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Crítica | Better Call Saul – 5X04: Namaste

por Ritter Fan
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  • Há spoilers da série. Leiam, aqui, as críticas dos episódios anteriores.

Em termos comparativos, Namaste é, provavelmente, o menos chamativo dos episódios da penúltima temporada de Better Call Saul que foram ao ar até agora. Ele é, sem dúvida alguma, o mais fragmentado de todos até agora, tentando abordar todas as linhas narrativas com algum equilíbrio entre elas que acaba dando relativamente pouco tempo a todas, com uma fotografia muito mais funcional do que hipnotizante. Por outro lado, narrativamente, exatamente por fazer a história como um todo andar em bloco, temos mais um grande exemplo de um roteiro azeitado, que sabe exatamente como fazer as peças se encaixarem.

Essa impressão de fragmentação, na verdade, é superficial e não resiste a uma análise um pouco mais cuidadosa. Namaste, em primeiro lugar, observa como quatro de seus personagens lidam com a frustração. Howard, responsável pelo título do episodio e que vimos muito brevemente em 50% Off, parece ter encontrado no budismo sua válvula de escapa para lidar com tudo o que aconteceu com ele e por causa dele nas temporadas anteriores. Sua postura zen e seu improvável convite para que Jimmy volte a trabalhar em seu escritório revelam que ele tem tentado mudar, ainda que não o suficiente, na visão de Jimmy, para justificar qualquer consideração. Muito ao contrário, algumas bolas de boliche bem colocadas mostram muito bem a posição do protagonista sobre essa pseudo-redenção de Howard.

O sinistro Gus, por sua vez, encabeça uma sequência absolutamente genial em que ele dá vazão à sua raiva e frustração sendo particularmente detalhista com a limpeza de seu restaurante, fazendo com que seu fiel empregado Lyle limpe a fritadeira por mais duas vezes enquanto espera a ligação de seus capangas sobre os pontos de entrega de dinheiro delatados por Krazy-8 em The Guy For This. A tensão na montagem paralela com a efetiva ação com Hank e Gomez de tocaia e o esfrega esfrega no Los Pollos Hermanos deixa muito claro o cuidado da direção de Gordon Smith, que também escreveu o roteiro. São tomadas propositalmente escuras, que nunca deixam muito evidente o que está por vir. Seria perfeitamente possível, por exemplo, que tudo – nas duas pontas – acabasse em um banho de sangue, mas, no final das contas, tanto para Gus quanto para Hank (outro que precisa lidar com sua frustração de não capturar o bandido), os resultados são, apenas, “aceitáveis”.

Finalmente, ainda no tema da frustração, há a situação de Mike que, aqui, apesar de ganhar um tratamento em tese repetido em relação ao que já vimos, pela primeira vez não fica parecendo uma partícula expletiva dentro do episódio. Seu remorso pelo que foi obrigado a fazer com Werner Ziegler aliado à lembrança da morte de seu filho, o torna instável e auto-destrutivo ao ponto de usar os marginais de perto de sua casa como uma forma de auto-flagelação, com direito até mesmo a uma facada na barriga. Aliás, seu desfalecimento e despertar no que parece ser um vilarejo mexicano muito parecido com o que vimos em Breaking Bad (episódio 4X11), parece apontar para o fato de que Gus mantém uma vigilância sobre ele. Afinal, quem mais que conhece Mike teria os recursos necessários para fazer o que foi feito?

Mas Namaste tem mais. Não só vemos o envolvimento de Jimmy com Howard, com direito a uma sequência de abertura sensacionalmente enigmática em que ele acaba comprando as bolas de boliche em uma loja que, aparentemente, tem de absolutamente tudo, como somos brindados com uma hilária defesa de um cliente dele (ou melhor, de Saul) no Tribunal e que leva Kim a “contratá-lo” para ajudá-la em algo que vem mastigando toda sua noção de ética. Apesar de trabalhar para Mesa Verde e de fazer de tudo para que seu cliente mude o local de construção do call center para permitir que o senhor que ela conhecera no episódio anterior continue morando em sua casa, ela não se dá por satisfeita com a negativa que recebe, o que dá ignição a um plano para equilibrar a balança usando as malandragens jurídicas de Saul. Só a maneira como Saul convence o velhinho a deixar que ele o represente já merece um prêmio de originalidade, sendo que fui forçado a pausar o episódio para acalmar meus espasmos de risadas. Nada como uma foto de bestialidade para convencer um cliente, não é mesmo?

Em outras palavras, Namaste só parece episódico e com um passo apertado em uma verificação de soslaio, sem atenção, pois, na verdade, trata-se de outro episódio da mais alta qualidade narrativa que faz todas as tramas avançarem de maneira cadenciada. Sim, talvez ele peque um pouco na direção de fotografia de Paul Donachie, mas não por ela ser fraca, pois não é, mas sim por não chegar ao patamar dos trabalhos de Marshall Adams nos três episódios anteriores. É a forma abrindo espaço para a função, ainda que os dois fossem perfeitamente conciliáveis.

Better Call Saul – 5X04: Namaste (EUA, 09 de março de 2020)
Criação: Vince Gilligan, Peter Gould
Showrunner: Vince Gilligan, Peter Gould
Direção: Gordon Smith
Roteiro: Gordon Smith
Elenco: Bob Odenkirk, Jonathan Banks, Rhea Seehorn, Patrick Fabian, Michael Mando, Tony Dalton, Giancarlo Esposito, Lavell Crawford, Max Arciniega, Javier Grajeda, Josh Fadem, Hayley Holmes, Peter Diseth, Don Harvey, Dean Norris, Steven Michael Quezada
Produtoras: High Bridge Productions, Crystal Diner Productions, Gran Via Productions, Sony Pictures Television
Canal original: AMC
Distribuição no Brasil: Netflix
Duração: 46 min.

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