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Crítica | Caçador de Assassinos

por Leonardo Campos
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Os filmes da franquia Hannibal protagonizados por Anthony Hopkins são os mais conhecidos, mas antes do grande ator assumir o complexo personagem, Michael Mann escreveu e dirigiu a primeira tradução intersemiótica do romance Dragão Vermelho, prévia de O Silêncio dos Inocentes. A produção, lançada em 1986, não possui o mesmo porte das incursões recentes neste universo, no entanto, possui as suas peculiaridades e deveria ser mais conhecida, talvez por edições especiais em mídias contemporâneas que revelem os seus bastidores e a sua importância na travessia destas figuras ficcionais cuidadosamente construídas em suas bases literárias, todos transformados em bons filmes. Aqui, temos mais sutilezas, desenvolvimento sem tom emergencial e olhar mais letárgico para o desenvolvimento da ação, características que não depõem contra, tampouco coloca o suspense policial num patamar de superioridade que muitas críticas esquemáticas apostam por aí, textos que mais parecem cópias de opinião realizadas pelos autores que propriamente uma análise autêntica de uma narrativa cinematográfica e suas particularidades.

Na trama, Will Graham (William Petersen) é um policial com dons especiais, homem que parte para ser protagonista numa investigação que mudará para sempre o curso de sua vida, bem como das pessoas que gravitam em torno de seu cotidiano. Ele é marido de Molly Graham (Kim Greist), mulher que precisa enfrentar um forte jogo psicológico depois que o companheiro parte para o abissal drama envolvendo os crimes de Francis Dollarhyde (Tom Noonan), o Fada do Dente, psicopata com fortes traumas psicológicos, guiado pelo Grande Dragão Vermelho, a obra clássica de William Blake conhecida por retratar trechos do apocalipse bíblico. Como já sabemos, ele é uma criatura pacata, amarga, perigosamente insano, mas representado como alguém de porte comum no convívio social, um ser humano aparentemente inofensivo, capa que serve para ajuda-lo no disfarce de sua postura criminosa e sanguinária na trilha de corpos que deixa pelo caminho da investigação de Graham, realizada ao longo dos 120 minutos de filme.

Introspectivo e com personalidade repleta de distorções, o assassino é também humanizado, principalmente depois que conhece Reba McClane (Joan Allen), uma jovem cega de seu ambiente de trabalho, alguém que lhe desperta inquietações além da psicopatia que o domina. Para compreender melhor o modo de operação do Fada do Dente e conseguir melhores caminhos para chegar ao aterrorizante monstro que é um verdadeiro ogro contemporâneo, o policial conta com a ajuda de Hannibal (Brian Cox), figura do universo de Thomas Harris que aqui ganha uma participação mais discreta, brevíssima, comparada aos seus momentos posteriores. Curiosamente, no filme, o seu sobrenome é trocado por Lektor. Ele vai colocar Will num esquema psicológico profundo, fazendo o personagem mergulhar em memórias do passado que são sugeridas, comentadas, mas não ganham projeção ao longo da narrativa.

Ademais, Chicago é a cidade que serve de cenário para o desenvolvimento da trama em seus primeiros momentos, núcleo que vai para a Geórgia posteriormente, ambientação tomada pela fumaça urbana das grandes metrópoles e neblina que amplia a inserção do espectador no clima da recepção dos crimes hediondos de Dollarhyde. Com direção de fotografia de Dante Spinotti, Caçador de Assassinos traz uma ambientação peculiar para a famosa cela de Hannibal, aqui toda esbranquiçada, sem distrações, escolha do design de produção de Mel Bourne, devidamente iluminada pela imagens de Spinotti, muito bem concebidas para o estabelecimento do clima da narrativa que traz traços do gênero policial, juntamente com o suspense psicológico, em cenas acompanhadas pela condução musical de Michel Rubini e The Reds na composição da trilha sonora. Os figurinos de Collen Atwood, por sinal, também estão bem adequados, elementos que compõem o tecido de um filme indevidamente muito desconhecido.

Caçador de Assassinos (Manhunter) – EUA, 1986
Direção: Michael Mann
Roteiro: Michael Mann (baseado no livro de Thomas Harris)
Elenco: William Petersen, Kim Greist, Joan Allen, Brian Cox, Dennis Farina, Tom Noonan, Stephen Lang
Duração: 119 min.

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