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Crítica | Bem-Vindo À Selva (2013)

Uma honesta autoparódia.

por Ritter Fan
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Bem-Vindo à Selva tinha todo o potencial de ser outra porcaria inenarrável que tem Jean-Claude Van Damme apenas em uma ponta para atrair seus fãs para uma enganação total como é o asqueroso Assassinos do Espaço. Mas o diretor Rob Meltzer e o roteirista Jeff Kauffmann, dois completos desconhecidos nestas respectivas cadeiras, acertam em dois aspectos fundamentais para elevar o longa para um patamar bem acima desse: honestidade e autocrítica. Esse binômio faz a “releitura” cômica de O Senhor das Moscas funcionar em um nível tosco, mas com seus bons momentos, com um grupo de executivos e funcionários de uma agência de publicidade que é levado para uma ilha deserta sob a liderança de Storm (Van Damme), ex-militar e especialista em “trabalho em equipe”, para aprenderem a depender um do outro e ampliar seus laços.

Todos os 10 minutos iniciais são dedicados a, fundamentalmente, apresentar os dois rivais mortais dentro da agência, Chris (Adam Brody), um designer que deseja ascender na escada hierárquica e Phil (Rob Huebel) que faz justamente isso roubando as ideias dos outros, com Chris sendo sua mais recente vítima. De resto, há os demais personagens arquetípicos para formar um ecossistema familiar, Jared (Eric Edelstein), amigo de Chris que gosta de Brenda (Kristen Schaal), que, por sua vez, finge detestá-lo, Lisa (Megan Boone), chefe do RH que é a beldade sonhada por Chris e desejada por Phil e, finalmente, Troy (Aaron Takahashi), que não passa de um devotado e cego seguidor de Phil. Ao chegarem na ilha, os “treinamentos” começam a acontecer até que, claro, eles ficam perdidos ali sem terem como voltar, o que faz com que Chris, que fora escoteiro, assuma a liderança naturalmente e, com isso, irrite Phil que enlouquece e passa a agir de maneira cada vez mais surreal até tornar-se um “deus”, com Chris, Lisa, Jared e Brenda sendo exilados para o outro lado da ilha.

O filme depende do ridículo e do escatológico para funcionar. O ridículo fica por conta do absurdo e do exagero de toda a situação que acelera os eventos do romance seminal de William Golding, com direito a um momento climático que chega a ser constrangedor com Chris chegando para salvar o dia em uma asa delta que ele constrói na base no macgyverismo. O ridículo também fica por conta de Jean-Claude Van Damme aparentemente se divertindo em um papel cômico que usa tudo aquilo que o ator construiu em sua carreira contra ele próprio. E, confesso, os momentos patéticos como o que Storm, em um carrinho de mão, faz barulhos de animais não combinados previamente para avisar seus aliados, são genuinamente engraçados.

No lado escatológico, que foi a melhor definição que encontrei para o uso de todo tipo de grosseria politicamente incorreta e também diretamente escatológica, o longa tem a vantagem de pelo menos nada mostrar. Tudo é apenas dito, como quando Brenda interrompe um momento particularmente romântico entre Chris e Lisa para dizer, no desespero, que ela precisa “cagar” e não “defecar” ou “fazer número 2” ou assim por diante, mas sim “cagar”. Óbvio que o espectador tem que estar no mesmo comprimento de onda, por assim dizer, para apreciar esse tipo de “diálogo iluminado”, mas o simples fato de ser na base do “falar e não mostrar” já permite que alguns pontos sejam laureados à produção.

Bem-Vindo à Selva é uma bobagem. Outro filme “do Van Damme” em que ele não passa de um coadjuvante (o que é um upgrade de figurante ou ponta, claro). Mas pelo menos, dessa vez, se o espectador por acaso estiver no espírito certo, talvez consiga extrair algo de interessante dessa autoparódia do ator belga em uma fase complicada de sua carreira.

Bem-Vindo À Selva (Welcome to the Jungle – EUA/Reino Unido/Porto Rico, 2013
Direção: Rob Meltzer
Roteiro: Jeff Kauffmann
Elenco: Jean-Claude Van Damme, Adam Brody, Megan Boone, Rob Huebel, Kristen Schaal, Eric Edelstein, Dennis Haysbert, Bianca Bree, Kristopher van Varenberg, Robert Peters, Aaron Takahashi, Brian Tester, Stephanie López, Mark Sherman, Michael J. Morris, Zev Glassenberg
Duração: 95 min.

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