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Crítica | Bronco Billy

por Luiz Santiago
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Depois de abordar o faroeste através de um plot sobrenatural, mítico, lendário, tendo a vingança como foco em O Estranho sem Nome, e depois de dar a esse foco um outro ângulo, o da maturidade e mudança de perspectiva do mundo em Josey Wales, o Fora da Lei, Clint Eastwood deslocou o Homem do Oeste para o interior dos Estados Unidos e o colocou em um cenário de faz-de-conta, um circo de atrações com temática western, gerenciado pelo “gatilho mais rápido“, o grande Bronco Billy.

Escrito por Dennis Hackin, que um ano antes tinha feito o mesmo exercício satírico com o gênero em Wanda Nevada, de Peter FondaBronco Billy explora a difícil relação entre os personagens vividos por Clint Eastwood e Sondra Locke, ambos muito certos do que querem para suas vidas (ou assim eles pensavam), mas não necessariamente dispostos a ceder um pouco, nem mesmo para permitir que algo muito benéfico para os seus próprios planos entre em cena e torne tudo mais fácil.

O roteiro brinca o tempo inteiro com a atração imitando o Velho Oeste, ao passo que ressalta com muita inteligência o momento do gênero naquele início de década, o momento que segue o apogeu do western clássico e primeiramente passa a representar as “temáticas de decadência ou crepusculares” e termina naquilo que os teóricos do gênero chamam de Era dos Finais Sem Glória, que abarca mais ou menos o período de 1971 a 1980. Todos os personagens aqui possuem um passado que gostariam de esquecer ou ressignificar, e para isso acabam se entregando a uma outra figura, a uma persona que viveu em outro tempo, um tempo que a Amárica ocupada da atualidade já se esquecia e que só uma atração meio brega e nostálgica como esta poderia lembrar.

De certa forma, trata-se de um filme solene. Por mais que o humor tenha uma grande atenção do texto e o romance entre Bronco Billy e Antoinette Lily costure a narrativa, é na amizade dessa família meio maluca e muito fiel onde tudo repousa, e as dificuldades do mundo moderno servem como uma ponte dramática para mostrar o que sobrou e o que se pode reconstruir no presente. Escolhe-se aqui os momentos em que a convivência, o respeito e uma série de outros valores pessoais e familiares eram pedras angulares dos relacionamentos, da vida em sociedade. E a preocupação de Bronco Billy com as crianças mais a forma como ensina a elas tais valores faz dele um elo importante entre as raízes da América e o futuro.

É claro que a visão exposta pelo diretor aqui retira de cena a problematização e críticas àquele mundo. A proposta da obra, no entanto, não é trazer isso à tona. Por ser um filme de memória, de representação de um momento feliz, Eastwood se utilizou muito bem de uma outra forma de arte (o circo), para lidar com arquétipos simpáticos do Velho Oeste, como alguém que se lembra de algumas pessoas (índios, bêbados, desertores, Doutores não autorizados, engraxates, escritores não publicados) e de algumas cenas (briga de saloon, assalto ao trem, reconstrução de um empreendimento após uma grande tragédia, “busca pelo ouro”) com um grande carinho e um sorriso no rosto.

Um espetáculo que consegue nos encantar com grande facilidade, e mesmo que não acerte em todos os tons e em todas as escolhas para ligar o mundo moderno ao passado recriado, logra fazer desse material uma ótima sátira. Nem que se restrinja apenas ao imaginário, à farsa que vive na estrada, contando histórias de outros tempos de cidade em cidade, certos períodos históricos, modos de vida e comportamentos de um povo jamais morrerão.

Bronco Billy — EUA, 1980
Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Dennis Hackin
Elenco: Clint Eastwood, Sondra Locke, Geoffrey Lewis, Scatman Crothers, Bill McKinney, Sam Bottoms, Dan Vadis, Sierra Pecheur, Walter Barnes, Woodrow Parfrey, Beverlee McKinsey, Doug McGrath, Hank Worden, William Prince, Pam Abbas
Duração: 116 min.

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