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Crítica | Bruce Springsteen’s Letter to You

por Ritter Fan
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Como tem se tornado comum em razão da proliferação de canais de streaming sedentos por novo material para distribuir, lançamentos de álbuns badalados vem sendo acompanhados de uma variedade de filmes, documentários e animações, em versões robustecidas e sofisticadas dos bons e velhos videoclipes. Bruce Springsteen, como forma de divulgar Western Stars, seu álbum solo de 2019, estreou na direção – em regime de cooperação com Thom Zimny – com o documentário homônimo que é, na verdade, a gravação de uma performance ao vivo de todas as canções.

Letter to You marca a primeira vez que Springsteen grava com sua querida E Street Band desde 2014 e as sessões de gravação ao longo de quatro dias em seu rancho/estúdio em que o disco foi gravado “ao vivo” foram documentadas por Zimny com o mesmo objetivo geral de Western Stars, mas, desta vez, sem que o resultado fosse, efetivamente, apenas um show do cantor e compositor. Para começar, o diretor elegeu fotografar o longa em preto e branco, o que automaticamente já empresta uma camada levemente mais sofisticada à empreitada. Mas essa escolha não é gratuita e nem é um artifício bobo para chamar atenção, já que toda a temática do álbum é voltada para um olhar ao passado, uma homenagem aos anos formativos de Springsteen e sua banda, além de uma homenagem àqueles que se foram no meio dessa incrível jornada de mais de 50 anos.

Além disso, a ambientação do rancho de Springsteen simplesmente pede uma abordagem rústica. Seu estúdio de gravação parece ter sido desenhado como uma cabana de toras de madeira e o uso do preto e branco combina perfeitamente com o ambiente e, mais ainda, com a intimidade que os artistas demonstram ter. Com isso, Bruce Springsteen’s Letter to You triunfa em evocar uma era que já passou, mas que é lembrada com respeito e uma dose saudável de nostalgia por todos ali, mas sem que esse passado sirva de âncora que impeça uma visão de futuro. A própria fotografia com contraste levemente mais alto do que o normal já empresta uma atmosfera neo-noir muito interessante que transita bem entre passado e presente.

Apesar de quase todo o documentário/making-of ser composto de imagens inéditas, capturadas especificamente para ele, há uso de fotografias e filmagens antigas para dar ainda mais sabor à empreitada. Nunca é algo intrusivo ou cansativo e objetivo não é exatamente biográfico. O espectador que quiser aprender detalhes sobre a vida de Springsteen não os encontrará aqui, podendo frustrar-se. De certa forma, o material apresentado exige conhecimento prévio do artista e de sua conexão com nomes de um passado hoje já bem longe, pelo que, apesar de ser claramente uma estratégia de marketing, o filme não é feito para iniciantes desejosos por conhecer o artista, algo que pode ser feito com os diversos livros já escritos sobre a vida dele e da banda.

O álbum é quase todo performado durante o filme, com Zimny criando videoclipes a partir das filmagens in loco, o que funciona muito bem já que tudo fica costurado por uma narração em off do próprio Springsteen que empresta contexto à reunião celebratória, ao seu passado e a todos os elementos formativos de suas escolhas no álbum, inclusive pequeno detalhes como o sentido da moeda de um centavo no trilho do trem em One Minute You’re Here. No entanto, narrações em off são sempre complicadas de se fazer de maneira eficiente e, apesar de ser um excelente cantor e compositor, Springsteen definitivamente não é um bom narrador. Sua voz falada não exatamente combina com a atmosfera que ele mesmo tenta imprimir e, pior ainda, fica muito claro que ele está lendo seu texto e não exatamente “atuando”. Com isso, os diversos trechos de narração, por mais interessantes – e essenciais, na verdade – que possam ser, parecem amarrados, presos mesmo a um artifício mal executado, um tanto quanto robótico.

Mesmo com a narração problemática, os 90 minutos do documentário passam voando e é uma forma muito agradável de se “ver” o álbum e de mergulhar um pouco no entrosamento desse pessoal todo que, em sua grande maioria, está junto há várias décadas. Bruce Springsteen’s Letter to You, assim como o álbum, é um memorial ao passado para abrir caminho para o futuro.

Bruce Springsteen’s Letter to You (EUA – 22 de outubro de 2020)
Direção: Thom Zimny
Roteiro: Bruce Springsteen
Com: Bruce Springsteen, Roy Bittan, Nils Lofgren, Patti Scialfa, Garry Tallent, Steven Van Zandt, Max Weinberg, Charles Giordano, Jake Clemons, Frank Bruno
Duração: 90 min.

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