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Crítica | Bernie: Quase um Anjo

Lobo ou cordeiro?

por Kevin Rick
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Bernie: Quase um Anjo é uma comédia de humor ácido baseada em um bizarro evento da vida real: o assassinato da milionária Marjorie Nugent, em 1996, pelas mãos do diretor de funerais Bernie Tiede, logo após anos de amizade entre os personagens, em que, inicialmente, Bernie consolou e auxiliou Marjorie após a morte de seu marido, e posteriormente se tornou um funcionário da viúva. O que mais marcou o crime é o fato de Bernie ser totalmente amado na pequena cidade que morava, tido por muitos um homem simpático, prestativo e doce, enquanto a mulher assassinada era considerada pelos habitantes como uma megera e uma pessoa de desagradável convivência. O caso chegou ao ponto de mudar de município, pois seria impossível ter um julgamento justo em uma cidade onde a vítima é odiada e o criminoso é benquisto.

A premissa parece ter saído da filmografia dos Irmãos Coen e seus longas tragicômicos, inclusive com o sotaque dos personagens, o cenário rural e interiorano, e a história real totalmente absurda lembrando produções como Fargo Arizona Nunca Mais. Mas não se enganem, Bernie: Quase um Anjo é uma obra totalmente de Richard Linklater, com o cineasta adotando uma abordagem cinematográfica quieta e paciente, mais focada em retratar a personalidade peculiar do protagonista do que necessariamente abordar uma narrativa de crime.

Jack Black assume o desafio e dá um show completo. O comediante é normalmente conhecido pelos seus exageros e humor corporal, mas com Bernie, o ator assume uma rota distinta, tendo que ser sutil, gentil e contido dentro das extravagâncias e esquisitices do personagem, como seu comportamento extremamente delicado, a necessidade de ser amado e os pequenos vislumbres de uma mente sombria por debaixo da simpatia. Shirley MacLaine não tem muito com o que trabalhar, interpretando uma mulher antipática, mas a veterana consegue tirar leite de pedra, inclusive com uma ótima sequência em que pode exibir a personalidade possessiva e agressiva de Nugent. Também temos um Matthew McConaughey excelente no papel do advogado Danny Buck Davidson, incorporando todo seu característico sotaque e um certo cinismo que é divertido de assistir, ainda que o personagem tenha pouquíssimo tempo de tela.

Para além das performances, Bernie: Quase um Anjo é um longa com uma condução narrativa atípica. Linklater decide misturar ficção com documentário, inserindo diversos segmentos de entrevistas com personagens que conhecem Bernie, inclusive com alguns sendo pessoas que estavam envolvidas no caso. É uma forma bem curiosa de contar a história, tornando a obra uma espécie de filme de fofocas e perspectivas de quem era esse indivíduo inusitado. A montagem faz o possível para manter tudo orgânico e com bom ritmo, mas os momentos conseguem ser intrusivos e deslocados, ainda que substancialmente divertidos, dando um aspecto de mocumentário à produção.

Bernie: Quase um Anjo acaba ficando em muitos meios-termos. Não é um estudo de personagem, não é uma narrativa de crime, e não é exatamente um documentário. Também tenho problemas em como os coadjuvantes aparecem de maneira esparsa demais e, claro, a escolha por entrevistas não é um sucesso total, se tornando repetitiva à medida que a história avança. Ainda assim, a mistura de Linklater tem ingredientes suficientes para nos dar um experiência bacana, com uma premissa bizarra, um roteiro engraçado, tom de humor mórbido, muita ironia no estilo de mocumentário e uma tremenda atuação de Jack Black.

Bernie: Quase um Anjo (Bernie) – EUA, 2011
Direção:
 Richard Linklater
Roteiro: Richard Linklater, Skip Hollandsworth
Elenco: Jack Black, Shirley MacLaine, Matthew McConaughey
Duração: 99 min.

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