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Crítica | Caminhos Esquecidos

por Roberto Honorato
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Claudina acaba de receber a notícia de que seu marido morreu em um acidente na estrada. Além das dificuldades financeiras, a solidão da mulher faz com que ela vá morar com sua filha. Tentando sair de sua rotina e superar o luto, Claudina conhece Elsa, uma vizinha casada, mas de espírito livre, que adora sair para cantar em um bar da região, o qual as duas começam a frequentar e desenvolver uma amizade que logo se transforma em uma relação mais íntima. Mesmo que pareça finalmente confortável para se sentir feliz novamente, a viúva deve lidar com o julgamento dos habitantes dessa pequena cidade conservadora, que por algum motivo também é fascinada pela possibilidade de aparições de Ovnis. 

Por conta dessa última informação, pode passar pela sua cabeça que este seja um filme de ficção científica, mas ainda que a obsessão dos personagens com visitantes de outro planeta pareça um elemento deslocado da narrativa em primeira instância, Caminhos Esquecidos é o tipo de filme que precisa de tempo para se desenvolver e explorar cada tópico com cuidado, principalmente delicados como o trauma da perda e a fragilidade humana ao encarar algo tão conflitante quanto sua própria sexualidade. Com isso em mente, podemos encarar o que parece ser um ingrediente para um filme de ficção especulativa por uma lente mais metafórica.

Esse pode ser o primeiro longa de Nicol Ruiz Benavides, na verdade é sua primeira produção de forma geral, mas ela já começa a exibir um bom controle por trás das câmeras, investindo em uma forte ambientação, dando vida para a pequena cidade de uma maneira que parece única através de um excelente trabalho de som, o que costuma ser um ponto pouco ressaltado em alguns filmes precisamente pela falta de uma maior atenção ao departamento sonoro; e a fotografia iluminada de forma mais natural e realista, mas que contrasta bem com as sequencias em que o aspecto sobrenatural da narrativa entra em cena.

Ruiz preza pelo drama da protagonista, mas também se esforça para tentar realizar tomadas mais estilizadas, com foco em algum personagem através de espelhos ou planos longos, o que pode evidenciar o talento da diretora em um lado técnico, mas também distrai do que realmente faz o filme funcionar.

Felizmente, as atuações de Rosa Ramírez e Romana Satt, interpretando Claudina e Elsa, respectivamente, jamais são ofuscadas por isso. Esse é um filme relativamente curto, tendo apenas 71 minutos de duração, e por mais que pareça realmente instigante apenas em sua segunda metade, a primeira é essencial para a construção de um ritmo mais lento, que beneficiou bastante o longa, deixando-o ainda mais atmosférico.

Caminhos Esquecidos expõe uma realidade pouco explorada no cinema, e a decisão de Nicol Ruiz Benavides em se aproveitar de elementos surreais em seu primeiro longa pode ser arriscada, mas funciona bem. Melancólica e introspectiva, a jornada de descoberta de Claudina pode não ser fácil, mas com certeza é libertadora, e talvez assim ela não se sinta mais tão alienígena, não só para os outros, mas para si mesma. 

Caminhos Esquecidos (La Nave Del Olvido – Chile, 2020)
Direção: Nicol Ruiz Benavides
Roteiro: Nicol Ruiz Benavides
Elenco: Rosa Ramírez, Romana Satt, Gabriela Arancibia, Claudia Devia, Raúl López Leyton, Cristóbal Ruiz
Duração: 71 min.

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