Home TVEpisódio Crítica | Better Call Saul – 6X05: Black and Blue

Crítica | Better Call Saul – 6X05: Black and Blue

Medo e pavor em Albuquerque.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers da série. Leiam, aqui, as críticas dos episódios anteriores e, aqui, de todo o Universo Breaking Bad.

Com uma estilosa direção de Melissa Bernstein que usa e abusa de tracking shots, planos detalhe, grandes angulares, contra-plongée, câmera subjetiva, por vezes talvez chamando atenção demais para si mesmo, mas sem nunca perder a compostura, Black and Blue lida com as paranoias de Kim e Saul em contraposição com a de Gus em relação ao mesmo “espectro” na vida deles, Lalo Salamanca que, por seu turno, finalmente aparece na temporada, mas em lugar inusitado e, francamente, completamente inesperado. Além disso, claro, temos Howard somando dois mais dois, mas só enxergando o resultado imediato, sem pensar de maneira mais ampla.

O episódio, para todos os efeitos, nos sinaliza desde o preâmbulo consideravelmente críptico a grande surpresa do final, com Lalo reaparecendo em um bar na Alemanha e fazendo conexão com Margarethe Ziegler (Andrea Sooch), viúva do arquiteto Werner que projetou o laboratório subterrâneo de Gus, de maneira que se parece muito – e não sem querer, obviamente – com o encontro de Mike e Kim no episódio anterior. A fabricação do simbólico presente de agradecimento das “crianças” de Werner é, também, o que Lalo, sem saber, procura na peculiar casa da alemã com o “Pequeno Urso”, por provavelmente conter uma pista de alguém que saiba mais sobre o projeto secreto de Gus.

Confesso que, não obstante a preparação germânica do episódio, chegou a ser um pouco desnorteador encaixar Lalo mentalmente na Alemanha, mesmo considerando que a sequência vem depois de Gus visitar o cavernoso laboratório com construção parada e demonstrar que conhece seu inimigo como ninguém ao deixar a arma na esteira da escavadeira. A falta de norte, em meu caso, vem do simples fato de que a última vez que esse assunto – a construção do laboratório – foi abordado na série foi na já bastante longínqua quarta temporada (2018!), mas é patente que Vince Gilligan e Peter Gould sabem muito bem disso, pois trabalharam tudo com muita calma e comedimento, com o roteiro de Alison Tatlock elegantemente pegando em nossa mão e nos levando a um passeio “indireto” pelos eventos de tanto tempo atrás. Essa é a diferença entre um episódio burramente didático, que explica o que poderia mostrar e um episódio que faz a fusão perfeita entre o texto e a imagem para reacender os recantos da memória.

Existe toda uma sincronia que deságua lá na Alemanha e que, com exceção da trama que envolve Howard diretamente, coloca Lalo como o centro absoluto das atenções muito antes de ele aparecer. Entre Kim, ciente de que Lalo está vivo, não conseguindo dormir, colocando uma cadeira na porta, olhando pela janela e acendendo um cigarro, Saul acordando em seguida, também nervoso, mesmo não tendo dúvidas de que Lalo está morto e todo o paralelismo com Gus no Los Pollos Hermanos sequer conseguindo trabalhar pela tensão, e, depois, em sua mais do que protegida fortaleza que se parece com uma casa obsessivamente escovando os ladrilhos da banheira e tendo uma epifania sobre sua caverna, tudo aponta para o sinistro mexicano e seu plano de vingança. E é interessante como, apesar de todo esse ritual preparatório, todos os caminhos narrativo apontando para ele, seu aparecimento ainda soa como uma surpresa, algo que, claro, é amplificado por toda a atmosfera diferente do ambiente em que nós o vemos. Sabem quando alguém nos avisa que vai nos dar um susto e ainda assim levamos o susto? Pois é.

E, em meio a isso tudo, ainda temos Howard que, finalmente confrontado por Cliff, imediatamente deduz que a fonte de todos os seus problemas é Jimmy McGill ou, hoje em dia, Saul Goodman. Howard nunca foi burro e é óbvio que Kim e Saul esperavam que isso acontecesse por agora como parte do ainda misterioso plano dela para fazer seu arqui-inimigo fechar um acordo no caso Sandpiper. O que não era esperado – outra surpresa! – é a forma que Howard encontra para confrontar Saul, literalmente atraindo-o para um ringue de pugilismo para os dois saírem no soco da maneira mais civilizada possível. E reparem que interessante: Saul, que não é um homem violento, não resiste à tentação de cometer violência, mas Lalo, lá do outro lado do Atlântico, com uma arma com silencioso em punho e a reputação que conhecemos, se segura e escolhe fugir no lugar de matar Margarethe e Bärchen. Irônico, não é mesmo? Mas o que eu quero saber mesmo é o que vai acontecer quando o detetive de Howard perceber que Saul está sendo seguido por outro carro também…

Black and Blue que, sinto lembrar, é o antepenúltimo episódio antes do hiato da temporada, é uma outra joia narrativa de Better Call Saul que só perde uns pontinhos pela direção ser um tanto quanto chamativa demais, destoando do trabalho sutil da própria Rhea Seehorn, por exemplo, em Hit and Run. Agora que conhecemos um pouco dos planos de ataque de Lalo e de Howard, resta-nos esperar para ver como é que esses encontros de forças opostas titânicas acontecerá.

Better Call Saul – 6X05: Black and Blue (EUA, 09 de maio de 2022)
Criação e showrunners: Vince Gilligan, Peter Gould
Direção: Melissa Bernstein
Roteiro: Alison Tatlock
Elenco: Bob Odenkirk, Jonathan Banks, Rhea Seehorn, Patrick Fabian, Michael Mando, Tony Dalton, Giancarlo Esposito, Mark Margolis, Daniel Moncada, Luis Moncada, Ed Begley Jr., Jeremiah Bitsui, Ray Campbell, Rex Linn, Javier Grajeda, Lavell Crawford, Julie Pearl, Julia Minesci, Andrea Sooch
Duração: 51 min.

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