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Crítica | Cadillac Cor-de-Rosa

por Ritter Fan
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Já me peguei debatendo comigo mesmo muito mais vezes do que gostaria ao final de filmes como é que determinados roteiros passam pela aprovação dos produtores. Afinal, o processo é longo e complexo e há o envolvimento de muitas pessoas e, não ser que o “dono do dinheiro” seja obcecado por determinado texto, não há razão para alguns longas existirem. E não falo aqui só dos casos de obras tenebrosas, daqueles que não têm um frame só que preste, mas sim também daqueles que, apesar de tecnicamente bem feitos, não são capazes de fazer o coração bater mais rápido ou sequer de levantar sobrancelhas em alguns momentos aqui e ali. A filmografia de Clint Eastwood tem poucos exemplos nessa ingrata categoria, se é que posso chamar assim, mas dois deles foram curiosamente lançados em anos muito próximos um do outro: Cidade Ardente, em 1984 e Cadillac Cor-de-Rosa, em 1989.

Se Cidade Ardente dependia quase que exclusivamente do poder atrativo de suas duas estrelas, Eastwood e Burt Reynolds na primeira e única vez juntos, Cadillac Cor-de-Rosa faz uso de dois artifícios para  tentar chamar atenção. O primeiro deles é o automóvel do título que Elvis Presley citou em Baby, Let’s Play House e cujo sucesso levou-o a pintar seu Cadillac azul de rosa, transformando-o em um ícone da noite para o dia. O segundo é que, aqui, Eastwood, que é um skip tracer, ou seja, um caçador de recompensas especializado em trazer de volta pessoas procuradas, faz uso de diversos disfarces para obter sucesso em seu trabalho. Mas o problema é que essas duas circunstâncias nem de longe conseguem justificar o roteiro lento, cansativo e repetitivo de John Eskow que é levado para as telas em uma direção particularmente indiferente e burocrática do dublê transformado em diretor Buddy Van Horn em sua terceira parceria com Eastwood e segunda seguida, depois de Dirty Harry na Lista Negra, e que também marcaria o fim de sua breve carreira nesta cadeira.

Recebendo a missão de prender Lou Ann McGuinn (Bernadette Peters), que fugira no Cadillac cor-de-rosa do marido, por sua vez membro de uma gangue de caipiras brancos supremacistas que havia escondido dinheiro lá dentro, Tommy Nowak (Eastwood) acaba envolvendo-se com a moça e fazendo de tudo para ajudá-la, o que inclui, claro, usar seus truques para enganar os trouxas de sempre. Ainda que sempre seja divertido ver nazistas serem retratados como completos idiotas e, ato contínuo, apanharem, a grande verdade é que nem isso consegue retirar o filme daquela incômoda linha do marasmo, em que a ação é modorrenta e pouco inspirada e toda a tentativa de comédia é daquelas de dar vergonha alheia de tão mal escrita.

E, como se isso não bastasse, Peters e Eastwood simplesmente não fazem “clique”. Não sei se é porque os atores não sentiram firmeza no roteiro ou porque Van Horn simplesmente não sabe tirar atuações boas de seu elenco, mas o fato é que a conexão entre os protagonistas é forçada e permanece artificial até o fim que, aliás, é anticlimático, daqueles que cortam a ação no meio para simplesmente encerrar a história. E não, não estou dando a entender que gostaria de um filme mais longo, pois o longa tem pelo menos 40 minutos a mais do que deveria ter, mas sim que o roteiro poderia ter pelo menos entregue uma sequência de ação realmente satisfatória.

Com isso, restam as curiosidades. A primeira delas é que, pela segunda vez seguida, Jim Carrey faz uma ponta em filme com Clint Eastwood. Se no quinto Dirty Harry ele foi um ator/cantor que morre logo no início, aqui ele é um comediante de stand-up que é visto ao fundo muito rapidamente, o que sem dúvida é um downgrade em sua então ainda incipiente carreira. A segunda é que o filme marca a sétima e última vez que Eastwood contracenaria com Geoffrey Lewis, aqui vivendo o falsificador Ricky Z, mas que é mais conhecido como Orville, irmão/primo de Philo na dupla de longas Doido para Brigar… e Punhos de Aço.

Cadillac Cor-de-Rosa não é um dos filmes mais lembrados de Clint Eastwood e a razão para isso é evidente desde praticamente o primeiro minuto de projeção. Não é, como disse, aquele lixo total que revolta o espectador, mas ele certamente não merece nada nem próximo de 122 minutos do tempo de alguém, isso se merecer um minuto sequer. Tem roteiros que realmente não deviam sair da gaveta…

Cadillac Cor-de-Rosa (Pink Cadillac – EUA, 1989)
Direção: Buddy Van Horn
Roteiro: John Eskow
Elenco: Clint Eastwood, Bernadette Peters, Timothy Carhart, John Dennis Johnston, Michael Des Barres, Jimmie F. Skaggs, Bill Moseley, Michael Champion, William Hickey, Geoffrey Lewis, Dirk Blocker, Frances Fisher, Paul Benjamin, Bryan Adams, Mara Corday, Jim Carrey, James Cromwell, Bill McKinney
Duração: 122 min.

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