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Crítica | Calafrio (1971)

Um jovem acossado e seus planos de vingança diabólicos.

por Leonardo Campos
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Dizem que os cães são os melhores amigos do homem, mas em Calafrio, clássico do horror dos anos 1970, adaptação do romance Vingança Diabólica, de Stephen Gilbert, os ratos ocupam esse espaço de privilégio. Como também será mencionado mais adiante na crítica de sua refilmagem, A Vingança de Willard, produção lançada em 2003, a base estrutural dos conflitos dramáticos em ambas as produções traz uma questão aparentemente dissociada de possíveis interpretações preconceituosas, mas ao relacionar Sócrates, o rato branco, com a bondade e o comportamento ideal, e o rato negro, Ben, com a maldade e o comportamento arredio, a história de amizade entre Willard, um rapaz com fobia social e graves questões psicológicas, e os dois ratos de nome já mencionados, Calafrio permite que hajam debates de cunho racial em torno de sua perspectiva dualizada sobre o bem e o mal, o certo e o errado, o doce e o amargo, aqui alegorizados nas figuras dos roedores que representa os dois possíveis lados do raciocínio do protagonista, o pêndulo para “fazer a coisa certa” ou “chutar o pau da barraca ética”.

Sob a direção de Daniel Mann, cineasta que toma como guia, o roteiro de Gilbert Ralston, acompanhamos a sofrida trajetória de Willard (Bruce Davison), um homem que vive com a sua mãe, Sra. Henrietta Stiles (Elsa Lanchester), mulher idosa e incapacitada fisicamente, cotidianamente aos cuidados do filho. Desconectado socialmente, o jovem rapaz não tem um par romântico, tampouco vida sexual ativa ou qualquer outra forma de distração e diversão. Sua rotina é ir de casa ao trabalho e durante o filme, acompanhamos a sua jornada em busca do veneno ideal para contenção da praga de ratos que começa discreta no porão de sua casa e logo depois se transforma numa infestação peculiar. Ele nem ao menos se alivia das tensões domésticas em casa, pois o ambiente profissional parece mais infernal que o seu lar desagradável. Tudo por causa do Sr. Al Martin (Ernest Borgnine), responsável por tornar os seus dias cada vez mais difíceis, seja pelas reclamações constantes e broncas humilhantes que diminuem ainda mais a autoestima de Willard.

Com a chegada de Joan (Sandra Locke), candidata a substituta de sua vaga no trabalho, as coisas sentimentais parecem que ganharão novos rumos, mas o jovem já está demasiadamente cansado dos maus-tratos das pessoas e da vida. O ápice de tudo é a morte de Sócrates, o rato branco que o acompanha diariamente e acaba indo ao seu trabalho. Aniquilado depois de uma aparição despertada por gritos estridentes de uma colega de Willard, o Sr. Al Martin ceifa a vida do roedor e abre precedentes para que a vingança interiorizada pelo rapaz alcance o ponto máximo e entre na ebulição necessária. É hora da revanche e Willard utilizará Ben, o rato do mal, arruaceiro e desordeiro, para dar ritmo ao seu projeto e ver as pessoas que lhe fazem mal, pagarem o devido preço por todo o sofrimento em excesso perpetrado ao longo de sua árdua vida. Ele percebe que Ben possui o dom de manipulação dos demais ratos da casa e com isso, o ajuda a organizar o exército para dar cabo de seu planejamento de acerto de contas.

Treinados por Moe Di Sesso, os ratos em Calafrio são assustadoramente abundantes, visualmente asquerosos e responsáveis por momentos de puro asco e arrepios. Sem optar por apresentar ratos em processos de mutação genética, a produção mantém associação com uma das ramificações do horror ecológico, a tradição dos filmes com humanos e seus processos de manipulação de animais para alcançar determinados propósitos almejados. Com uma continuação direta que retoma os cinco primeiros minutos da narrativa para a devida ambientação, a saga é sequenciada por Ben, O Rato Assassino, famoso por ter a música tema famosa de Michael Jackson ainda pequeno. Interessante em alguns pontos, contemplar o material hoje requer algum exercício retrospectivo por parte do espectador, pois o filme envelheceu bastante. Bud David assumiu os efeitos especiais, setor que funciona bem no que concerne a devida representação dos ratos em cena, presença assustadoramente volumosa, complementada pelo design de som de Harold Lewis e pela trilha sonora de Alex North, ambos intrusivos e atordoantes em determinados trechos. A direção de fotografia de Robert B. Hauser atende aos requisitos na captação dos espaços quase góticos do design de produção de Howard Hollander, elementos justapostos e transformado numa narrativa ainda muito curiosa em seu argumento, mas com execução menos dinâmica que o necessário.

Calafrio (Willard, EUA – 1971)
Direção: Daniel Mann
Roteiro: Gilbert Ralston, Stephen Gilbert
Elenco: Bruce Davison, Sondra Locke, Elsa Lanchester, Michael Dante, Jody Gilbert, Ernest Borgnine
Duração: 95 minutos

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