Home FilmesCríticasCatálogos Crítica | Branca de Neve e os Sete Anões (1937)

Crítica | Branca de Neve e os Sete Anões (1937)

por Ritter Fan
3,K views

Quem não assistiu Branca de Neve e os Sete Anões, um marco histórico nas obras de animação? Foi o primeiro desenho de longa metragem 100% desenhado em células em todo o mundo e que, apenas por esse fato, já pode ser considerado como revolucionário. Mas Branca de Neve conseguiu ir além, pois técnicas de profundidade de campo foram desenvolvidas para essa animação que nunca antes haviam sido usadas nos desenhos de curta metragem, mesmo aqueles vindos da própria Disney.

Branca de Neve escancarou completamente as portas para o desenho animado profissional, demonstrando que havia efetivamente mercado para essa arte. Para termos uma pequena ideia do alcance do filme, se os valores com sua arrecadação fossem ajustados até os dias de hoje, ele ainda seria a 10ª maior bilheteria dos Estados Unidos, imediatamente atrás de O Exorcista, de 1973.

E o melhor de Branca de Neve foi ter realmente cavado um riquíssimo veio para a animação mundial, não só com as inesquecíveis obras da própria Disney, como Cinderela e A Bela Adormecida, mas também os recentes e maravilhosos desenhos em computação gráfica da Pixar, como também, por ter mostrado a mercados longínquos como o europeu e o asiático o poder da animação. Quando bem feita, a animação de longa metragem têm o poder de arrancar os mesmos sentimentos que os melhores filmes live action, quando não conseguem ultrapassá-los.

Como todos sabem, a narrativa da animação de Walt Disney adapta – e “sanitiza” – um dos contos dos famosos Irmãos Grimm, Schneewittchen, em que uma princesa é escrava de sua madrasta que só cultua sua própria beleza. Ao descobrir com o Espelho Mágico que Branca de Neve é a mais bela do reino, ela ordena que o caçador mate a jovem e traga seu coração como prova do feito. O caçador, claro, deixa Branca de Neve escapar e ela acaba na cabana onde vivem os simpáticos sete anões, tornando-se, ato contínuo, uma espécie de mãe para eles até que a madrasta descobre que ela está viva e decide resolver pessoalmente o problema.

A história é simples, linear, com personagens bem claramente bons ou maus, sem qualquer tonalidade de cinza. Mas o pioneiro desenho conta a história dando vida à floresta pela noite, em que ela é aterrorizante, mas mostrando o quanto é bela à luz do dia. A profundidade – as camadas – em que a floresta foi criada, com desenhos em células sobrepostas permitem extrema profundidade de campo, algo nunca antes tentado dessa foram em animações e que plantaria a semente para o desenvolvimento de técnicas que desaguariam no conhecido e mal utilizado 3D dos dias de hoje.

Os animadores, capitaneados por Albert Hurter, sob a supervisão geral do próprio Walter Elias Disney, que não poupou esforços para tornar sua visão em realidade, lutando contra seu irmão Roy e sua esposa Lillian no processo, trabalharam manualmente na criação de um universo detalhado em que até mesmo os animais, por mais irrelevantes que fossem, ganharam personalidade e vida própria. Nós nos importamos por cada um deles e sentimos uma gostosa “pena” da tartaruga que nunca consegue chegar a tempo em lugar nenhum, sendo atropelada por seus colegas de floresta na intensa correria na cabana dos anões. Mas esses esforços extremos quase custaram à Disney sua reputação, pois não só sua família o via como “louco”, mas toda a indústria da época, especialmente em razão do filme ter estourado o orçamento seguidas vezes, com uma projeção inicial de gastos não superiores a 250 mil dólares que chegaram a mais de um milhão e quatrocentos mil dólares.

E o mesmo vale para os personagens humanos. Cada anão tem suas características próprias refletidas na forma que agem e por seus nomes bem descritivos. Mas gostamos de cada um deles e sabemos todos os seus nomes: Mestre, Soneca, Feliz, Atchim, Dengoso, Zangado e Dunga. A bruxa em que a madrasta se transforma – mãos com dedos longos e ossudos, verruga no nariz retorcido, olhos de tamanhos irregulares, cabelos brancos e manto negro – é até hoje o padrão visual de bruxas pelo mundo todo.

As canções em Branca de Neve têm função importantíssima, sendo costuradas na narrativa de maneira pouco intrusiva e inesquecível como a animação em si. Elas ficaram ao encargo de Frank Churchill e Larry Morey cujo trabalho acabou criando “Heigh-Ho“, “Some Day My Prince Will Come” e “Whistle While You Work“. Tamanha era a importância das canções que o filme foi o primeiro a ter sua trilha sonora lançada simultaneamente no mercado, algo tão comum hoje em dia. E, claro, suas várias versões pelo mundo afora, como as que foram cantadas aqui por Cybele de Sá do Quarteto em Cy na dublagem nacional dos anos 60 continuam marcando presença na vida de literalmente todos nós.

Disney criou um mito com Branca de Neve, o mito – que se torna verdade – de que sonhar além de seu tempo é obrigação de todos nós. Criou uma animação que não perde sua contemporaneidade até hoje e que nos emociona agora da mesma forma que emocionou várias gerações.

  • Crítica publicada originalmente em 03 de julho de 2015.

Branca de Neve e os Sete Anões (Snow White and the Seve Dwarfs, EUA – 1937)
Direção: William Cottrell, David Hand, Wilfred Jackson, Larry Morey, Perce Pearce, Ben Sharpsteen
Roteiro: Ted Sears, Richard Creedon, Otto Englander, Dick Rickard, Earl Hurd, Merrill De Maris, Dorothy Ann, Webb Smith (baseado em obra dos Irmãos Grimm)
Elenco (vozes originais): Adriana Caselotti, Lucille La Verne, Harry Stockwell, Roy Atwell, Pinto Colvig, Otis Harlan, Scotty Mattraw, Billy Gilbert, Eddie Collins, Moroni Olsen, Stuart Buchanan
Duração: 83 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais