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Crítica | Blade Runner: Black Lotus – 1X01 e 02: Cidade dos Anjos e Tudo Que Não Somos

Retornando à familiar Los Angeles distópica.

por Ritter Fan
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Talvez em razão do fracasso financeiro dos dois longas cinematográficos do universo Blade Runner, a propriedade não sofra de exploração excessiva, ficando restrita a algumas obras aqui e ali que conseguem manter intacta a cronologia entre eventos intermídias. Por outro lado, como Blade Runner e Blade Runner 2049 são também clássicos da ficção científica, cada nova exploração audiovisual precisa ser comemorada e Black Lotus é a primeira vez em que a franquia envereda pelo caminho de série, ainda que não seja a primeira vez que adota o formato de anime.

Uma produção nipo-americana da Crunchyroll com a Adult Swim em parceria com a Alcon Entertainment, a série tem supervisão de ninguém menos do que Shinichirō Watanabe, de Cowboy Bebop, e que dirigiu e roteirizou Black Out 2022, o terceiro curta-prelúdio do longa de Denis Villeneuve e primeiro anime da franquia. Black Lotus se passa 10 anos depois de Black Out, que, por sua vez, lida com o evento que levou à proibição da fabricação dos androides conhecidos como Replicantes e, neste começo, foca em Elle (Arisa Shida na versão em japonês e Jessica Henwick na versão em inglês), uma jovem desmemoriada com uma tatuagem de uma lótus negra nas costas e que carrega um dispositivo criptografado que acorda em um caminhão indo em direção a Los Angeles .

Essa premissa é, diria, muito batida e, portanto, exige algo mais em termos narrativos para funcionar de verdade, evitando as armadilhas inerentes a ela, como o empilhamento de mistérios em cima de segredos. A boa notícia é que com apenas dois episódios lançados simultaneamente e que funcionam como um só – e eu desconfio que a temporada toda será assim, com capítulos encaixados muito proximamente ao imediatamente anterior, dando impressão de um longa-metragem dividido em 13 partes -, o roteiro de Sameer Hirlekar não tenta esconder o óbvio e já deixa evidente que Elle é uma Replicante, algo primeiro visto no clássico reflexo em seus olhos e, depois, textualmente, para não deixar dúvidas. Mas a má notícia é que falta o “algo mais”.

Em Cidade dos Anjos, temos o típico capítulo da autodescoberta, em que Elle, ainda aturdida, acaba procurando a ajuda de Doc Badger (Takayuki Kinba/Barkhad Abdi) para analisar o aparelho que tem em mãos e, como pagamento, depois de perceber que tem habilidades especiais, elimina, com extrema violência, uma gangue local que o achaca constantemente. Como em uma escada, no episódio seguinte, Tudo Que Não Somos, seu encontro com o hacker a leva ao literal andar superior em que ele o apresenta a Joseph (Shinshu Fuji/Will Yun Lee) e, dali, sem querer, em um flash de memória, Elle reconhece o Senador Bannister (Masane Tsukayama/Gregg Henry) na televisão, imediatamente partindo para interpelá-lo com resultado que parece ser o verdadeiro catalisador da trama, não só com a entrada da instintiva policial Alani Davis (Takako Honda/Samira Wiley), como também – e talvez principalmente para a história macro – a conexão direta com a Wallace Corporation, algo estabelecido pela conversa entre Niander Wallace Sr. (Takaya Hashi/Brian Cox) e seu filho Niander Wallace Jr. (Takehito Koyasu/Wes Bentley) que viria a ser interpretado, mais velho e cego, por Jared Leto.

Confesso que Elle, apesar de mostrar habilidade com uma katana e também com os próprios punhos, ainda é uma personagem muito… banal para realmente se destacar. Claro que isso pode mudar – e eu espero que mude! -, mas, por enquanto, ela não é mais do que um fio condutor para a reapresentação desse sempre fascinante universo, algo que a animação faz muito bem, com cenários em computação gráfica realista que recriam à perfeição a atmosfera escura, suja, mas ao mesmo tempo muito colorida e vibrante da Los Angeles desse futuro distópico. A sensação de que o espectador está de volta a esse ambiente cyberpunk é completa e muito satisfatória, com a trilha sonora composta por Michael Hodges e Gerald Trottman conseguindo emular tanto o trabalho de Vangelis quanto o de Benjamin Wallfisch e Hans Zimmer nos dois longas, o que amplifica a imersão quase que instantaneamente.

O que não funciona é o CGI dos humanos e androides. Apesar de a animação em si ser boa e dinâmica o suficiente para garantir a fluidez das sequências de ação, os personagens parecem uma coleção de bonecas e bonecos Barbie e Falcon, com um brilho plástico estranho na pele, feições limpas demais mesmo quando sujas e que quebram a imersão, com cabelos que desafiam a gravidade, algo que fica evidente nos diversos close-ups em Elle. Confesso que não entendo essa escolha, considerando justamente o que Watanabe fez em Black Out 2022 e temo que os personagens acabem perdendo muito com essa abordagem estética para lá de estranha e infeliz. Não tenho esperanças de que isso melhore nesta primeira temporada, mas espero com todas as forças que, se houver continuidade, a computação gráfica ganhe um bom upgrade nesse aspecto.

Os dois capítulos iniciais de Black Lotus funcionam quase que exclusivamente para trazer sorrisos aos rostos dos espectadores pelo retorno ao universo Blade Runner, com uma atmosfera visual e sonora exemplar que, infelizmente, não ganha eco nem na história até o momento e muito menos no CGI plástico dos personagens. Fica a torcida para que Elle mostre-se mais densa e interessante do que o que foi revelado até agora e que os demais personagens realmente ganhem mais dimensões para que a série tenha chance de expandir a mitologia de maneira significativa e, quem sabe, ser mais um exemplar memorável da franquia.

Blade Runner: Black Lotus – 1X01 e 1X02: Cidade dos Anjos e Tudo Que Não Somos (EUA/Japão, 14 de novembro de 2021)
Direção: Shinji Aramaki
Roteiro: Sameer Hirlekar
Elenco (em japonês): Arisa Shida, Takayuki Kinba, Shinshu Fuji, Takaya Hashi, Takehito Koyasu, Masane Tsukayama, Takako Honda
Elenco (em inglês): Jessica Henwick, Barkhad Abdi, Will Yun Lee, Brian Cox, Wes Bentley, Gregg Henry, Samira Wiley
Duração: 22 min. cada episódio

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