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Crítica | Blade Runner: Black Lotus – 1X10: Clair de Lune

O trágico passado de Joseph.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Depois de matar Niander Wallace Sr. com a ajuda de Joseph, finalmente chegando ao que em tese era o topo da escada vingativa de sua curta vida, Elle, pelo menos até aonde ela poderia saber, não tinha mais o que fazer e essa circunstância cria a oportunidade narrativa para um desvio na história principal, algo que se justifica a essa altura, muito diferente daquela absoluta desnecessidade que foi The Davis Report. Com isso, Clair de Lune é, basicamente, um episódio-flashback que explica a razão de Joseph, uma vez tido como um dos melhores Blade Runners da polícia de Los Angeles, ter abandonado sua promissora carreira.

No entanto, infelizmente, a primeira coisa que o episódio fez comigo foi lembrar-me o quanto a computação gráfica de personagens humanos ou com aparência de humanos é ruim na série. Obviamente que venho levantando essa questão desde Cidade dos Anjos, mas já há algum tempo não mencionava o problema não só para não me repetir, como também porque as sequências de ação vinham razoavelmente compensando-o. Mas, aqui, o design endurecido no estilo “Barbie-Ken dos Infernos” retorna com força total, algo que salta aos olhos especialmente em Selene (Yoko Honna/Alessia Cara), a replicante cantora por quem Joseph se apaixonara quando mais novo e que acabou sendo forçado a matar.

A nova e trágica personagem, que tem consciência de seu futuro – ou da falta dele – em um roteiro que lembra muito O Cliente Tem Sempre Razão, conto que se passa no universo de Sin City e que abre a respectiva adaptação audiovisual de 2005, é uma literal boneca Barbie morena, de cabelo plástico que desce pelo ombro, com um rosto que vive de fazer o que só posso chamar de caricaturas de emoções. Chega a ser constrangedor que deixem produzir uma obra da franquia Blade Runner com esse nível abissal de qualidade visual. E é claro que Selene é, apenas, a mais evidente das falhas, já que os problemas se repetem com Joseph e também com Marlowe, este último com cabelos formando uma espécie de “raio” no local que se conectam com sua testa.

Mas o que fazer a não ser respirar fundo e seguir em frente, não é mesmo? Afinal, a história é interessante, mesmo que completamente previsível, pois cria um bom contexto para a aposentadoria e reclusão de Joseph e, também, sua animosidade em relação à Marlowe que, mesmo não sendo o executor de Selene, age como tal, em um reflexo mais sombrio do que ocorre ao final do longa original de 1982, com Deckard fugindo com Rachel sob a ameaça velada de Gaff. Fico na dúvida se eram mesmo necessários 15 dos 22 minutos de episódio para se contar essa história simples, mas creio que a construção de uma atmosfera melancólica que aponta para a tragédia merecia a minutagem que acabou sendo bem aproveitada, sem nenhuma tentativa de se criar momentos explosivos ou reviravoltas fora de compasso.

E, surpreendentemente, ainda houve tempo para mais, com o andamento da história principal a partir do “retrato falado de memória” que Elle fica horas fazendo com o aparelho que Joseph monta para ela finalmente descobrir a última peça em seu quebra-cabeças. Claro que a revelação não é de cair o queixo, pois, para nós, espectadores, a conexão de Niander Wallace Jr. com a protagonista e todo o esquema para eliminar o pai já havia ficado bem claro. Mesmo assim, era necessária essa revelação formal, por assim dizer, que nos leva imediatamente ao ponto seguinte, que é a “revelação da revelação” sobre Joseph, por ele, na verdade, trabalhar para o futuro magnata cego que vemos tatuando outra replicante nos segundos finais.

Clair de Lune, portanto, mesmo servindo de lembrete de que o CGI das figuras humanas é terrível nesta série, acaba sendo muito eficiente em contar uma história trágica talvez longa demais que dá contexto a um importante personagem, ao mesmo tempo em que faz a narrativa central andar mais uma casa e revelar o próximo “alvo” de Elle, fazendo-a chegar mais próxima do efetivo topo de sua escada. Será potencialmente interessante ver a convergência da história com a possível chegada de Marlowe (no presente) e também da sumida Alani para enriquecer os episódios finais.

Blade Runner: Black Lotus – 1X10: Clair de Lune (EUA/Japão, 16 de janeiro de 2022)
Direção: Kenji Kamiyama, Shinji Aramaki
Roteiro: Margaret Dunlap
Elenco (em japonês): Arisa Shida, Takayuki Kinba, Shinshu Fuji, Takaya Hashi, Takehito Koyasu, Masane Tsukayama, Takako Honda, Yurie Kozakai, Hoshu Otsuka, Taiten Kusunoki, Yoshiko Sakakibara, Akio Nojima, Yuuya Uchida, Yoko Honna
Elenco (em inglês): Jessica Henwick, Barkhad Abdi, Will Yun Lee, Brian Cox, Wes Bentley, Gregg Henry, Samira Wiley, Charlet Chung, Stephen Root, Josh Duhamel, Peyton List, Henry Czerny, Greg Chun, Alessia Cara
Duração: 22 min.

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