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Crítica | Bellini e a Esfinge

por Leonardo Campos
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Um detetive errante, pistas falsas, mulheres perigosamente fatais e ambíguas. Esses são alguns ingredientes das produções que chamamos de neo-noir, isto é, narrativas que resgatam elementos do filme noir clássico e os reproduzem em cenas contemporâneas, como ocorre com Bellini e a Esfinge, suspense policial brasileiro lançado em 2001, dirigido por Roberto Santucci, cineasta que se guia pelo roteiro de Alexandre Plosk e Tonny Bellotto, este último, autor do romance que serve como ponto de partida. A história nos apresenta Remo Bellini (Fábio Assunção), um detetive especializado em desvendar tórridos casos de adultério. Ele trabalha na agência de Dora Lobo (Eliana Guttman), uma mulher que gerencia o seu escritório com muita firmeza. O novo caso, apresentado na cena de abertura para ela e também para Bellini, dita o direcionamento de todo o filme, das situações físicas aos conflitos psicológicos.

Vejamos: um renomado médico, Dr. Rafidjian (Paulo Hesse), pede para os profissionais do escritório de investigação encontrarem uma garota de programa sumida repentinamente. O caso envolve muito mistério e a vida de Bellini dá uma guinada depois que assume a verificação dos pormenores de tudo que ainda acontece em torno deste sumiço, trajetória urdida num tecido narrativo com perseguições, assassinatos, drogas, sexo descompromissado e mulheres de comportamento ambíguo, perigosas e responsáveis pela derrocada do masculino em cena. Em seu mapeamento da cidade de São Paulo, Bellini acaba se envolvendo com Fátima (Malu Mader), uma prostituta esperta e muito bonita, figura que o desafia constantemente a se perder, pois não é fácil saber se pode contar com ela ou se a moça atraente é mais um esparro na situação que envolverá o embrião básico da femme fatale em seu projeto de retribuição.

As coisas ficam mais tensas depois da chegada da enigmática Beatriz (Maristane Dresch), investigadora contratada por Dora Lobo para ajudar o escritório em suas empreitadas. Com a implicância de Bellini, a moça consegue colaborar pouco inicialmente, pois ele a considera mais uma advogada criminalista apegada ao legado de Agatha Christie. Com seu olhar misterioso, ela também é uma figura que pode representar perigo para o personagem principal, só não sabemos exatamente como. Será nas idas e vindas mirabolantes da narrativa que as respostas encontrarão o caminho pavimentado em torno de muita insanidade, mas tudo orgânico, sem ser apresentado para o público como um festival de excessos e excentricidades, algo que ocorreria se o texto não fosse bem escrito, a direção fosse insegura e os desempenhos dramáticos sem a competência necessária para fazer essa história enigmática prosperar em suas reviravoltas. Uma das principais guinadas do roteiro é a morte do médico que encomenda a investigação. Quem, por caso, pode está por detrás de todo esse mistério? Prostitutas, homossexualidade marginalizada, usuários e traficantes de drogas e outros segredos estão por detrás disso.

Ao longo de seus 120 minutos, Bellini e a Esfinge concebe uma direção de fotografia peculiar, assinada por Jacob Solitrenick, um dos pontos de maior destaque do filme contado por meio de enquadramentos, movimentações e iluminação que mantém a narrativa numa constante sensação de mistério. Na concepção artística, Paulo Flaskman também cumpre as necessidades do filme em sua missão de nos contar uma história enigmática, acompanhada pela condução musical de Tonny Bellotto, Andreas Kisser, Eduardo Queiroz e Charles Gavin, trilha sonora que serve de acompanhamento das cenas noturnas de São Paulo, aqui representada por ruas e becos escuros e sujos, diferente das habituais abordagens da metrópole, geralmente com trânsito intenso e congestionado e vida urbana agitada com executivos, secretárias, estudantes, ambulantes e outras figuras circundantes pelas vias da cidade. Ademais, com seu clima de penumbra e situações típicas do filme noir, a produção consegue atingir os propósitos de um bom filme policial, recorrendo aos clichês mais básicos, sem se tornar dramaticamente estéril.

Bellini e a Esfinge — Brasil, 2001
Direção: Roberto Santucci
Roteiro: Alexandre Plosk, Tonny Bellotto
Elenco: Fábio Assunção, Malu Mader, Eliana Guttman, Paulo Hesse, Maristane Dresch
Duração: 120 min.

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