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Crítica | Breaking Bad – 5ª Temporada

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leia, aqui, as críticas de todo nosso material do Universo Breaking Bad.

É muito interessante notar, analisando brevemente os números originais de audiência de Breaking Bad, como uma série que, hoje, é tida como uma das melhores já feitas, demorou até sua última temporada para realmente ganhar público de monta. Na verdade, não foi nem na derradeira temporada exatamente, mas sim, apenas, na segunda metade dela, já que Vince Gilligan e a AMC, pela única vez na série, não só aumentaram o número de episódios de 13 para 16, como também dividiram sua transmissão ao longo de dois anos, em 2012 e 2013, como duas meia-temporadas algo que já havia sido feito pelo SyFy com Battlestar Galactica e que a própria AMC voltaria a fazer com Mad Men.

Foi justamente quando a série voltou para sua estirada final de oito episódios em 11 de agosto de 2013 que ela quase que duplicou a média anterior de espectadores, um fator que deixa evidente que um grande número de fãs só realmente passou a assistir “ao vivo” à incrível criação de Gilligan em seus estertores, o que óbvia e naturalmente torna esta a temporada mais lembrada e mais querida por muitos. No entanto, ao olharmos a série com algum distanciamento e frieza, a mera existência da quinta temporada não é algo plenamente justificado pela progressão narrativa de tudo o que veio antes. Mas deixe-me esclarecer: mesmo não sendo exatamente essencial, a temporada ainda é excelente, um verdadeiro tour de force dramático do showrunner e de toda a equipe envolvida que encerra de maneira mais do que digna a trajetória vilanesca de Walter White.

A principal razão para essa minha conclusão é que Vince Gilligan encerra quase que completamente um longo e próximo do perfeito arco narrativo que lida com a queda de Walter White. Esse fim é marcado pela eliminação de Gus Fring ao final da temporada anterior em um explosivo e inesquecível momento. Teria sido perfeitamente possível terminar, em apenas mais alguns episódios, a saga do protagonista com a consequência que fosse: ou ele morrendo, como efetivamente acaba acontecendo ao final da última temporada ou ele sobrevivendo e tornando-o o novo Rei do Crime. Mas, no lugar de trazer um encerramento que decorre direta e imediatamente dos eventos anteriores, Gilligan escolheu quase que reiniciar a série com a intenção de primeiro colocar Walter White como super-vilão, com planos mirabolantes talvez demais como o do eletro-ímã para apagar o computador de Gus, o assalto ao trem e, claro, o final apoteótico com a metralhadora no porta-malas.

E, para fazer isso, algo que, novamente para não deixar dúvida, Gilligan faz com precisão, o showrunner precisou não só dar papel de destaque para Lydia Rodarte-Quayle (Laura Fraser), personagem quase figurante nas temporadas anteriores, como também introduzir Todd Alquist (Jesse Plemons) e sua família neo-nazista de assassinos do tipo “fazem de tudo e mais um pouco” que usam a empresa Vámonos Pest, de fumigação de casas, como fachada para seu empreendimento criminoso. Se a presença mais constante de Lydia poderia até ser vista como natural para fechar o arco da Madrigal – pessoalmente, o suicídio do executivo da empresa bastou-me como “fim” – a de Todd e o restante de sua gangue pareceu-me uma forma exógena demais para encerrar a série, como vilões que topam tudo por dinheiro e têm contatos em todos os lugares para tornar possível as cada vez mais complexas e assassinas doideiras de Walter White, agora literalmente sentindo prazer naquilo que faz para muito além de seu mantra que nunca deveria ter enganado ninguém “tudo o que eu faço, faço pela família”.

Dito isso, mesmo considerando a temporada final como tendo ido muito além do que a história realmente precisava, a execução e finalização da visão de Vince Gilligan é televisão do mais alto nível. É sensacional ver Bryan Cranston fazer seu personagem chegar no topo de sua fase Poderoso Chefão, ao mesmo tempo que, com a volta do câncer, seu corpo definha, em um trabalho de transformação corporal realmente de se tirar o chapéu. Walter White finalmente transforma-se em Heisenberg de vez, recusando-se a aceitar que seu suado dinheiro não mais existe, reconstruindo um império de drogas em tempo recorde com a ajuda hesitante de Jesse e Mike, além dos insumos de Lydia.

Há, como muito raramente há em encerramentos de série de televisão, respostas para todas as perguntas. Vemos o fim de Mike pelas mãos de Walt, de Hank e Gomez pela família nazista (no tão comemorado episódio Ozymandias, que é muito bom, mas que não considero sequer o melhor da temporada), de Lydia e a família nazista por Walt, uma forma de Walt vingar-se de seus ex-sócios na Gray Matter e, ao mesmo tempo, de deixar dinheiro para a família e assim por diante. Até mesmo pequenos detalhes não são esquecidos, como a ricina escondida no espelho da tomada da casa de Walt que aparece no nono episódio e é usado no último. Tudo se encaixa, tudo ganha um fim redondo que não deixa dúvidas, não deixa sequer margem para o espectador imaginar “e se…” ou “será?”, o que não é necessariamente a melhor coisa do mundo, mas que, quando é feito da maneira cuidadosa como aqui, graças a um time de roteiristas e diretores – com especial destaque para Michelle MacLaren, que comanda quatro episódios, inclusive meu favorito da temporada, Gliding Over All, que é o ponto de virada sobre a revelação da identidade de WW para Hank – perfeitamente azeitado que entrega uma narrativa redonda, não há muito o que reclamar da escolha de colocar todos os pontos nos “Is”.

Aaron Paul também faz seu mais do que sofredor Jesse Pinkman brilhar a cada instante em cena, de certa forma deixando a ambição de Walt respingar nele, mas sem que o personagem jamais deixe de ser quem é ou traia seus princípios. O fundo do poço dele, ou seja, sua escravização pelos nazistas, é doloroso de ver, notadamente em razão do cruel e frio assassinato de Andrea Cantillo (Emily Rios), em um dos momentos mais marcantes da temporada. Por seu turno, mesmo que acabe eliminado ainda cedo, em Say My Name (outro episódio exemplar, aliás), Jonathan Banks faz sua presença ser sentida desde o segundo em que encontra Walter White com toda a vontade do mundo de eliminá-lo em razão do assassinato de Gus. Ele é, talvez, a voz da razão no delírio de Heisenberg em dominar o mundo das drogas de supetão, em uma jogada só. É seu cuidado extremo e sua lealdade com seus capangas que mantém o DEA em xeque por um bom tempo, algo que só vem a cabo quando ele está prestes a sair definitivamente do negócio criminoso e seu advogado entrega o esquema de pagamentos.

O apoteótico fim de uma das mais memoráveis séries da memória recente, apesar de ser alimentado em grande parte por personagens, elementos e artifícios estranhos à narrativa original, faz jus à trajetória do professor transformando em vilão Walter White, um personagem que, por ser tão próximo de nós (nosso vizinho!) e tão humano, assusta tremendamente mais do que canibais, serial killers e assassinos com máscara de hóquei. Sem dúvida alguma, Vince Gilligan fez história com Breaking Bad.

Breaking Bad – 5ª Temporada (EUA, de 15 de julho a 02 de setembro de 2012 e de 11 de agosto a 29 de setembro de 2013)
Criação e showrunner: Vince Gilligan
Direção: Michael Slovis, Michelle MacLaren, Adam Bernstein, Rian Johnson, George Mastras, Colin Bucksey, Thomas Schnauz, Bryan Cranston, Sam Catlin, Peter Gould, Vince Gilligan
Roteiro: Vince Gilligan, Peter Gould, Sam Catlin, George Mastras, Gennifer Hutchison, Thomas Schnauz, Moira Walley-Beckett
Elenco: Bryan Cranston, Anna Gunn, Aaron Paul, Dean Norris, Betsy Brandt, RJ Mitte, Bob Odenkirk, Jonathan Banks, Laura Fraser, Jesse Plemons, Steven Michael Quezada, Michael Bowen, Kevin Rankin, Lavell Crawford, Charles Baker, Bill Burr, Louis Ferreira, Chris Freihofer, Matt L. Jones, Emily Rios, Mike Batayeh, Adam Godley, Jessica Hecht, Jim Beaver, Christopher Cousins, Larry Hankin, Carmen Serano, Michael Shamus Wiles, Robert Forster
Duração: 766 min. (16 episódios)

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