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Crítica | Boo, Bitch

Boo, mesmice. Uma sátira boba aos dilemas da Geração Z.

por Felipe Oliveira
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Boo: o susto, é que não há surpresa aqui, e fica ainda mais estranho pela forma de que Boo, Bitch quer ser uma minissérie teen ácida, e inteligente, quando o seu resultado soma um amontoado de besteiras tentando dialogar com os dilemas que circundam a Geração Z. Caracterizadas pelas abordagens embebidas na fórmula coming of age, as narrativas das atrações para adolescentes, sejam em filmes ou séries, costumam utilizar essa estrutura como pavimento para as histórias apresentadas, e seja qual o for o gênero que determinará o tom da premissa, essas histórias podem cair num lugar comum e agradar ou não em seu conjunto. Exemplos das constantes tramas sobre amizade, triângulos amorosos, o turbilhão do ensino médio, apontam uma mesmice que termina funcionando graças a como essa recorrência é desenvolvida. E a sensação que Boo, Bitch transmite é de querer subverter o óbvio sem um mínimo de personalidade com uma suposta criatividade que beira a pretensão.

Captando uma aura familiar de comédias high school oitentistas, a minissérie criada por Erin Ehrlich, Lauren Iungerich, Tim Schauer e Kuba Soltysiak parece se tratar de mais um típico coming of age ao apresentar a dramática dupla de rejeitadas da escolas, as amigas Erika (Lana Condor) e Gia (Zoe Margaret Colletti) que, em pleno o encerramento do ensino médio, percebem que nada fizeram para ser lembradas no colégio e quando então decidem mudar esse quadro, precisam lidar com a crise iminente da vida após a morte agora que Erika está morta, mas de alguma forma interage com o mundo vivos uma vez que morreu cheia de anseios.

Descrever a premissa como Curtindo a Vida Adoidado em uma vida após a morte seria elogiar demais o que a série não se esforça nem um pouco para apresentar seu conceito sem parecer ridícula. Na entrelinhas de sua lógica, Boo, Bitch acredita estar desconstruindo muitos dos elementos que acompanham o pacote narrativo batido da juventude colegial com o crush da vida da protagonista, esse que integra um grupo de amigos com traços de besteiróis americanos, o trio de garotas bests tóxicas à lá Mean Girls, as festas, e tudo isso forma um tecido social que a duplinha principal não conseguiu integrar, o que entra o plot de pós-vida como um envoltório que irá tratar essas questões, oferecendo o escapismo e ousadia que antes elas não se permitiam. E embora esse artifício surja de maneira alegórica, ainda restam muitas arestas que tornam essa subversão narrativa um mero exercício superficial tentando mesclar drama e comédia numa sátira social.

O problema começa a partir da ideia de que uma amiga morre e a outra ainda consegue vê-la, onde passam, então, a tentarem entender o que possibilita essa interação antes que o corpo morto se decomponha. Certo. Essa é a forma que o roteiro segura essa ponta solta enquanto discorre o mistério, mas não compensa quando se pensa que ninguém notou a ausência de uma pessoa e que também há um corpo sendo escondido e que só as amigas têm acesso para amenizar o processo de decomposição. E nisso entram dois pontos que a série tenta passar relevância em meio as incoerências: a “reviravolta” do porquê o corpo ter ficado o tempo todo com o alce que causou a morte de Erika em cima, e a crítica sobre o comportamento alienado, desatento, fútil e superficial da juventude milenar perdida no campo digital que se relaciona constantemente.

Mesmo que tenha se apoiado na subversão de Erika como uma garota que se permite a viver intensamente, experimentando na pós-morte tudo em que antes se limitava, Boo, Bitch o tempo todo tece críticas a regência que permeia o meio virtual em que estamos inseridos, o que vai desde ao imediatismo de discussões, posicionamentos, reações e cultura do cancelamento, a forma instantânea com que as coisas se popularizam e recebem atenção. O drama é ridículo quando olhamos para as questões bestas que formam o background de sua protagonista e os tópicos banais ao redor, mas o que afasta um maior aproveitando do subtexto existencial é o tratamento superficial dos personagens, que carecem de qualquer traço que caracterize suas personalidades além da maneira metódica com o que são apresentados em algoritmos e falas ritmadas, o que ainda sobra a linha cômica de pais cools e liberais que promovem uma boa relação com os filhos, como isso estivesse quebrando paradigmas.

Além de falhar como crítica ao vínculo frágil que criamos com relações que carecem de atenção, Boo, Bitch é rasa na construção de conceito de vida após a morte, tecido em que as discussões propostas se desenrolam. É curiosamente bizarro a sensação de vazio que segue os breves oito capítulos e que mesmo contando com mentes que passaram por séries como Crazy Ex-Girlfriend e On My Block, se limitaram em explorar a mitologia da minissérie apelando para o que as referências da cultura pop tinham a dizer sobre o conceito de pós-morte. Ou seja, não há um esforço para criar uma regra própria além de querer encaixar toda lógica num envoltório caricato e de poucas inspirações. No mais, se a preocupação era fazer diferente, jogando com humor as mesmices do gênero, Boo, Bitch nada acrescenta com suas besteiras.

Boo, Bitch (EUA – 2022)
Criação: Erin Ehrlich, Lauren Iungerich, Tim Schauer, Kuba Soltysiak
Roteiro: Erin Ehrlich, Lauren Iungerich, Tim Schauer e Kuba Soltysiak, Vivian Huang, Jewel Chanel, Sonia Kharkar, Stefanie Leder
Direção: Kimberly McCullough, Erin Ehrlich, Lauren Iungerich, Kim Nguyen
Elenco: Lana Condor, Zoe Margaret Colletti, Mason Versaw, Aparna Brielle, Tenzing Norgay Trainor, Jason Genao, Jami Aliz, Abigail Achiri, Reid Miller, Brittany Bardwell
Duração: 27 a 24 min (8 episódios, cada)

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