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Crítica | Boogeyman: Seu Medo é Real

O mal está no escuro.

por Felipe Oliveira
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Dos muitos títulos que refletiram o período de isolamento e pandemia, o eficiente Host, comandado por Rob Savage, foi um dos que conseguiram usar o contexto de forma marcante ao ter o terror como abordagem. O média-metragem mesclava o found footage com recursos de interação das redes sociais “em tempo real”, o que mostrou a criatividade do cineasta em trabalhar com o subgênero. E com a chegada de Dashcam, seu segundo longa-metragem, parecia que Savage continuaria fazendo terror com o estilo documental. Porém, a nova adaptação do conto O Fantasma — que serve mais como estímulo para narrativa do que é usado fielmente — de Stephen King, é o primeiro exemplar que Savage está se lançando em diferentes premissas da que fez seu nome chamar atenção dos estúdios.

Com Boogeyman: Seu Medo é Real, Savage precisou se desafiar com outro subgênero familiar ao público, mas que ainda tivesse um resultado sólido e assustador ao trazer a trama sobre uma família lidando com o luto ao mesmo tempo que lutam contra uma entidade que surge em momentos de fragilidades. O que Savage faz aqui é algo semelhante a Sorria, ao menos no quesito de usar a fórmula de um terror psicológico sobrenatural que conta história de uma maldição que atinge novas vítimas, a diferença, é que Parker Finn fez o terror ser sentido no seu filme graças a direção engenhosa que manipulava a mitologia apresentada. Savage quer algo parecido, um terror com jumpscare que se destaca pela maneira que está sendo utilizado e não por ter a técnica em si, contudo, o objetivo atinge o efeito reverso: é um terror na sua forma mais genérica.

É interessante que ambos cineastas seguem a linha de usar elementos clássicos do gênero trazendo para uma roupagem autoral. Nesse sentido, o jumpscare e o trabalho de som são fatores que se somam a como Savage quer construir uma atmosfera sensorial, o que é complementado nas sequências de cenas explorando a ambientação escura. Com a sonoplastia e a noção de que o escuro é um recurso fundamental para o desenrolar da mitologia, é o modo que Savage fisga o público para como essa história está sendo contada, no entanto, esses mecanismos ficam mais no teto de ideias mal explorados do que, de fato, assumirem a forma pretendida. Não deixa de ser revitalizante uma abordagem que não quer reinventar a roda, e sim fazer um terror convencional eficiente, mas no final de todo o escuro, o que falta é enxergar a personalidade que Savage tenta aplicar.

Um exemplo de que há boas ideias no filme é no uso de luz como contraponto à escuridão. As cenas com a bola de luz branca e a com o dispositivo de luz vermelha ilustram a concepção da luta da luz contra as trevas, sendo a representação contida pela forma que o terror pode ser expressado com esses artifícios, todavia, assim como esse conceito clássico, a impressão é que a direção de Savage também está sofrendo um embate entre não ser criativo o suficiente para superar a base trivial de maldição que o roteiro articula. Aos poucos, fica evidente como The Boogeyman funciona melhor em momentos individuais, momentos esses que Savage quer sobressair a fórmula tocando sustos e manipulando a percepção do que é real ou não enquanto a história não tem uma coesão.

O texto escrito por três cabeças se perde na tentativa de aprofundar a mitologia com a divergência de informações entre o que acontece com a primeira família — outro aspecto que lembra bastante a abertura de Sorria — e como aquela tragédia inicial vai se relaciona para ter um desfecho, um fim para a “maldição”. Inclusive, esse tratamento da trama como maldição é só mais um fator que enfraquece o argumento do filme contar histórias do que o Bicho-Papão personifica uma vez que se torna um pitaco vago; é como se estivesse narrando duas histórias distintas que não se completam na fórmula de um terror convencional que Savage quer contrapor com seu estilo.

A sorte é que há um elenco com performances consistentes no centro, e nisso, o filme acerta ao colocar em primeiro plano como esses personagens estão lidando de formas diferentes com o luto. Savage cria curiosidade com o estilo que exercita ao querer gerar incerteza com a ambientação escura do que manifestar o Bicho-Papão para os sustos fáceis, e são nesses momentos que The Boogeyman converge sua metáfora com uma abordagem que remete a um medo popular da criatura que se esconde em lugares escuros, ou seja, ao focar esse objetivo na direção e numa fotografia assertiva, o filme têm mais êxito em seu argumento do que quando tenta relacionar protagonistas e coadjuvantes.

Com um final simbólico e sem o clímax e ritmo tão bem calculado como imaginado, é clara a intenção de The Boogeyman de conquistar o lugar de terror do ano visto a tendência que segue revitalizar os tropos do gêneros, porém, há um resultado instável que apesar de todo a demonstração do elenco, o suposto drama contido na família e os elementos usados em prol do terror fazem adaptação ser envolvente.

Boogeyman: Seu Medo é Real (The Boogeyman – EUA, 2023)
Direção: Rob Savage
Roteiro: Scott Beck, Bryan Woods, Mark Heyman
ElencoSophie Thatcher, Vivien Lyra Blair, Chris Messina, David Dastmalchian, Madison Hu, Marin Ireland, Maddie Nichols, Leeann Ross, LisaGay Hamilton
Duração: 98 min.

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