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Crítica | Black Mirror – 3ª Temporada

por Iann Jeliel
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Black Mirror
Não é uma média.

Com uma identidade característica já formada, Charlie Brooker agora procurava expandir o horizonte, dobrando a quantidade de episódios a fim de garantir uma maior variação de gêneros, e consequentemente, aumentando a probabilidade de se repetir no processo. O 3° ano de Black Mirror parte dessa extensão com alguns bons resultados, ainda que se distancie de uma comunhão temática e entre em territórios conhecidos, o acerto foi mais significativo, tanto que é o momento mais popular da antologia.
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3X01 – Queda Livre

E se tivéssemos um ‘Tinder”, mas da vida em geral, em que pudéssemos julgar qualquer pessoa apenas por notas? Não estamos muito distantes dessa realidade, onde tudo que importa é apenas o status, representado por curtidas. Talvez com um dos conceitos, tecnologicamente falando, mais promissores da série, ao explorar como seriam as possibilidades de uma sociedade movida a ”personagens”, não é à toa que é o episódio mais conhecido da antologia até hoje. Pois é isso que acontece, em busca da melhor avaliação, o mundo vira um aparente mar de rosas, mas que é puramente falso como todo o desenrolar da trama principal da amizade das duas personagens. Questionando essas relações vazias, presas apenas a julgamentos, o episódio poderia ser um dos melhores se mais uma vez não caísse naquela ideia do exagero querer reforçar tanto isso que no final fica catastroficamente óbvio.

Black Mirror – 3X01: Nosedive
Direção: Joe Wright
Roteiro: Charlie Brooker, Rashida Jones, Michael Schur
Elenco: Bryce Dallas Howard, Alice Eve, Cherry Jones, James Norton, Alan Ritchson, Daisy Haggard, Susannah Fielding, Michaela Coel, Demetri Goritsas
Duração: 63 minutos
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3X02 – Versão de Testes

Um episódio discreto para muitos, mas é no mínimo um dos mais envolventes da temporada. Muito por conta de dois elementos: a transição do suspense para o quase horror e sem dúvidas seu carismático protagonista. É a junção dos dois elementos que vai nos proporcionar uma belíssima discussão sobre como nós lidamos com o próprio medo e até que ponto a tecnologia pode influenciar, mas claro, isso dentro de uma narrativa muito pessimista. A escolha de aliar tudo a uma reflexão a respeito da realidade virtual é sagaz, pois questiona a imersão como uma forma de amplificar o medo do desconhecido inovador tecnológico. O mais legal é como a direção nos manipula para dentro do jogo, tal como o que o protagonista está vivenciando, e graças à excelente performance de Wyatt Russell, nos faz sentir todo o peso que representa o final eximiamente inteligente.

Black Mirror – 3X02: Playtest
Direção: Dan Trachtenberg
Roteiro: Charlie Brooker
Elenco: Wyatt Russell, Hannah John-Kamen, Wunmi Mosaku, Ken Yamamura, Elizabeth Moynihan, Jamie Christofersen
Duração: 57 minutos
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3X03 – Manda Quem Pode

Muito parecido com Hino Nacional, Shut Up and Dance é sombrio, perturbador, intenso e ainda mais próximo da nossa realidade, onde o extremismo está apenas na forma como o jogo é desdobrado. Aliás, que jogo, hein? Contando com as situações mais inusitadas possíveis e ganhando um escopo cada vez mais grandioso, que nos faz pensar como é fácil manipular as pessoas através de chantagem do poderio tecnológico guiado pela privacidade. A intensidade dos desdobramentos é sufocante, porque nos importamos com os personagens e até então temos apenas uma parte de suas intenções, porque é a outra parte – a última carta na manga do roteiro – o que torna esse estudo tão fantástico. Ao descobrirmos a informação crucial, repensamos todo o resto que vimos, caindo as máscaras das verdadeiras personas de tantos empáticos por aí representados pelo protagonista. Um dos melhores episódios da série!

Black Mirror – 3X03: Shut Up, and Dance
Direção: James Watkins
Roteiro: Charlie Brooker, William Bridges
Elenco: Alex Lawther, Jerome Flynn, Susannah Doyle, Frankie Wilson, Jimmy Roye-Dunne, Hannah Steele
Duração: 52 minutos
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3X04 – San Junipero

Para muitos, o episódio mais bonito da série, o que não deixa de ser verdade, tão belo que às vezes nem parece ser Black Mirror, ao menos na primeira metade, quando é desenvolvido o romance. Esse que com muita sutileza e sensibilidade nos deixa confortáveis diante da grande solução tecnológica que viria no futuro para a problemática do tempo, para isso era necessário muita química e empenho das atrizes, algo que é visto com sobras. Uma vez que o romance tenha funcionado tão bem, as questões posteriores se tornam muito mais complexas e filosóficas ao explorar uma tecnologia em que é possível quase atingir a imortalidade. Nisso, entramos em devaneios das personagens principais, que têm através da tecnologia uma forma de vivenciarem novamente o passado, mesmo que seus erros talvez não possam ser corrigidos.

Black Mirror – 3X04: San Junipero
Direção: Owen Harris
Roteiro: Charlie Brooker
Elenco: Gugu Mbatha-Raw, Mackenzie Davis, Denise Burse, Raymond McAnally, Gavin Stenhouse, Cheryl Anderson, Jackson Bews
Duração: 61 minutos
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3X05 – Engenharia Reversa

Uma pena que uma temporada que estava indo tão bem teve tamanho tropeço, tanto em ritmo quanto em discussões. No episódio mais vazio e aleatório da série, vamos para uma discussão superficial sobre o manto militar e a “objetificação” de seus soldados. Guiados por um enredo arrastado e atores pouquíssimo carismáticos. Demasiadamente cansativo e repetitivo, parece que estamos dando voltas em um quarteirão, saindo de um lugar para voltarmos à origem, não há uma gradativa paranoia para a grande revelação. E como resultado ela acaba perdendo o peso, mesmo sendo bastante inteligente e perturbadora. É um episódio tão esquecível que assim que você sai dele, já nem lembra mais o que aconteceu.

Black Mirror – 3X05: Men Against Fire
Direção: Jakob Verbruggen
Roteiro: Charlie Brooker
Elenco: Malachi Kirby, Madeline Brewer, Ariane Labed, Sarah Snook, Michael Kelly
Duração: 60 minutos
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3X06 – Odiados Pela Nação

Amado por muitos, o famigerado “episódio das abelhas” tem muitos pontos interessantíssimos de discussão guiados por uma linha narrativa mais uma vez exaustiva. São muito interessantes os pontos em que ele toca sobre o domínio do discurso de ódio no mundo, onde adentramos numa investigação para saber o que estava alimentando um aplicativo que estava literalmente disseminando o ódio. Fato é que os desdobramentos dessa investigação são surpreendentes e perturbadores como qualquer bom episódio da série, porém guiados por personagens estafantes e desinteressantes, e com uma edição truncada que pouco avança a narrativa. Por mais interessante que seja a premissa, seus 90 minutos para desenvolvê-la foram completamente exagerados, tornando maçante a experiência. Anteriormente, a série precisava de bem menos para impressionar.

Black Mirror – 3X06: Hated in the Nation
Direção: James Hawes
Roteiro: Charlie Brooker
Elenco: Kelly Macdonald, Faye Marsay, Benedict Wong, Jonas Karlsson, Joe Armstrong, Elizabeth Berrington, Charles Babalola, Ben Miles, Esther Hall, Holli Dempsey
Duração: 89 minutos
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XXXXXXXXXXXX

Na salada de narrativas sem tanta regularidade, o 3° ano passa a média por méritos individualmente inquestionáveis.

Black Mirror – 3ª Temporada | EUA, 21° de Outubro de 2016
Criação: Charlie Brooker
Duração: 6 episódios

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