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Crítica | Berlim – Sinfonia Da Metrópole

por Rafael Lima
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Durante a década de 1920, um estilo de documentário tornou-se bastante popular: os filmes de cidade, que exploravam o cotidiano de grandes centros urbanos, transformando essas metrópoles em protagonistas dos filmes. Entre essas produções, duas obras acabam se destacando: Um Homem Com Uma Câmera (1929) de Dziga Vertov, e Berlim- Sinfonia Da Metrópole, que é o objeto desta resenha.

Dirigido por Walter Ruttmann, partir de um roteiro de Karl Freund, Berlim – Sinfonia De Uma Metrópole acompanha um dia da vida na capital alemã, desde o nascer do Sol, até as últimas horas da madrugada. Sendo dividido em cinco atos anunciados através de intertítulos, o longa metragem utiliza como fio condutor o momento vivido pelos cidadãos em determinado período do dia; como a tranquilidade das primeiras horas da manhã, ou a turbulência da cidade quando comércio e indústria já estão funcionando a todo o vapor na parte da tarde.

Os cidadãos são parte essencial de Berlim, mas o filme de Ruttmann não está interessado nos indivíduos, e sim nas massas que formam a metrópole, raramente enquadrando uma única pessoa. Percebe-se essa descentralização da figura humana mesmo nas passagens envolvendo as fábricas, onde máquinas e animais são muitas vezes postos em primeiro plano em detrimento da figura humana.

A abordagem escolhida pelo diretor foi alvo de críticas tanto durante a produção (Carl Meyer, que originalmente escreveria o projeto acabou abandonando a produção) quanto após o lançamento do filme, com muitos elementos, em retrospecto, apontando a eliminação da figura individual humana como um sinal das tendências nazistas do diretor, já que ele foi um colaborador da máquina de propaganda da futura ditadura de Hitler. Mas a opção de Ruttmann é menos uma visão política ou social, e mais uma opção estética, pois a obra parece enxergar o elemento humano como só mais uma parte da miscelânea que compõe uma grande cidade, que conta também com sua arquitetura, máquinas e animais.

Ruttmann é competente em articular todos esses elementos para realmente dar personalidade à cidade. O primeiro ato, por exemplo, nos transmite a sensação de que a cidade está despertando, ao trazer imagens do trem (figura constante no filme) lentamente começando a se mover pela metrópole, enquanto vemos as ruas vazias começarem aos poucos a se encher de pessoas, e as portas de lojas e fábricas abrindo-se sozinhas. Essa personalidade do ambiente vai evoluindo de forma natural durante a projeção. Esse crescendo atinge um clímax no quinto e último ato, que traz a vida noturna de Berlim à tona, como uma cidade muito mais teatral e viva do que a vista anteriormente.

A montagem, realizada pelo próprio diretor, é fortemente inspirada na montagem soviética aprimorada por cineastas como Sergei Eisenstein e o já citado Dziga Vertov. Ainda que não seja tão impactante quanto a dos soviéticos, a montagem de Ruttmann trabalha com cortes que nem sempre buscam uma continuidade espacial, e sim uma continuidade temática, o que funciona para a proposta apresentada pela obra. 

A trilha sonora de Edmund Meisel é outra parte fundamental do projeto, auxiliando na construção da atmosfera do filme, e ajudando a harmonizar a montagem de Ruttmann. É importante frisar, porém, que nem todas as cópias disponíveis contam com a condução original de Meisel. A versão que assisti foi uma reprodução de 2007 conduzida pela Orquestra Sinfônica de Berlim, que utiliza a partitura original de Meisel, mas existem versões que trazem trilhas diferentes, o que pessoalmente não recomendo.

Mesmo depois de tantas décadas após o seu lançamento, Berlim – Sinfonia Da Metrópole continua sendo uma experiência fílmica muito interessante. Talvez o filme se torne um pouco redundante em seu miolo entre o ato três e quatro, mas isso não prejudica o conjunto de uma obra que se tornaria muito influente nos anos seguintes, e que é um verdadeiro documento histórico ao mostrar uma Berlim antes de ser devastada pela loucura da guerra.

Berlim – Sinfonia Da Metrópole (Berlin- Die Sinfonie Der Grosstadt). Alemanha, 1927
Direção: Walter Ruttmann
Roteiro: Karl Freund
Duração: 65 Minutos

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