Home TVEpisódio Crítica | Black Mirror: White Christmas

Crítica | Black Mirror: White Christmas

por Davi Lima
4,9K views

White Christmas

Não existe drama além da punição nesse episódio de natal. Com uma base adaptativa de Um Conto de Natal com ausência redentiva, o episódio especial White Christmas de Black Mirror ajunta mais uma vez em seu formato antológico o excesso de representação tecnológica com falta de ética por despreparo emocional num futurismo. Porém, infelizmente, a aposta no efeito punitivo diante de um contexto celebrativo como o natal se confunde com o drama de indignação em meio à desesperança, especialmente quando os caráteres sensitivos são artificiais na construção disso.

Na visão geral da história esse episódio, o pólo central que viabiliza a coerência anti humana nos tempos distópicos da série é o personagem Matt interpretado por Jon Hamm. Seu caráter desfeito não é colocado em cheque nem pela sua atuação insensível a questões humanas básicas, nem por conseguir mentir no paralelismo com a verdade mostrada como contos eráticos da distopia. O personagem se encaixa na fotografia frontal ou que dispõe narrativamente pelo seu falatório a transição da câmera da direita para a esquerda como alteração dramática da história. Sua visão de mundo se mistura com a representação direta da falibilidade dos tempos que a série busca representar, em que ele serve como apresentador mor de qualquer agregação ao episódio por ser fruto genuíno do que a linguagem da antologia serial tem como objetivo para o impacto.

Nesse formato, tudo o que se conta e o objetivo de querer ouvir, ou entender o contexto de uma casa no meio do nada que abriga dois homens que trabalham com gelo, se conecta muito bem a coloração, em todo o trabalho sensitivo de imagem a medida que o caminhar do que se conta cinematograficamente acompanha descobertas. Há plano holandês, entre outras toques digitais na imagem para alternar o sensitivo para os momentos de memória, alá encontros na literatura de Mr. Scrooge com os Fantasmas dos Natais de diferentes tempos. Essa percepção estética não é necessariamente didática, mas pontua uma acessibilidade a possibilidade de impacto, denotando sem muito escrúpulos os pontos tensos da trama, ao mesmo tempo que o apático branco da série é mais uma vez utilizado nessa dependência da dramatização esterilizada e insensível que alguma hora precisa explodir pela maldade no uso da tecnologia.

No entanto, como o apelo dramático se baseia no uso da tecnologia com extremo emocional, como o bloqueio de uma pessoa, a inevitabilidade de usar olhos digitais, ou o uso de ferramentas para uso doméstico se tornaram uso policial de investigação, as histórias de homens que cometeram erros com suas famílias não apenas são portas para demonstrar a distopia opressiva como moraliza questões biológicas como instrumento impactante, sem compreender as causas e consequências dramáticas além da tecnologia como centro narrativo. Toda a construção visual não se relaciona às mudanças morais, apenas serve a explosão de um plot twist para mitificar a eloquência de um discurso organizado de imagens.

Logo, noções sobre o aborto, esquizofrenia e escravidão soam intinerantes dentro da insensibilidade tecnológica desenvolvida e a descoberta de sensibilidade de um prisioneiro. O aspecto natalino como uma representação de algo bom, e a aventura por memórias para se perceber que nem tudo numa trajetória trágica é de todo mal, é ponto de mesquinhez, levando mais uma vez a série Black Mirror a subserviência ao abalo emocional momentâneo do que em saber tratar seus dramas com a tecnologia. É mais sobre como o bloqueio nas redes sociais pode ser extrapolado do que de fato problematizado em comoções reais, ou como repercussões de questões biológicas secundárias, que também são sociais, representam apenas um mundo para manter uma eloquência tecnológica.

Se por um lado a punição como foco torna o episódio de Natal algo bem produzido e bem relacionado com dinâmicas sociais e de ética que podem ser parelhas com a sociedade contemporânea, ao mesmo tempo secundariza os dramas reais como mero sustos, acidentes mal compreendidos para que o público compreenda a injustiça e o sem limites da maldade humana. O inverso natalino, esbranquiçado de neutralidade insensível, mas sem nenhum sacrifício no que se importar. Bem pós-moderno, mas muito satisfeito em evidenciar do que propor ideias como aparenta punir seus personagens.

Black Mirror: White Christmas (Black Mirror: White Christmas | Reino Unido, 2011)
Direção: Carl Tibbets
Roteiro: Charlie Brooker
Elenco: Jon Hamm, Rafe Spall, Oona Chaplin, Dan Li, Natalia Tena, Janet Montgomery, Rasmus Hardiker, Ken Drury
Duração: 93 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais