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Crítica | Black Sails – 4X03: XXXI

por Ritter Fan
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estrelas 4,5

Obs: Leia, aqui, as críticas das demais temporadas. Há spoilers.

Quando acabei de assistir este episódio de Black Sails, reparei que estava agarrando as almofadas do sofá com toda a força e não estava mais refestelado nele como um paxá, além de sentir desagradáveis gotas de suor na testa. Foi como acordar de um pesadelo, diria, algo que poucas séries de TV conseguem fazer comigo.

E o mais interessante é que o roteiro de Jonathan E. Steinberg e Brad Caleb Kane parece que de certa forma brinca com o espectador até o momento em que a tortura do Capitão Teach começa, com uma espécie de longo prelúdio emoldurado por flashbacks para uma sinistra conversa entre o Capitão Berringer e o Governador Rogers em que vagarosamente descobrimos quem é o verdadeiro monstro entre os dois. Nestas sequências iniciais, que tomam um bom pedaço do episódio, o espectador é deixado em banho maria, com a temperatura da água sendo aumentada vagarosamente, por assim dizer, com a descoberta do esconderijo de Long John Silver e Israel Hands, a revelação de que o grupo restante de Flint é minúsculo e completamente vulnerável e de que há algo muito errado na perseguição marítima de Teach a Rogers. É até possível imaginar que nada de muito relevante acontecerá no episódio, já que ainda é relativamente muito cedo na última temporada de Black Sails para que algo efetivamente grande mude o rumo da narrativa principal. No entanto, embalado pela trilha sonora particularmente inspirada de Bear McCreary, que vai nos deixando inquietos aos poucos, somos levados a talvez o mais sanguinolento capítulo da série até agora.

Para quem estava inquieto com o tempo de permanência de Flint em terra, sentindo falta de ação em alto mar, a perseguição de Teach foi um alento, ainda que breve. Vê-se um aspecto finalista na forma como o Barba Negra passa o comando para Jack Rackham e fica evidente pela nova luz com que passamos a ver Rogers, que algo muito errado está para acontecer. Só não é possível realmente é entender a magnitude do que vem logo em seguida. Mesmo quando Teach, derrotado, mas ainda desafiador, é mergulhado no mar e puxado de volta todo ensanguentado, não entendemos direito o que aconteceu e Roel Reiné dirige a sequência quase que com sadismo, colocando-se nos sapatos do governador em sua tarefa de quebrar os piratas, mas só fortalecendo seus espíritos com a recusa de Teach em se entregar facilmente. Usando o silêncio como seu aliado, o diretor é inteligentíssimo aos nos mostrar apenas parte do primeiro mergulho, causando confusão somente para que, no segundo, entendamos exatamente a natureza do que Rogers está fazendo e, finalmente, no terceiro, estejamos tão exaustos de tensão que realmente torcemos para que a agonia acabe. É a partir desse ponto que provavelmente comecei a enrijecer-me no sofá, agarrando as almofadas no processo. A tortura de Teach não só é a forma perfeita de encapsular os dilemas morais da série e de sublinhar o fato de que ninguém é “mocinho” ou “vilão” aqui, como é uma bela maneira de nos despedirmos do personagem de Ray Stevenson que teve curta, mas marcante presença.

Em terra, Long John Silver finalmente é achado por Flint graças a Madi e, pela primeira vez, vemos Luke Arnold efetivamente agir como a lenda criada por Billy deu a entender que agiria, reunindo a ilha em torno de uma só causa: expulsar os ingleses dali. Ajudou, no processo, a obsessão de Berringer em derrotar os piratas em praça pública, algo que poder ser visto como uma conveniência do roteiro, mas que, na verdade, vinha sendo construído vagarosamente desde que a temporada começou e marcadamente a partir do início do episódio, com ele observando, saudoso, os retratos de sua família. A conveniência do roteiro, na verdade, está nas duas chegadas de último minuto que acontecem em perfeita sintonia com a de Silver e Flint: primeiro Madi com os ex-escravos e a população revoltosa local e, depois, Billy e sua gangue. Certamente houve um exagero aqui, mas tenho para mim que essa reunião faz sentido se imaginarmos como a informação circula facilmente pela ilha, dando a exata dimensão do que Long John Silver representa. Se um Rei Pirata é morto em alto-mar, outro Rei Pirata o sucede em terra.

Claro que Eleanor Guthrie, inteligente como é, correu agora para o forte e provavelmente ficará entocada por lá até a volta de Rogers, controlando o acesso à baía. É uma posição privilegiada e, como já vimos, difícil de ser tomada, pelo que os piratas terão problemas para fincar sua bandeira de forma definitiva por ali. O importante, porém, é que, agora, o jogo virou e o tabuleiro está desarrumado com o jogo pronto para recomeçar em bases mais igualitárias. Rogers já mostrou do que é capaz em termos de estratégia e violência e suas habilidades serão mais do que necessárias agora para recuperar o que está perdendo. Mas a questão é que Flint e Silver não ficam muito atrás.

A história de Black Sails está sendo fechada maravilhosamente bem. Sim, ainda há um bom pedaço pela frente – faltam sete episódios! – e é de se esperar, ainda, muitas mortes, traições e combates terrestres e marítimos, mas já é perfeitamente possível concluir que estamos diante de mais uma temporada de tirar o fôlego. Minhas almofadas serão agarradas muitas vezes mais, tenho certeza…

Black Sails – 4X03: XXXI (EUA, 12 de fevereiro de 2017)
Criação e showrunners: Jonathan E. Steinberg, Robert Levine
Direção: Roel Reiné
Roteiro: Jonathan E. Steinberg, Brad Caleb Kane
Elenco: Toby Stephens, Hannah New, Luke Arnold, Jessica Parker Kennedy, Tom Hopper, Toby Schmitz, Clara Paget, Hakeem Kae-Kazim, Sean Cameron Michael, Louise Barnes, Rupert Penry-Jones, Meganne Young, Nick Boraine, Tadhg Murphy, Angelique Pretorius, Anna-Louise Plowman, Andrian Mazive, Moshidi Motshegwa, Jason Cope, Jenna Saras, Ray Stevenson, Luke Roberts, Zethu Dlomo, David Wilmot, Chris Larkin
Duração: 55 min. aprox.

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