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Crítica | Batwoman: Hidrologia

por Luiz Santiago
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estrelas 5

Hidrologia é o primeiro arco da Batwoman no projeto Novos 52 da DC, serial composto pela edição #0 (Beyond a Shadow, de J.H. Williams III, W. Haden BlackmanAmy Reeder Hadley) da Batwoman Vol.1 e pelas edições #1 a 5 da Batwoman Vol. 2 (Novos 52). Creio que todo leitor mais exigente de quadrinhos tem a reação natural de duvidar de qualquer série rapidamente muito badalada e galardoada com prêmios e elogios de críticos e leitores. Talvez seja uma forma de não se decepcionar (e manter as expectativas em equilíbrio parece ser a melhor forma para isso). Todavia, esse mesmo grupo de leitores não consegue segurar os seus efusivos elogios e grande entusiasmo ao comprovar que tudo o que se disse sobre a série em questão era verdade. No meu caso, este arco inicial da Morcegona nos Novos 52 se encaixa perfeitamente em tal situação.

Já na edição de estreia, Além de uma Sombra, percebemos que a heroína não está para brincadeiras. Em sua luta contra a Religião do Crime, notamos excelência artística e roteiro com destreza e motivação psicológicas o bastante para convencer qualquer leitor a continuar a ler a série. Essa história de abertura é guiada pelo Batman, que registra em um diário as atividades da Batwoman e, ao mesmo tempo, as de uma socialite chamada Kate Kane, a quem ele julga ser a identidade civil da Morcegona mascarada. Junto a isso, algumas explicações básicas sobre o estilo de vida, a homossexualidade e a prima & parceira de luta da heroína (Bette Kane/Labareda, ex-Novos Titãs) nos são fornecidas, muito embora algumas pontas em elação ao passado da personagem ainda fiquem soltas.

Nas cinco edições seguintes temos a apresentação de uma das melhores séries dos Novos 52. A composição geral da história traz inusitados acontecimentos: crianças são raptadas por uma forma etérea (La Llorona); feras quase mitológicas são massacradas num ataque em Gotahm City; detetives misteriosas entram em ação e muita desconfiança institucional formam o balaio de gatos no qual a mulher-morcego é inserida. Ao brincar com o folclore mexicano e trazer para os quadrinhos a sua principal lenda, Williams III e Blackman conseguem criar uma das mais densas linhas investigativas do relaunch da DC, isso porque não se trata apenas da investigação de um mistério específico — independente do quão macabro e difícil ele seja — mas de duas, ou até três frentes de batalha. Embora a edição #5 não conclua a história de fato, percebemos que as coisas não vão muito bem para o lado da protagonista, que além de sua luta contra o crime, tem a atenção voltada para sua prima, Labareda, e para as pessoas que a querem presa.

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Os roteiristas criam uma estrutura dramática tão interessante e bem arquitetada, que desejamos imediatamente um número maior de páginas para que a história seja contada com mais detalhes e possamos ter mais informações sobre os eventos em curso.

Mas não é apenas no roteiro que Batwoman se destaca com louvor. A soberba arte de J.H. Williams III dá o toque final e necessário para o tipo de história que ele coescreve. Em primeiro lugar, há uma diferenciação nos traços e na arte final entre a vida com e sem a máscara da heroína, e não preciso dizer que isto causa um impacto imediato no leitor. A oposição entre as “duas vidas” ainda é ressaltada pelas cores de Dave Stewart, que brinca com composição equilibrada dos tons nos diferentes cenários, além de escolher cores neutras ou quentes para a vida civil ou fora dos combates da Batwoman (há uma exceção que comentarei mais adiante) e cores frias para todos os enfrentamentos e cenários representados no mesmo período em que a luta ocorre — percebam que não se trata apenas de uma adequação de incidência de luz sobre as coisas (ocorrência de dia e noite), mas de uma verdadeira diferença na representação artística desses dois momentos.

No caso da exceção que comentei acima, temos os quadros em preto e branco, com maior destaque para a edição #0 e a edição #5, ambas com excelente uso desse tipo de diagramação, atuando como uma espécie de voz off e não como um simples quadro sem cor, como se vê na maioria das vezes em que é usado hoje, em outras revistas mainstream.

A diagramação é um outro elemento narrativo/artístico a ser destacado. A maior parte dos leitores de quadrinhos sabe que a diagramação dita o ritmo da leitura, indo da abordagem mais comum (linear) com os quadros retos e tudo muito bem marcado, às experimentações malucas e alineares, que vão desde cortes diagonais à descaracterização das molduras dos quadros, com ultrapassagem de personagens, destaques de elementos em uma grande visão geral (espécie de zoom) e até mudança na ordem de leitura. Esse segundo exemplo, creio que tenha ficado claro, é bastante rico em possibilidades e pode nos dar uma maior sensação de movimento, passagem do tempo e/ou atmosfera dramática da história contada. No caso de Hidrologia, esse trabalho quase barroco da diagramação (o segundo exemplo) é uma mão na roda, porque mostra ao leitor uma espécie de entrelinha da história, algo que é melhor compreendo por interpretação do que por observação pura e simples, exigindo que o leitor deixe a passividade.

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Em todas as edições do arco, os erros encontrados são mínimos. Na esmagadora parte do tempo, temos uma eficiente história sendo contada, uma história onde até os personagens secundários são interessantes e formam um intrigante gancho para o arco seguinte.

Hidrologia mostra um outro patamar de Gotham City. Um patamar abaixo do submundo. Confesso que fiquei um pouco receoso no início, quanto ao tipo de abordagem dada e esse recanto macabro da cidade dos morcegos, mas meus temores se dissiparam, assim como La Llorona em sua fuga, após raptar as crianças. Do mesmo modo, a história sobrenatural cabe muito bem no espaço geográfico em que acontece, assim como a heroína da vez, uma mulher forte, determinada e de incrível constituição psicológica, com o infortúnio de ter um baita problema para resolver no arco seguinte. Mas isso é assunto para um próximo texto…

Batwoman Vol.1 #0 + Vol.2 #1 — 5: Beyond a Shadow + Hydrology (EUA, 2011 – 2012)
No Brasil:
Mix – A Sombra do Batman #1 a 6 (Panini, 2012)
Roteiro: J.H. Williams III, W. Haden Blackman
Arte: J.H. Williams III, Amy Reeder Hadley
Arte-final: J.H. Williams III, Richard Friend
Cores: Dave Stewart
Letras: Todd Klein
Capas: J.H. Williams III, Amy Reeder Hadley
Editoria: Mike Marts, Janelle Asselin, Harvey Richards, Rickey Purdin
144 páginas

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