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Crítica | Better Call Saul – 6X11: Breaking Bad

Um posfácio cheio de prefácio.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers da série. Leiam, aqui, as críticas dos episódios anteriores e, aqui, de todo o Universo Breaking Bad.

Quando Hank Schrader (Dean Norris) e Steven Gomez (Steven Michael Quezada) apareceram nos terceiro e quarto episódios da temporada anterior de Better Call Saul, marcando as primeiras grandes pontas de personagens fixos de Breaking Bad no prestigiado prelúdio, o tratamento dado a eles por Vince Gilligan e Peter Gould foi muito bom, nada mais do que dois personagens que, sem muito esforço, poderiam ser encaixados na linha temporal, com questões relevantes a serem trazidas para a mesa. Não era algo essencial para além do “clamor popular”, claro, mas foram exemplos bem feitos do sempre tão desejado fan service, ainda que ele seja desejado por algum tipo de obsessão coletiva que eu juro que não consigo entender muito bem…

Em Breaking Bad, episódio que, como foi Better Call Saul na segunda temporada da série original que introduziu o personagem de Bob Odenkirk, Walter White (Bryan Cranston) e Jesse Pinkman (Aaron Paul) dão as caras em flashbacks coloridos para Albuquerque, em 2008, que são cenas estendidas justamente da sequência em que a dupla sequestra Saul Goodman para fazer com que ele impeça Badger de delatá-los. Hummm…, vamos lá… Ainda que seja marginalmente – isso, só marginalmente mesmo – bacana ver os dois atores retornarem aos papeis que os consagraram, tenho para mim que, aqui, o fan service como fan service, na base do porque sim, falou mais alto. Com exceção do momento em que Jesse pergunta a Saul quem é Lalo e, em seguida, somos brindados com a transição da “cova falsa” para Gene Takavic, no presente em preto e branco, deitado em sua cama, que consegue evocar toda a sorte de imagens e nos lembrar principalmente de Lalo e Howard enterrados juntos no que seria o laboratório de White e Pinkman, o restante me pareceu pouco usual no currículo dos showrunners e dos excepcionais trabalhos de roteiro e direção de Thomas Schnauz.

Diferente do caso de Hank e Steven, o constante retorno para o colorido quebrou a fluidez da história sendo contada no presente sem cores e nada realmente de essencial foi acrescentado à história. Mas calma, pois não foi algo também completamente fora de esquadro, pois isso eu realmente nunca vi no Universo Breaking Bad, porém esta foi a primeira vez em muito tempo – nem consigo lembrar-me da vez anterior – em que algo me pareceu deslocado em Better Call Saul, algo me pareceu que passou a existir só porque era possível, até porque vamos combinar que, na base do flashback, tudo acaba sendo possível mesmo. Gostei como as “idades” dos personagens foram trabalhadas e, para mim, foi irrelevante as poucas vezes em que, talvez mais no caso de Aaron Paul, ficou mais saliente a diferença. O trabalho de maquiagem, cabelo e também de direção nesse quesito foi exemplar. Mas, muito sinceramente, a coisa parou por aí e eu lamento dizer que, para mim, esses flashbacks, se não tivessem existindo, talvez tivessem resultado em um episódio consideravelmente superior. Talvez.

Digo “talvez” porque, ainda que eu goste muito da lógica da autodestruição, que parece ser o caminho que será tomado no que se refere ao protagonista, lógica essa que inclusive ecoa a própria escolha de Walter White em retornar de sua reclusão para então, finalmente, morrer, não sei se comprei com muita facilidade toda aquela demorada ligação telefônica de Jimmy com Francesca sobre o estado atual das investigações do FBI (e que confirmam que sim, aquela sequência inicial de Wine and Roses era mesmo a apreensão de seus bens e de sua mansão) que leva Jimmy à Kim e a segunda, explosiva, mas completamente misteriosa ligação para Kim (ela atendeu? se recusou a atender? não estava mais lá?) que, finalmente, “broke bad” o Jimmy. Pode ser que eu seja obrigado a reavaliar tudo quando a poeira abaixar e eu tiver a visão de conjunto do que está sendo preparado para nós por Gilligan e Gould, mas, pelo menos no que se refere a esse início de um “posfácio”, achei a manutenção do mistério um tanto quanto maniqueísta, ainda que as sequências das duas ligações telefônicas tenham sido brilhantes em execução, especialmente no que se refere à arquitetura sonora.

Com Jimmy quebrado pelo que ele ouviu – ou não – ao telefone, ele parece não ter escolha e retorna a seus golpes, novamente arregimentando Jeff e Buddy. Suas vítimas são gente rica que ele enreda com seu papo encantador, sua “bombinha de sucção de bebida” e um pouco de barbitúrico na água com ajuda do taxista, para que, então, Buddy, com toda a calma do mundo e acompanhado de seu fiel e obediente cachorro, fotografe documentos importantes que, depois, são vendidos como parte do processo assustador e infernal de furto de identidade. A sucessão de golpes é simples e elegante até que, por ironia do destino, Jimmy depara-se com uma vítima que passa por tratamento de câncer. Enquanto ele hesita no momento da descoberta, com a câmera de Schnauz querendo nos fazer acreditar que ele dará para trás por uma questão de humanidade, tudo não passa mesmo de um pensamento efêmero e ele deixa a vítima ser levada no táxi de Jeff. Quem, porém, se recusa a seguir em frente é, por incrível que pareça, o grandalhão Buddy, que, mesmo com Jimmy tentando “ensaboar” a coisa toda, revela-se resoluto em sua decisão.

Claro que a conexão com o périplo cancerígeno de Walter White é imediato, mas, mais relevante do que isso é a conexão que nós espectadores fazemos com todas as vítimas inocentes (algumas não totalmente, eu sei) de Jimmy McGill e Kim Wexler, o casal que, junto, “é veneno”. Novamente, flashes de Howard nos vêm à cabeça e o cliffhanger é simples, mas genial, apontando para o que pode ser o fim efetivo de Jimmy, um fim que ele mesmo parece pedir desesperadamente. Se será isso que precipitará o final ou se Jimmy ainda terá a oportunidade de ver Kim mais uma vez – que não seja na prisão, pois essa é outra possibilidade interessante -, descobriremos em apenas duas semanas que, espero, deixem os fan services enterrados bem longe no deserto de Albuquerque.

Better Call Saul – 6X11: Breaking Bad (EUA, 1º de agosto de 2022)
Criação e showrunners: Vince Gilligan, Peter Gould
Direção: Thomas Schnauz
Roteiro: Thomas Schnauz
Elenco: Bob Odenkirk, Carol Burnett, Pat Healy, Max Bickelhaup, Tina Parker, Bryan Cranston, Aaron Paul
Duração: 57 min.

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