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Crítica | Boa Sorte (2014)

por Gisele Santos
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O que talvez mais impressione em Boa sorte não seja o seu roteiro que traz uma história de amor impossível, ou ainda a discussão sobre uso de drogas e dependência. O que mais chama a atenção no longa de Carolina Jabor (filha do também cineasta e comentarista Arnaldo Jabor) seja Deborah Secco. É notório que muitas pessoas assistirão o filme pelo seu nome estampado no cartaz, e sim, a atriz global se despiu de qualquer resquício de pudor e mergulhou de cabeça neste projeto que exigiu dela mais do que apenas uma atuação impecável, mas sim uma mudança radical que levou embora nada menos que 14 quilos da atriz. Ela ainda assina a produção do filme.

Deborah vive Judite, uma dependente de drogas internada em uma clínica de reabilitação. Além de usar todo e qualquer tipo de substância química, a personagem ainda é HIV positivo, tem problemas familiares com a avó (Fernanda Montenegro, sempre espetacular) e vive em um mundo de alucinações e melancolia. Sua vida muda quando entra em cena João (João Pedro Zappa, grata surpresa), menino de 17 anos que é internado pela família por conta de um vício em Frontal com Fanta Laranja. É no relacionamento de amizade, que logo se transforma em amor, que os dois passarão por descobertas capazes de mudar o rumo da vida de ambos.

O roteiro, assinado por Jorge Furtado (O Homem que Copiava) e seu filho Pedro Furtado, se baseia em um conto do próprio cineasta gaúcho intitulado Frontal com Fanta. A mistura, tanto no conto quanto no filme, torna João invisível aos olhos dos pais e da sociedade. No longa, este artifício narrativo funciona até certo ponto, mas acaba se perdendo.

O filme se passa basicamente dentro da clínica de reabilitação, um casarão velho que guarda seus fantasmas, com paredes descascadas e corredores fantasmagóricos. Mas em contraponto, a área externa rodeada de árvores e área verde traz uma aura mais jovial e de esperança para os internados. Caroline mescla bem os dois cenários e explora as cenas ao ar livre (como a de Deborah e João cantando em cima de uma das árvores do pátio) em momentos de pura poesia, carinho e amor.

O problema de Boa Sorte não está em seu elenco (apesar de o elenco de apoio que interpreta outros pacientes da clínica ser um tanto caricato), mas em seu roteiro. A narrativa é açucarada demais e mistura elementos que não são explorados da forma devida (preços das clínicas de reabilitação, sofrimento da família e do pacientes, a indústria farmacêutica brasileira, entre outros) e tudo acaba em um final óbvio e sem a emoção esperada para uma história de amor destas proporções.

Outro problema do longa é ser didático demais e explicar fatos que já estavam nas entrelinhas, principalmente no que se refere ao romance de Judite e João, mais ao final da fita. A cena em que João descobre no diário de Judite a explicação para o término da relação é desnecessária e até meio ridícula. O desastre só não é total por conta dos desenhos feitos pela personagem que tomam conta da tela grande de uma forma muito bonita e sincera.

Se você busca uma história de amor pouco convencional, assista Boa Sorte, mas vá sem grandes expectativas. O filme poderia ser melhor se alguns pontos fossem mais explorados e se a história contada fosse mais do que apenas um Romeu e Julieta moderno, com venenos contemporâneos que podem ser comprados literalmente em qualquer esquina.

Boa Sorte (Brasil, 2014)
Direção:
Carolina Jabor
Roteiro: Jorge e Pedro Furtado
Elenco: Deborah Secco, João Pedro Zappa, Fernanda Montenegro, Cássia Kis Magro, Felipe Camargo, Enrique Díaz
Duração: 90 minutos

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