Home QuadrinhosEm Andamento Crítica | BRZRKR #1

Crítica | BRZRKR #1

por Ritter Fan
1,8K views

BRZRKR foi objeto de uma estrondosamente bem-sucedida campanha de financiamento coletivo no Kickstarter que arrecadou quase um milhão e meio de dólares, com 15 mil participantes. Esse sucesso prévio todo levou a BOOM! Studios a capitalizar em cima e começar uma campanha de marketing com direito a nada menos do que 30 capas variantes da edição #1, que seria lançada em 17 de fevereiro de 2021 e que, depois, foi adiada para 03 de março, resultando em pré-vendas astronômicas de algo como 615 mil exemplares (físicos!) o que, no mercado americano, é um número raro de se alcançar. Só para se ter uma ideia, nos últimos cinco anos, somente Star Wars #1, marcando o retorno da franquia em quadrinhos para a Marvel Comics, vendeu mais.

Tudo o que descrevi acima aconteceu, muito provavelmente, em razão de apenas um nome: Keanu Reeves. O astro do cinema parece ser amado por todos, independentemente da mídia. Ele já provou seu poder de venda fora do cinema ao licenciar sua imagem para o tão adiado e tão decepcionante game Cyberpunk 2077 e, agora, tem sua estreia nos quadrinhos com BRZRKR (título marketeiro e totalmente desnecessário que é uma corruptela de berzerker, palavra que originalmente tinha conexão com guerreiros nórdicos e que, hoje, no inglês, ganhou significados mais genéricos como “violento”, “feroz” e adjetivos parecidos, sem tradução direta para o português), ideia que aparentemente partiu dele e foi desenvolvida pelo astro juntamente com Matt Kindt, prolífico roteirista de quadrinhos.

Mas a pergunta realmente relevante é: será que esse frenesi todo ao redor da HQ é justificado?

Diria que, com exceção do inusitado de ter Reeves como idealizador e co-roteirista (o quanto ele realmente escreveu, nunca saberemos…) de quadrinhos, do uso de sua imagem para dar vida ao protagonista e da bela arte de Ron Garney, que parece ter se inspirado no estilo dos tempos áureos de Frank Miller, mas com pitadas de John Romita Jr., essa primeira edição é tão genérica e tão indutora de bocejos que, confesso, senti pouco interesse em ler as seguintes que virão por aí. Na história, temos um guerreiro imortal de milhares de anos de idade que trabalha para uma entidade governamental (ou não) em missões extremamente violentas, algo que Garney mostra em detalhes quase sádicos, em troca de eles darem um jeito de ele ser mortal. Essa é a premissa básica que, apesar de a primeira edição ter 48 páginas, mais do que o dobro de um HQ normal, não ganha desenvolvimento algum além disso, mais parecendo aqueles teasers de 10 segundos de filmes de muito hype em que só vemos o título e um vulto em segundo plano.

Claro que minha comparação é extrema, pois, como disse, se tem uma coisa que BRZRKR não é, é sutil ou discreta. Do pulo que o guerreiro dá sem paraquedas do helicóptero como o Capitão América gosta de fazer, passando por toda a destruição que ele causa basicamente sozinho, por vezes apenas com as próprias mãos e pés, arrebentando-se no processo como o Wolverine ao enfrentar um exército em seu modo… berzerker…, tudo é mostrado em gloriosos e sanguinolentos detalhes, com páginas e mais páginas dedicadas unicamente a isso, fazendo com que a narração em off seja apenas um detalhe insignificante em meio a cabeças explodidas e braços arrancados com um traço vigoroso por parte de Garney, além de um ótimo uso de cores por Bill Crabtree. É, para todos os efeitos, estilo sobre substância em uma HQ feita cirurgicamente para chocar pela violência, mas que, muito sinceramente, nem isso consegue fazer, pois, hoje em dia, esse tipo de pancadaria gráfica o leitor encontra basicamente em qualquer história, até mesmo de editoras mainstream.

Planejada para ser uma minissérie em 12 edições, BRZRKR muito provavelmente oferecerá mais complexidade narrativa e revestirá seu protagonista ainda sem nome de mais e interessantes camadas. Ou assim eu espero, pelo menos. No entanto, infelizmente a primeira edição não tem o efeito desejado, que é prender o leitor à história que conta, a não ser que o leitor seja realmente adorador inveterado do Keanu Reeves e tudo o que ele faz ou do tipo que se deixa impressionar pela premissa mais do que batida e/ou pela violência extrema que é tão comumente usada por aí nos quadrinhos e, sejamos francos, em qualquer mídia, como muleta narrativa.

BRZRKR #1 (EUA, 03 de março de 2021)
Roteiro: Keanu Reeves, Matt Kindt (baseado em criação de Keanu Reeves)
Arte: Ron Garney
Cores: Bill Crabtree
Letras: Clem Robbins
Capa principal: Rafael Grampá
Editoria: Ramiro Portnoy, Eric Harburn, Matt Gagnon
Editora: BOOM! Studios
Páginas: 48

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais