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Crítica | “Black Pumas” – Black Pumas

por Kevin Rick
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I woke up to the morning sky first

Baby blue, just like we rehearsed

When I get up off this ground, I shake leaves back down

To the brown, brown, brown, brown ‘til I’m clean

Escutar o álbum de estreia do Black Pumas é um paradoxo interessantíssimo. A primeira vez que ouvi as (sensacionais) 10 faixas da obra, a palavra mais próxima que poderia descrever minha experiência seria nostalgia. Não de um momento musical que vivi ou algum evento da indústria fonográfica que acompanhei, mas um som que resgata os anos 60 e 70, grande era explosiva do Soul e do Funk. Quanto mais se escuta e estuda música, se torna mais facilmente possível identificar um estilo musical inserido em um período ou então inspirado nele, e a melodia proposta nesse álbum baseia-se bastante no retrô, um resgate do passado soul, numa forma de homenagem e viagem transcendental a esta era psicodélica.

Aliás, a banda chefiada pelo duo de Eric Burton (vocalista/guitarrista) e Adrian Quesada (produtor/multi-instrumentalista), assume o Soul Psicodélico como identidade da obra, mas diferentemente de um Childish Gambino em Awaken, My Love!, que propõe a sonoridade psicodélica como um mergulho em diferentes gêneros, buscando versatilidade e experimentação, o Black Pumas assume um caminho mais comum, por assim dizer. Não digo isso de forma negativa, pois a banda oferece um delicioso resgate do blaxploitation, com camadas de R&B, Blues e… latinas?

Eu disse que era uma experiência paradoxal, certo? À medida que escutei a obra novamente, notei um toque contemporâneo que propõe essa dualidade melódica da produção musical, especialmente com inserções de Quesada, ex-membro do Grupo Fantasma, uma banda de rock latina, de um certo funk latino, muito leve mesmo – especialmente nos “batuques” de fundo -, mas que casa muito bem com o quadro geral do Soul. Não obstante, o passado musical gospel de Eric Burton, que começou a cantar em igrejas, também é inserido na obra, com vários músicos de apoio cobrindo a seção rítmica, guitarra e teclados adicionais, além de metais, cordas e vocais de fundo. Black Pumas não chega a ser experimental, bem longe disso na verdade, mas o resgate nostálgico é acompanhado por uma produção elástica que sabe dar toques modernos e criar sua própria identidade em uma proposta vintage.

Black Moon Rising  abre o álbum com um senso de espetáculo sensual e resgate do clássico soul/blues, com uma certa estética cinemática que a melodia recebe, evocando uma sonoridade urbana dos anos 70 com o piano elétrico. É uma faixa lenta, carregada pela voz elástica e espacial de Burton, que dita a personificação do cantor, assumindo qualquer papel necessário para suas canções, desde um amante apaixonado a um homem ordinário melancólico. Colors, minha música favorita do álbum, vem logo em seguida, apropriando-se da sua responsabilidade de hino soul moderno, desde as cordas que passam uma sensação folk, sua construção de um refrão poderoso com palmas – clássico soul! -, até os maravilhosos compassos do teclado energético que ditam o groove ora animado, ora melancólico da obra.

As outras canções mantém a identidade orquestral da produção de Quesada, que reverencia o clássico com cada instrumento, como a bateria em evidência em Old Man, os órgãos psicodélicos em Fire, a balada do espetáculo vocal de Burton em OCT 33, que recebe o espaço para trabalhar sua paixão melancólica que conecta com o público no melhor estilo profundo e lento do soul. Sweet Conversations fecha o álbum como um sonho alucinógeno, na voz áurea de Burton.

Black Pumas é uma belíssima estreia para o duo promissor de Eric Burton e Quesada, que já dispõem de um grande alcance sonoro, seja na produção versátil de Quesada, ou na voz multifacetada de Burton, atingindo qualquer espectro emocional para pagar homenagem ao Soul. É nostalgia sim, mas com uma composição contemporânea dada às viagens internas das canções. Uma obra sobre e para a alma.

Aumenta!: Colors
Diminui!: Só aumenta!

Black Pumas
Artista: Black Pumas
País: EUA
Lançamento: 21 de junho de 2019
Gravadora: ATO
Estilo: Soul

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