- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.
Confesso que a última coisa que eu esperaria em uma série animada com 13 episódios de 22 minutos cada era um capítulo quase todo dedicado a recapitular o que aconteceu. Não só isso é típico apenas de séries com infinitas temporadas, cada uma com 24 episódios de 45 minutos, como dá a entender que os eventos dos sete episódios anteriores são complexos o suficiente para levar a esse “vale a pena ver de novo” baseado em flashbacks, mas desta vez com narração da policial Alana Davis sendo interrogada pelo investigador Alan Chen (Yuuya Uchida/Greg Chun) em razão de sua proximidade com o rastro de mortes deixado por Elle.
O objetivo do episódio – levar Davis à suspensão temporária em razão de um diagnóstico obviamente manipulado de problemas mentais, o que, obviamente, só tenderá a recrudescer sua vontade de solucionar o caso – poderia ser alcançado de dezenas de maneiras diferentes, inclusive com o uso de flashbacks, mas transformar The Davis Report em uma recapitulação completa consegue transformar a normalmente rápida e eficiente duração dos episódios em uma desnecessária lerdeza que dá extrema preguiça chegar ao final. Se pelo menos a narração de Davis tivesse ganhado retornos ao passado realmente sob o ponto de vista dela, com cenas refeitas, até nem reclamaria tanto, mas a grande verdade é que o roteiro (se é que posso chamar isso de roteiro) apenas leva à remontagem das cenas que já conhecemos intercaladas com sequências na ampla sala de interrogatório de Chen.
Em outras palavras, perderam uma grande oportunidade de fazer um episódio verdadeiramente focado em Alani Davis, que vinha tendo participação muito tímida na série, de forma a desenvolver a policial para além de uma estrutura óbvia e cansada de “perguntas e respostas” que é o suprassumo do roteiro conveniente. E também perderam a oportunidade de fazer um episódio relevante sem Elle presente (a não ser em flashbacks), já que a personagem já estava sofrendo um pouco por exposição excessiva e repetitiva, mesmo considerando que ela é a protagonista. Claro que, ao final, o status de Alani muda completamente e isso tem o potencial de levar a séria a direções mais interessantes, talvez até com ela, Elle e Joseph fazendo uma parceria hesitante para desbaratar o envolvimento da Wallace Corporation nessa história.
No entanto, como já disse, meus problemas com The Davis Report não estão no ponto em que o episódio chega, mas sim na jornada até lá. E olha que o episódio nem altera radicalmente assim a narrativa como um todo, fazendo como os demais e apenas acrescentando um pequeno incremento bem na linha de um longa metragem dividido em 13 partes. Só que esse longa metragem fictício jamais teria essa freada brusca um pouco além de sua metade para perder tempo com o que já vimos antes para que, então, a narrativa ande nos segundos finais. Não há justificativa, sob o ponto de vista narrativo, para o que foi feito aqui e a série, que finalmente vinha crescendo em qualidade apesar do CGI ruim para figuras humanas, sofre bastante com essa escolha estranha e desnecessária.
The Davis Report, mesmo com duração regulamentar, é uma enorme perda de tempo e de oportunidade. Por outro lado – e tento sempre achar um ângulo positivo sobre tudo – ele parece marcar uma mudança de foco que aponta para uma estirada final que pode ter bom potencial se a série retornar ao que fez em Sombras de Memórias e Realidade, reunindo discussões filosóficas sobre o homem querendo ser Deus e a natureza das memórias, com ótimas sequências de ação.
Blade Runner: Black Lotus – 1X08: The Davis Report (EUA/Japão, 02 de janeiro de 2022)
Direção: Kenji Kamiyama, Shinji Aramaki
Roteiro: Eugene Son
Elenco (em japonês): Arisa Shida, Takayuki Kinba, Shinshu Fuji, Takaya Hashi, Takehito Koyasu, Masane Tsukayama, Takako Honda, Yurie Kozakai, Hoshu Otsuka, Taiten Kusunoki, Yoshiko Sakakibara, Akio Nojima, Yuuya Uchida
Elenco (em inglês): Jessica Henwick, Barkhad Abdi, Will Yun Lee, Brian Cox, Wes Bentley, Gregg Henry, Samira Wiley, Charlet Chung, Stephen Root, Josh Duhamel, Peyton List, Henry Czerny, Greg Chun
Duração: 22 min.
