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Crítica | Blade Runner: Black Lotus – 1X06: Sombras de Memórias

Androides sonham com vingança?

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Com Sombras de Memórias, Blade Runner: Black Lotus parece encontrar o equilíbrio ideal entre ação e reflexão ao colocar Elle em seu caminho de vingança pela Caça às Bonecas e, mais amplamente, pela sua própria existência com esse propósito nefasto. É talvez aqui que finalmente vemos a protagonista com o mesmo tipo de agonia sobre sua vida que Roy Batty e seus colegas sentiam no Blade Runner original, o que lhe empresta camadas torturantes e muito relevantes para fazer a série realizar seu potencial, deixando de ficar presa a uma estrutura quase minimalista em termos de sequência de acontecimentos.

No episódio, Elle parte para começar sua vingança e seu primeiro alvo é Josephine Grant (Yoshiko Sakakibara/Peyton List), esposa do chefe de polícia Earl Grant que participara da caçada. Toda a ação é construída ao redor disso, com Earl, Marlowe e também Alani convergindo separadamente para o suntuoso apartamento de cobertura que dá todas as indicações da corrupção do policial (ou da família rica da esposa, não sei) enquanto Elle dá cabo dos policiais que protegem Josephine e, depois de amarrá-la a uma cadeira, a interroga. Apesar de toda a violência que a Replicante já mostrou ser capaz de cometer, o roteiro de Margaret Dunlap faz questão de deixar bem claro que ela não é uma máquina de matar, mas sim alguém que tem sentimentos como um humano.

A partir da chegada de Earl, o episódio passa a focar na tensão e principalmente na ação, com o chefe de polícia precipitando sua própria morte e a de sua esposa, algo que Alani testemunha de maneira “errada”, o que certamente tornará ainda mais difícil a policial novata acreditar na jornada da Replicante. Mas o ponto alto da pancadaria vem mesmo com a explosiva – literalmente – entrada de Marlowe, esse sim revelando-se como uma máquina inclemente de matar que não hesita um segundo sequer em tentar liquidar Elle e que, a não ser que eu esteja muito enganado, exibe habilidades sobre-humanas que lembra muito K, de Blade Runner 2049. Seria ele um precursor do personagem de Ryan Gosling, um androide que caça androides?

Apesar do incurável problema da renderização dos personagens humanos, Black Lotus sempre demonstrou que, no departamento de animação de ação, ela está bem servida e a pancadaria entre Elle e Marlowe é um exemplo claro da qualidade que a série é capaz de oferecer. Apesar do espaço relativamente confinado, as sequências são variadas, cinéticas, bem coreografadas e cheias de surpresas, com um ótimo trabalho de luzes, reflexos e textura dos ambientes, ainda que por vezes demonstre gráficos decepcionantes aqui e ali, notadamente nos destroços produzidos pelos poderosos tiros do Blade Runner no mobiliário do apartamento.

Retornando à história e novamente citando o clássico filme original, parece-me que a estrutura narrativa do momento se assemelha às dos Replicantes liderados por Roy Batty, ainda que com propósitos diferentes. No clássico oitentista, os cienstistas responsáveis pelo desenvolvimento de partes dos corpos sintéticos são sistematicamente eliminados pelos Replicantes que os usam como escada para chegar ao seu criador. Aqui, Elle faz o mesmo, ainda que a eliminação de Earl e Josephine não fizesse parte de seu plano original de descobrir que é que está no topo da cadeia de criação de androides para o prazer sádico de humanos amorais. Ao que tudo indica, seu próximo passo é ir atrás de alguém que se chama Doutor M, que também participou da caçada juntamente com outro potencial alvo da jovem, o jornalista Hooper.

Além disso, na primeira sequência em que vemos Marlowe no episódio, a desconfiança de que Joseph já foi um Blade Runner é confirmada – ou fica ainda mais forte -, com os dois já tendo tido algum tipo de parceria no passado. Isso, claro, explica o porquê de Joseph ter um aparelho do teste Voight-Kampff em seu apartamento e saber ministrá-lo, além de usar uma pistola padrão da polícia. Resta apenas esperar para que seu passado seja descortinado, já que há um bom potencial de desenvolvimento da série também por aí, já que a investigação de Elle, alguma hora, a fará chegar no escalão mais alto e, consequentemente, inatingível dessa estrutura corrupta.

Sombras de Memórias é uma demonstração do que Black Lotus pode ser, funcionando tanto como um bom representante do tipo de ação frenética que a série pode ter, como uma ótima introdução às questões angustiantes afeitas à Elle e suas memórias implantadas e sentimentos programados, o que nos permite um pouco mais de tempo para observar a complexidade dos seres sintéticos deste fascinante universo.

Blade Runner: Black Lotus – 1X06: Sombras de Memórias (EUA/Japão, 12 de dezembro de 2021)
Direção: Kenji Kamiyama, Shinji Aramaki
Roteiro: Margaret Dunlap
Elenco (em japonês): Arisa Shida, Takayuki Kinba, Shinshu Fuji, Takaya Hashi, Takehito Koyasu, Masane Tsukayama, Takako Honda, Yurie Kozakai, Hoshu Otsuka, Taiten Kusunoki, Yoshiko Sakakibara
Elenco (em inglês): Jessica Henwick, Barkhad Abdi, Will Yun Lee, Brian Cox, Wes Bentley, Gregg Henry, Samira Wiley, Charlet Chung, Stephen Root, Josh Duhamel, Peyton List
Duração: 22 min.

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