parte do multiverso, logicamente, pois tudo faz parte do multiverso – e transportar Bigby para a Gotham City que conhecemos em sua procura por um poderosíssimo livro mágico que foi roubado de sua Terra.

Como é obrigatório em histórias assim, tudo começa com Batman e Bigby como inimigos, o que abre oportunidades para a pancadaria entre os dois, depois uma reunião hesitante entre os heróis contra um vilão em comum que, claro, manipulou tudo de forma a colocar um contra o outro e, no final, o encerramento que todo mundo poderia esperar, sem surpresas e sem maiores pretensões. Em outras palavras, não há absolutamente nada de novo aqui a não ser, claro, o primeiro (e não me importarei se for o último) pareamento entre os dois icônicos personagens em uma história cheia de sangue para justificar sua inserção no selo DC Black Label, pois, aparentemente, violência é tudo o que faz com que uma história seja “inapropriada” para menores de 17 anos.

O crossover em questão, portanto, era algo fácil de fazer. Não era necessário grandes esforços ou complexidades para colocar Bigby na mira do Batman e vice-versa e a história do roubo do livro mágico e a fusão de um vilão de 15ª categoria do Batman com um vilão conhecido, mas em tese surpresa do mundo das Fábulas funciona justamente assim, para criar o palco narrativo previsível e raso para a “rangeção” de dentes de um lado a outro dos heróis que acabam se engalfinhando. O problema é que Willingham não consegue encontrar o tom de sua história ou mesmo a voz do Batman e, surpreendentemente, também a de Bigby, sua própria criação. Muito ao contrário, o que ele acaba fazendo é emprestar a eles diálogos bobalhões, metidos a engraçados e a ousados (se é que posso chamar o que li de ousado) que fazem muito mais para descaracterizar os personagens do que para criar algo minimamente relacionável.

Não ajuda em nada o exército de Robins que Batman agora tem a seu dispor (não leio as mensais do Batman há muito tempo e foi a primeira vez que vi isso e, ainda que, pragmaticamente, essa estratégia faça sentido, ela é ridícula em tantos níveis que nem vou me alongar nisso por pura preguiça…) e que ficam como coadjuvantes de luxo a seu redor, só aparecendo quando necessário e, temos que combinar, eles nunca realmente são necessários. Chega a ser patético ver Dick Grayson de volta a seu codinome original e sendo caracterizado como um sujeito que tem como única função gritar com seus pupilos na “Academia Robin” ou impedir que seus colegas interfiram em um conflito do chefe, por ele saber que o Batman sempre tem algo explosivo (literalmente) na manga para escapar das maiores enrascadas. Willingham, portanto, sucumbe ao famoso “roteirismo” e faz de Batman um herói invencível sem graça, algo em que seu próprio Bigby acompanha, já que o Lobo Mau perde todo seu jeitão de detetive noir e passa a ser não mais do que um monstro igualmente invencível.

Eu tinha esperanças de que pelo menos a arte de Brian Level e Jay Leisten, com cores de Lee Lougridge, elevasse a história a algo que poderia ser classificado como forma sobre substância. Mas nem isso a trinca consegue. No máximo dos máximos, há uma tentativa constante de manter a novidade visual, com divisões “diferentonas” das páginas, criando bonitos mosaicos temáticos que, porém, no final das contas, acabam sendo exercícios fúteis que chamam mais atenção a si mesmos do que algo que artisticamente estabeleça o tom da história ou que realmente funcione narrativamente. E, como se isso não bastasse, as feições de Bigby e de Batman, sempre de bocarras abertas berrando um com o outro são cansativas e feias demais, como se literalmente Level estivesse querendo “ganhar no grito” e mostrar o quanto ele consegue ser “radical”, assim mesmo entre aspas, algo que a desnecessária exclamação no título já tenta denotar…

Batman Vs. Bigby! Um Lobo em Gotham, em termos conceituais, era algo tão óbvio e tão fácil que chega a ser inacreditável que Willingham tenha conseguido errar tanto. A história de dois personagens sombrios e icônicos de universos diferentes reunidos pela primeira vez tinha que pelo menos resultar em diversão e não, muito ao contrário, em irritação do começo ao fim. Se eu já não estava muito feliz com o anúncio da ressuscitação de Fábulas, por considerar mais um daqueles movimentos desnecessários, agora estou é com receio mesmo se esse crossover aqui for alguma indicação da qualidade do que está por vir…

Batman Vs. Bigby! Um Lobo em Gotham (Batman Vs. Bigby! A Wolf in Gotham – EUA, 2021/22)
Contendo:
Batman Vs. Bigby! A Wolf in Gotham #1 a 6
Roteiro: Bill Willingham
Arte: Brian Level
Arte-final: Jay Leisten
Cores: Lee Loughridge
Letras: Steve Wands
Capas: Yanick Paquette
Editoria: Maggie Howell
Editora original: DC Comics (DC Black Label)
Data original de publicação: 28 de setembro de 2021 a 22 de fevereiro de 2022
Páginas: 151

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