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Crítica | Big Finish Mensal #137: The Whispering Forest

por Rafael Lima
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Equipe: 5º Doutor, Nyssa, Tegan, Turlough
Espaço: Planeta Chodor
Tempo: Século 29

Quando a Big Finish apresentou a proposta de reunir o time Full TARDIS da 20ª temporada de Doctor Who, confesso que fiquei desconfiado. Ainda que a ideia de uma Nyssa 50 anos mais velha voltando a viajar ao lado de seus amigos pudesse ser interessante, qualquer time Full TARDIS fora da era do 1º Doutor geralmente encontra dificuldades. Entretanto, apesar de alguns tropeços, Cobwebs, a primeira história dessa fase do 5º Doutor na Big Finish foi um arco sólido, que apontava caminhos interessantes para a proposta de reunir este elenco. Infelizmente, The Whispering Florest, que dá sequência ao arco anterior, carrega todos os problemas que me fizeram torcer o nariz para o conceito destas novas aventuras, ao trazer uma história derivativa e pouco inspirada, que não dá espaço para os seus personagens respirarem. Na trama, tentando ajudar Nyssa a compreender melhor a síndrome de Richter (doença que a Trakenite está pesquisando), o Doutor programa a TARDIS para buscar informações da síndrome pelo tempo e espaço. Seguindo essa programação, a nave se materializa em Chodor, um planeta habitado por colonos humanos, onde a limpeza, mais do que uma questão de saúde, é uma questão religiosa. Ao mesmo tempo em que enfrentam a hostilidade dos colonos, por serem vistos como portadores da praga, o 5º Doutor e seus amigos ainda devem lidar com as misteriosas criaturas que vivem na floresta e que aterrorizam os colonos a gerações.

Escrito por Stephen Cole, The Whispering Forest parte de uma premissa interessante, ao explorar uma sociedade germofóbica, tão obcecada por limpeza que mantém os cabelos raspados e a pele vermelha de tanto se esfregarem. A ideia de que a higiene compulsiva se tornou tão arraigada nessa sociedade — onde a crença de que a limpeza do corpo está ligada à limpeza do espírito — é um conceito fascinante, mas que não é explorado a contento. O conceito de uma colônia espacial humana que, após um incidente, perde o contato com a sua cultura original e ressignifica elementos sociais de forma equivocada é um cenário que a série já visitou algumas vezes, como no clássico arco televisivo The Face Of Evil. Partir de uma fórmula estabelecida da série não é exatamente um problema: o fator incômodo é que o texto de Cole repete exatamente as mesmas batidas dramáticas de outras histórias (feitas de forma bem mais eficiente), deixando os aspectos originais apresentados por sua própria trama em segundo plano.

Grande parte do conflito central do arco é construído em torno de um embate geracional entre a jovem Seksa, que se torna a líder da colônia depois que o seu pai é levado pelas criaturas da floresta e crê que é preciso reavaliar os dogmas dessa sociedade; e sua madrasta Mertil, que mantém uma devoção fanática a tais dogmas e constantemente mina a liderança da enteada. Esse conflito de ideias já seria o bastante para construir o antagonismo de Mertil, já que suas crenças a fazem querer incinerar o Doutor e seus amigos assim que eles chegam ao planeta. Mas o roteiro esvazia esse embate de gerações ao estabelecer a sua vilã principal vilã em mais uma madrasta malvada com sede de poder.

O mais frustrante é como Cole usa o time da TARDIS de forma mecânica, deixando claro que não conseguiu trabalhar com a quantidade de personagens que tinha. Como de costume nesse tipo de trama, o roteiro divide os quatro viajantes em grupos, com o Doutor e Tegan envolvendo-se com os colonos, enquanto Nyssa e Turlough se perdem na floresta, onde descobrem a verdade sobre os agarradores, que há séculos aterrorizam os colonos de Chodor. O núcleo dos colonos até funciona, ainda que tenhamos um Doutor bastante genérico e Tegan sendo utilizada basicamente para verbalizar as inseguranças de Seksa. Mas o núcleo da floresta mostra-se ainda mais problemático, já que Nyssa e Turlough (dois personagens que passaram pouco tempo juntos na TV) não mostram sequer um esboço de dinâmica, deixando o ouvinte com a nítida impressão de que, se um deles não estivesse presente na história, nada mudaria. 

 Nos aspectos técnicos, The Whispering Forest também está longe de ser o trabalho mais acurado da Big Finish. Existe uma construção sonora interessante no primeiro capítulo e nas passagens envolvendo os ruídos da floresta, mas essa boa construção se perde após o segundo episódio, inclusive entregando um desenho de som que confunde o ouvinte nas várias sequências de ação do último episódio. O elenco regular também não está em seu melhor momento, com Sarah Sutton sendo a que mais acaba sofrendo. Embora ela utilize um timbre de voz mais maduro para Nyssa, o roteiro não faz nada para diferenciar esta Trakenite mais madura da versão mais jovem a que estamos acostumados. O texto já é um pouco mais generoso com o elenco convidado, que se aproveita bem disso. Hailey Atwell consegue tirar leite de pedra ao conceder grande carisma a Seksa, nos fazendo investir minimamente na jornada da moça que, no fim das contas, é a grande protagonista do arco. Sue Wallace, por sua vez, parece se divertir pra caramba ao dar voz à psicótica Mertil, transmitindo a insanidade histriônica da personagem sem exageros.

The Whispering Forest termina sendo um arco bem decepcionante e narrativamente preguiçoso. Não é uma história que seja ofensivamente ruim ou algo do tipo, mas ela se apega tão fortemente a tantos clichês, manipulando-os de forma tão óbvia, sendo que a própria história oferece várias oportunidades para batidas dramáticas mais instigantes que não tem como o ouvinte não se aborrecer um pouco. O arco se encerra com um bom gancho para o seguinte, que promove o retorno de um adversário clássico do 5º Doutor, em uma história que pode finalmente dizer a que este time da TARDIS veio. Ou confirmar de vez minha desconfiança inicial com essa iniciativa da Big Finish.

The Whispering Forest (Big Finish Mensal # 137)- Reino Unido. Agosto de 2010
Direção: Barnaby Edwards
Roteiro: Stephen Cole
Elenco: Peter Davison, Janet Fielding, Sarah Sutton, Mark Strickson, Hayley Atwell, Sue Wallace, Paul Shelley, Harry Melling, Lennox Greaves, Aneurin Barnard
Duração: 130 Minutos

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