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Crítica | Batman/The Flash: O Bóton

por Luiz Santiago
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SPOILERS!

A história, escrita por Tom King (corrente roteirista da revista do Batman) e Joshua Williamson (corrente roteirista da revista do Flash) é uma preparação para a minissérie Doomsday Clock, mas não necessariamente uma leitura obrigatória. Ela serve mais como adequação de Universos e também como resolução de algumas dúvidas, fugindo sabiamente de novas complicações para a imensa bagunça que é a cronologia da DC.

A trama continua com uma intenção simples: investigar o button smile do Comediante a partir de dois pontos de vista, o analítico do Velocista Escarlate e agressivo e pragmático do Cavaleiro das Trevas. Com métodos diferentes de trabalho, mas ambos pessoalmente afetados pelas forças de mudanças no tempo, era de se esperar que os dois seriam escolhidos para encaminhar essa nova fase. E por mais herético que tudo isso seja com a obra original de Alan Moore e Dave Gibbons, é inegável que (ao menos até aqui) tem havido um respeito e um bom uso dos elementos da clássica história. Eu ainda preferia que ela tivesse sido deixada em paz e não tivesse continuação ou desdobramentos a longo prazo. Mas confesso que o começo do uso de Watchmen para tentar dar algum sentido ao caos da DC de 2011 para frente tem sido muito interessante.

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Painéis de 9 quadros, aplicação alternada de cores e homenagem a “Terrível Simetria.

Os encontros empreendidos pelo roteiro deixam claro que o Dr. Manhattan segue mexendo com algumas coisas ou impedindo que os personagens cheguem à verdade. Mas a investigação avança. Do ponto de vista de estabelecimento de estratégias, a trama funciona bem mais na revista do Batman porque Tom King consegue estruturar melhor as muitas variáveis em jogo. Porém, mesmo entregando um texto aquém do colega, Joshua Williamson não chega a colocar a trama a perder. Sua tendência para o drama, por exemplo, logra estruturar um final perfeitamente adequado à situação, insinuando também o retorno da Sociedade da Justiça da América com a aparição de Jay Garrick na Força de Aceleração, ajudando Barry e Bruce a partir de um flerte trágico com O Flash de Dois Mundos. Embora utilize o mesmo caminho da relação Barry-Wally, o conceito ainda é rico e prova que tem bastante coisa para apresentar. E ainda na esteira de confusões momentâneas temos a angustiante participação de Johnny Thunder (agora na casa dos 90 anos e internado em um hospital) e a misteriosa presença da máscara do Pirata Psíquico fazendo contato com o botão ensanguentado do Comediante, indicando relações que ainda não estão claras mas são fortes o bastante para empolgar qualquer leitor.

A arte de Jason Fabok em Batman #21 é a melhor coisa de todo o arco. A homenagem que ele faz a Watchmen e o texto urgente de Tom King formam uma dupla perfeita de ocorrências narrativas. Já Howard Porter aposta mais no espetáculo da velocidade e se sai bem, tanto nos desenhos quanto na finalização que cabe como uma luva ao Universo do Flash, sempre em mudança, sempre abalado ou parcialmente desfocado pela velocidade. Na parte final da história, quando algumas pontas de sagas anteriores são surpreendentemente amarradas pelo roteiro (antes tarde do que nunca, não é mesmo?) e o tempo começa a se comportar de uma maneira diferente, as cores e a finalização novamente se destacam, não exagerando na dispersão de pessoas/Universos através de absurdos focos de luz (viu, Zero Hora?) e nem perdendo a identidade visual à medida que a viagem desacelera e novos elementos são acrescentados à trama (Thomas Wayne da timeline de Flashpoint, Flash Reverso e Jay Garrick, por exemplo). E o melhor de tudo isso são as questões pessoais de cada um dos dois heróis, aqui mantidas e bem desenvolvidas, tanto no texto quanto na arte.

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Um Epílogo feito para não deixar dúvida nenhuma do que vem pela frente.

The Button é um arco que nos introduz definitivamente às mudanças causadas pelo Dr. Manhattan no Universo DC. É muito importante que o leitor tenha em mente que existem migalhas de informações espalhadas por diversas revistas do DC Rebirth, mas este é o primeiro tratamento oficial que o tema tem nas publicações mensais. O único ponto fraco do arco é a colocação do Flash Reverso, que parece ter uma missão bem mais interessante no início, mas está aqui “apenas” para seguir se gabando pelo fato de ter “morrido e revivido” diversas vezes, além de fazer provocações a Barry, algumas delas já enjoativas (embora cruéis) de tanto que apareceram nas revistas da DC desde Flashpoint.

Cheio de ótimos conceitos de viagem no tempo, bom uso dos dois heróis protagonistas e de linhas alternativas (além da própria localização desses e de outros eventos na linha do tempo atual da DC) este arco é um mar de calmaria necessário antes de as coisas enlouquecerem mais uma vez. Já era tempo de a DC se propor fazer algum conserto, explicação ou justificativa espaço-temporal sobre suas publicações sem tornar ainda mais incompreensível o que já não se compreendia. Parece que um certo Azulão (e não aquele que você está pensando) realmente faz milagres…

Batman/The Flash Rebirth: The Button (Renascimento) — EUA, 2017
Contendo:
Batman #21 e 22 + The Flash #21 e 22
Roteiro: Tom King (Batman), Joshua Williamson (The Flash)
Arte: Jason Fabok (Batman), Howard Porter (The Flash)
Cores: Brad Anderson (Batman), Hi-Fi Design (The Flash)
Letras: Deron Bennett (Batman), Steve Wands (The Flash)
Capas: Jason Fabok, Brad Anderson
Editoria: Mark Doyle, Rebecca Taylor (Batman), Brian Cunningham, Amedeo Turturro (The Flash)
96 páginas

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