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Crítica | Blade Runner: Black Lotus – 1X13: Hora de Morrer

Seriam os olhos espelhos da alma?

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Pode ter sido por vias tortuosas e erráticas, com decisões narrativas um tanto quanto frustrantes e outras completamente equivocadas, mas Black Lotus acabou da forma que tinha que acabar. Não houve surpresas – o que é bom – e, melhor ainda, houve um esforço considerável de Eugene Son em paralelizar os momentos finais do filme original de 1982 a partir do ponto em que Roy Batty encontra-se com seu criador Eldon Tyrell e chegando ao famoso monólogo “hora de morrer” de onde o episódio pega emprestado seu título.

Para todos os efeitos, Hora de Morrer é o que Almas Artificiais deveria ter sido, ou seja, a pancadaria final entre Elle e White Lily e encontro da replicante protagonista com seu criador, Niander Wallace, Jr. Tudo isso acontece e mais, pois toda a ambientação é o antigo quartel-general da Tyrell Corporation, com o escritório de Niander sendo o mesmo lugar – só que vazio e de dia – em que vemos Deckard questionar Rachel com seu teste Voight-Kampff. Há muito cuidado nesse aspecto de espelhamento da obra clássica e, claro, as já costumeiras boas sequências de luta, felizmente, repetem-se aqui com um combate de igual para igual entre as duas androides.

É perfeitamente perceptível a surpresa de Niander pela resistência de Elle, já que ele claramente achava que sua mais nova criação era infinitamente superior e essa surpresa é também refletida na própria White Lily que, na medida em que as movimentadas e variadas cenas de luta progridem, percebe exatamente a mesma coisa, que seu “criador” de certa maneira mentiu para ela sobre suas capacidades, sobre sua suposta perfeição. Considerando a obsessão do Niander mais velho que vemos em Blade Runnner 2049, sua realização de que ele apostou suas fichas na androide errada, que Elle talvez fosse a materialização do que ele procurava e o que ocorre no final, com ela lutando contra sua programação e cegando-o brutalmente, é um encadeamento narrativo bem trabalhado que funciona dentro da série e conversa muito bem com o futuro do grande vilão.

E é isso que torna o episódio realmente interessante. Estruturalmente, ele bebe do filme de 1982, mas, narrativamente, ele estabelece as bases para o filme de 2017, colocando-o como um bom exemplar do quanto esse período entre um longa e outro pode ser bem explorado. Até mesmo o uso de Joseph funciona bem aqui, pois ele e Elle invertem os papeis e ele acaba se sacrificando por ela, achando que a destruição dos arquivos da Tyrell impedirá que Niander continue seus projetos replicantes no futuro, mal sabendo ele que o máximo que ele conseguiu foi atrasá-lo. Mas, de toda forma, é um final poético e eficiente, exatamente dentro do que a história exigia desde seu começo.

No entanto, Hora de Morrer tem seus problemas. O primeiro deles é não saber encerrar decentemente os arcos da policial Alani Davis e também de Doc Badger. A primeira, que mostrou algum potencial ao longo da temporada, foi atravessada pela espada de Water Lily, sobreviveu e, no lugar de alguma forma aparecer aqui de maneira construtiva, só é vista no final, de cadeira de rodas, voltando à delegacia em um daqueles momentos que nos faz indagar para quer raios, afinal, serviu a personagem? E Doc Badger então? Cheguei a mencionar arcos narrativos, mas a grande verdade que só posso dizer, com boa vontade, que Alani teve um, pois Doc Badger teve como única função fazer a ponte entre Alani e Joseph, mais nada. Outro personagem que não serviu para nada e que aparece rapidamente ao final só para ocupar segundos que estavam sobrando na minutagem do episódio. Em outras palavras, o capítulo final até pode não ser culpado pelo que seus antecessores não fizeram, mas havia a obrigação ou de se dar um fim decente aos personagens ou assumir o erro e sequer mostrá-los, deixando ganchos para temporadas futuras, se é que elas acontecerão.

Pelo menos o final de Elle foi satisfatório, com seu crescimento e compreensão de que, no final das contas, ela é mesmo mais humana que os humanos que conheceu, com o ato de cegar Niander servindo para simbolicamente deixar claro que ele não tem alma, mas Elle sim. E, claro, ela indo embora com a moto voadora de Joseph em direção ao deserto enevoado cria o tipo de fim pessimista que aprendemos a esperar da franquia Blade Runner. Em essência, Elle caminha para o desconhecido para viver os poucos anos que em tese tem de vida, mas com uma pontinha de esperança por ela, agora, saber exatamente quem ela é. Black Lotus acaba uma história e, ainda que possa continuá-la, talvez esse universo se beneficiasse mais da abordagem de outros personagens com uma mudança até estilística. Veremos o que futuro reserva!

Blade Runner: Black Lotus – 1X13: Hora de Morrer (EUA/Japão, 06 de fevereiro de 2022)
Direção: Kenji Kamiyama, Shinji Aramaki
Roteiro: Eugene Son
Elenco (em japonês): Arisa Shida, Takayuki Kinba, Shinshu Fuji, Takaya Hashi, Takehito Koyasu, Masane Tsukayama, Takako Honda, Yurie Kozakai, Hoshu Otsuka, Taiten Kusunoki, Yoshiko Sakakibara, Akio Nojima, Yuuya Uchida, Yoko Honna
Elenco (em inglês): Jessica Henwick, Barkhad Abdi, Will Yun Lee, Brian Cox, Wes Bentley, Gregg Henry, Samira Wiley, Charlet Chung, Stephen Root, Josh Duhamel, Peyton List, Henry Czerny, Greg Chun, Alessia Cara
Duração: 22 min.

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