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Crítica | Cacau, de Jorge Amado

Trabalhadores e coronéis vivendo o Mito do Eldorado, por meio do Cacau, no sul da Bahia.

por Leonardo Campos
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Cacau: um fruto metafórico deste romance de Jorge Amado, elemento metafórico da condição humana prevalecente na região sul da Bahia, conhecida por viver um momento de dominância no cultivo deste produto que demarcou a economia e, consequentemente, as relações sociais de um determinado período de nossa história, sendo um recurso valioso para exportação. Neste segundo romance do escritor baiano, publicado em 1933, somos apresentados ao percurso pavimentado por José Cordeiro, um homem que tem a sua trajetória radiografada diante das numerosas lutas e embates no bojo de uma existência sofrida, tomada por constantes obstáculos, morador do Rio de Janeiro no tempo presente da narrativa, a traçar um panorama de memórias da sua trajetória nas fazendas baianas, numa composição textual que expõe cenas de exploração, transgressões diante da ordem estabelecida, embates face aos posicionamentos sociais e pequenas alegrias e tristezas comuns ao processo evolutivo de qualquer ser humano.

A publicação é parte integrante da fase inicial na carreira do escritor, denominada panfletária pela crítica especializada. Cacau é um romance simples, como delineia seu narrador, sem passagens fraseadas com muita beleza, ausente da preocupação com repetição de palavras e coisas do tipo. O final, sem a redenção, geralmente esperado em trajetos muito melancólicos, e, consequentemente, sofridos, segue um fluxo esperançoso, mas deixa possibilidades em aberto. Sergipano, como também era conhecido o protagonista João Cordeiro, é um homem que tinha uma condição razoável na juventude, mas perde as suas estruturas depois que o pai morre e o seu tio, sócio de um empreendimento, lhe tira qualquer chance de herdar um posto de trabalho mais digno na fábrica da família. Com isso, o personagem precisa saber se pretende se curvar diante da situação ou batalhar para conseguir coisas próprias num cenário nada favorável.

Nascido em São Cristóvão, antiga capital de Sergipe, a quarta cidade mais antiga do país, se muda para o território carioca e se torna tipógrafo, exercendo suas funções num mundo de vocabulário reduzido, mas capacitado a contar a sua saga aos leitores do romance que reflete o quão suado era o labor dos “escravos” do cacau, uma existência que não permitia instantes de delicadeza, tampouco sonhos muito além dos horizontes. Rebelando-se contra os coronéis e ganhando respeito dos demais empregados da região, antes de sua ida para o sudeste, João Cordeiro se torna um representante do proletariado, numa região de desonestidade e opressão social, com coronéis a roubar os seus colaboradores e explorar, com arrogância e injustiça, aqueles que consideravam os seus súditos, dependentes do trabalho rural para garantir o mínimo de alimentação e outros elementos de sobrevivência.

O fruto em questão, senhor que fazia até os coronéis temerem, expande-se ao longo do romance como centro do universo. Era, como já mencionado, fator determinante das relações da região e, ao longo da história, é retratado como algo que exercia uma fascinação doentia, num momento de pessoas mergulhadas numa versão local do Mito do Eldorado. O cacau, aqui, definia riquezas e pobrezas, reificando humanidades e determinando os trajetos de personagens como Manoel Frajelo, Magnólia, dentre outros, integrantes de uma história repleta de maniqueísmos, também centrada nos impactos causados pela migração regional promovida pelo cacau. Alguns, em busca de enriquecimento, outros, retirantes do cenário da seca nordestina. Todos em busca de mudanças em suas existências.

Cacau (Brasil) — 1933
Autor: Jorge Amado
Editora: Record
300 páginas

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