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Crítica | Bill & Ted: Dois Loucos no Tempo

por Ritter Fan
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O sucesso de Bill & Ted: Uma Aventura Fantástica foi imediato, com o faturamento, na bilheteria, de quase sete vezes mais do que custou, fora o fenômeno cultural – não gigantesco, mas também não irrisório – que gerou na época. Obviamente que Hollywood sendo como é, uma continuação era inevitável e ela veio rapidamente em 1991, com Chris Matheson e Ed Solomon novamente no roteiro e todo o elenco de volta. A única saída mais sensível foi a do diretor, com Stephen Herek sendo substituído por Pete Hewitt em seu primeiro e até hoje mais significativo longa.

Como qualquer continuação de um grande estúdio, o receio era que todo o espírito do original fosse esmagado debaixo de mandos e desmandos da produção, especialmente considerando que o parco orçamento original de pouco mais de seis milhões de dólares ganhou uma generosa injeção para o segundo filme, chegando a nada menos do que 20 milhões. Mais controle era inevitável, mas isso, felizmente, não é sensível em Dois Loucos no Tempo. Ao contrário, é refrescante notar que o roteiro de Matheson e Solomon não se contenta em simplesmente repisar exatamente o que foi feito no filme original, ao ponto de o subtítulo em português sequer fazer sentido, já que não há exatamente viagem no tempo, pelo menos não no que se refere a Bill e Ted.

Mesmo assim, a história é sem dúvida familiar, começando no futuro com a introdução do vilanesco Chuck De Nomolos (Joss Ackland) que, ao contrário de Rufus (George Carlin que volta também, mas para uma ponta menor ainda), quer voltar ao passado para acabar com a dupla de pretensos músicos antes que eles ganhem a Batalha das  Bandas e solidifiquem o futuro “baseado neles”. Para alcançar seu objetivo e emulando O Exterminador do Futuro, ele envia o Bill Malvado e o Ted Malvado, dois androides iguais em tudo aos originais – e também vividos por Alex Winter e Keanu Reeves, claro – para o passado, com a missão de matar a dupla, algo que eles conseguem muito rapidamente, arremessando-os do penhasco usado de cenário em um capítulo de Star Trek: A Série Original que é mostrado logo no começo.

E, com isso, a verdadeira bogus journey do título começa fundindo elementos de nada menos do que O Sétimo Selo (a morte e o jogo com a morte) com Ghost: Do Outro Lado da Vida (a sessão mediúnica liderada pela agora madrasta de Ted e a possessão do pai de Ted e de seu braço direito), além do uso de cenários tipicamente do expressionismo alemão que emprestam um sabor realmente interessante e único às sequências no Inferno. Só essa reunião atípica e inesperada de referências audiovisuais já colocam o filme em um patamar superior ao original, algo que é confirmado pela maneira que o roteiro equilibra melhor as sequências de ação, transitando de maneira bastante fluida entre a versão etérea da realidade, por assim dizer, o castelo da Morte (William Sadler), o Inferno e o Céu, sempre apresentando novidades (Station, por exemplo, cujo nome foi um “caco de roteiro” em que essa palavra ficou por lá a partir da palavra Police Station, ou Estação de Polícia) e sempre contribuindo para o todo. O problema maior que existe é a estrutura muito claramente episódica que tornam as transições mais problemáticas do que deveria, já que a direção de Hewitt não se preocupa muito em criar conexões suaves, infelizmente.

Winter e Reeves que, no primeiro longa, carregaram tudo nos ombros, têm a responsabilidade suavizada aqui. Eles ainda são os grandes destaques, lógico, especialmente considerando que a dupla tem papel dobrado, mas Sadler como a Morte rouba muitas cenas, com o ator claramente divertindo-se demais em seu papel. Além disso, as várias novas situações e cenários integram um todo muito mais equilibrado, em um filme harmônico e bem bolado que repetem os bits anteriores – inclusive o paradoxo temporal “suecado” no clímax -, mas que se preocupa em introduzir novidades. Não é, lógico, um filme de grandes pretensões ou complexidades e nem precisa ser. Só de ele ser uma versão mais bem acabada do primeiro filme – graças ao orçamento polpudo, não tenho dúvida – já o destaca positivamente, em um raro exemplo de continuação que supera o original.

Bill & Ted: Dois Loucos no Tempo faz o que Hollywood não costuma conseguir fazer tão bem: continua a primeira história sem focar na pirotecnica, introduzindo novos e ótimos personagens e contando uma história que continua boba como precisava ser, mas que resulta em uma comédia besteirol de gabarito. Party on!

Bill & Ted: Dois Loucos no Tempo (Bill & Ted Bogus Journey, EUA/Reino Unido – 1991)
Direção: Peter Hewitt
Roteiro: Chris Matheson, Ed Solomon
Elenco: Keanu Reeves, Brendan Ryan, Alex Winter, William Throne, William Sadler, Joss Ackland, George Carlin, Chelcie Ross, Pam Grier, Annette Azcuy, Sarah Trigger, Hal Landon Jr., Amy Stock-Poynton, Ed Gale, Arturo Gil, Tom Allard, Michael “Shrimp” Chambers, Bruno “Taco” Falcon, Frank Welker, Tony Cox
Duração: 93 min.

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