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Crítica | Black Summer – 2ª Temporada

por Ritter Fan
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  • Leiam, aqui, a crítica da temporada anterior.

Black Summer demorou, mas voltou ao Netflix para uma 2ª temporada que, sem deixar nada a dever à primeira, é veloz, furiosa, desnorteadora e visceral, um retorno muito bem-vindo ao filme B de zumbi de décadas atrás. Para todos os efeitos, a criação de Karl Schaefer e John Hyams, constrói em cima da pegada alucinada de Madrugada dos Mortos e é tudo aquilo que Army of the Dead, do mesmo Zack Snyder, almejava ser, mas que falhou miseravelmente em seu intento.

Sem trair as raízes da 1ª temporada, o segundo ano do que apenas em princípio, bem lá de longe, é um prelúdio de Z Nation, foca no estilo sobre substância, entregando oito episódios frenéticos de ação desmorta que usa e abusa de ângulos estranhos, close-ups extremos, tomadas aéreas com drones, câmera na mão e, principalmente, de planos-sequência longos e sem cortes (ou, pelo menos, com cortes camuflados). Mas não se enganem aqueles que acham que essa escolha estético-visual-estilística é um fim em si mesmo, pois, mesmo sem desenvolver personagens da maneira tradicional – afinal, quase não há diálogos e o foco fica quase que exclusivamente em Rose (Jaime King) e sua filha Anna (Zoe Marlett), reunidas ao final da temporada anterior -, a mensagem que a série passa é absolutamente pessimista, com essa distopia, ainda no início da pandemia zumbificadora, sendo descrita, a cada sequência, como sendo o fim da raça humana como a conhecemos, involuindo o Homem ao seu estado selvagem, basal, interessado apenas na sobrevivência individual e despindo-se de toda e qualquer civilidade.

A velocidade como tudo rui e como os personagens recorrem aos atos mais terríveis de egoísmo e violência pode parecer pura ficção, mas, se pararmos realmente para pensar, notaremos que é muito, mas muito mais real do que gostaríamos que fosse. E é para ilustrar esse beco sem saída da humanidade que a abordagem estilística se justifica, colocando o espectador no meio da pancadaria sem trégua em que os enlouquecidos e extremamente rápidos desmortos são os problemas mais insignificantes no cômputo geral. A sensação de urgência e tensão ao longo da temporada é constante, mesmo em momentos mais parados, assim como é a desorganização completa da humanidade. Aqui, diferente de outros filmes e séries, não há um líder que bate no peito, esbraveja palavras de ordem e tenta, ato contínuo, reconstruir a civilização. Muito ao contrário, o caos reina em Black Summer e ele não dá trégua alguma, como cada um dos personagens pensando apenas em seu umbigo, com a honrosa exceção da coreana Sun (Christine Lee) que tem uma jornada silenciosa, mas particularmente sofrida neste segundo ano.

Mas há mais do que isso para ser apreciado. Afinal, se prestarmos atenção nos planos-sequência alongados, veremos que existe um cuidado excepcional e uma técnica maior ainda para lidar tanto com situações de literal guerra civil, como é o absolutamente enlouquecedor primeiro episódio (quem se sentir frustrado com ele, um recado importante: é proposital e tudo é depois explicado e contextualizado a contento, já que grande parte da temporada conta com montagem não-linear) ou a magnífica fuga desesperada de Mance (Jesse Lipscombe) no último, como com situações intimistas, em que a câmera segue apenas um ou dois personagens, caso de Spears (Justin Chu Cary) e Braithwaite (Bechir Sylvain) no quinto episódio ou as sequências estilo casa mal-assombrada com Anna no chalé, no sétimo.

A paisagem eminentemente nevada e florestal da temporada é outro fator que favorece tomadas esteticamente muito bonitas, o que funciona muito bem para amplificar o contraste entre o mundo ideal, apesar dos zumbis, e o mundo sujo, feio, violento e doente da Humanidade. E falo aqui inclusive das protagonistas, pois Rose e Anna não são personagens agradáveis e a direção de John Hyams e Abram Cox não faz a menor questão de amenizar essa característica. Aliás, isso vale para quase todos os personagens, inclusive e especialmente o ex-soldado Ray Nazeri (Bobby Naderi), introduzido nesta temporada e que ganha um arco interessantíssimo (dentro do conceito espartano da série, claro), inclusive com uma dolorosa “história de origem”.

Black Summer é, não tenho dúvida alguma em afirmar, uma das duas melhores séries de zumbi hoje em andamento (a outra é Kingdom) e, mais do que isso, uma das melhores obras do gênero em muito tempo. Mesmo que as performances sejam “duras” como a premissa até exige, temos que lembrar, a técnica é próxima da perfeição, com a segunda temporada conseguindo ir ainda além em tudo o que exibe se comparado com a primeira. Raras vezes o caos absoluto e a desesperança na Humanidade foram tão bem retratados em obras criadas para serem puro entretenimento quanto aqui. Fica a torcida para pelo menos mais uma temporada para que seja possível fechar a história a contento, pois a série definitivamente merece.

Black Summer – 2ª Temporada (Idem, Canada/EUA – 17 de junho de 2021)
Criação: Karl Schaefer, John Hyams
Direção: John Hyams, Abram Cox
Roteiro: John Hyams, Karl Schaefer, Daniel Schaefer, Sarah Sellman, Abram Cox, Henry G.M. Jones, Jen Derwingson-Peacock
Elenco: Jaime King, Zoe Marlett, Justin Chu Cary, Christine Lee, Bobby Naderi, Manuel Rodriguez-Saenz, G. Michael Gray, Dakota Daulby, Bechir Sylvain, Jesse Lipscombe
Duração: 280 min. (oito episódios)

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