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Crítica | Camino a La Paz

por Luiz Santiago
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estrelas 3

Camino a La Paz (2015) é um daqueles filmes ternos que nos deixam pensando por muito tempo na nossa capacidade de fazer amizades com pessoas que às vezes são de uma realidade completamente diferente da nossa, mas com quem acabamos compartilhando alguns dos melhores momentos de nossa vida e por quem fazemos coisas que jamais imaginaríamos.

Com roteiro e direção de Francisco Varone, Camino a La Paz acompanha Sebastián, um homem de 35 anos, fã da banda argentina Vox Dei e muito apegado ao seu velho Peugeot 505, com o qual passa a trabalhar de motorista particular, uma forma que conseguiu para completar o orçamento da casa. Em início de casamento com Jazmín, Sebastián passa por algumas semanas de inquietude, tendo sempre discussões sobre dinheiro e algumas amenidades da casa como motivo das dissensões.

O texto nos apresenta um homem que tenta dar à sua vida um rumo familiar tranquilo, mas a falta de emprego agrava a situação. De cara, a crítica do diretor à crise econômica argentina se faz sentir, e essa crítica estende-se para outros setores da sociedade como a segurança pública, a moradia e a qualidade de vida, uma realidade vista como problemática também na Bolívia, o destino final da viagem que sustenta o filme. Mais do que observar a sociedade através de um simpático road movie, Francisco Varone nos faz observar a amizade inesperada, os laços humanos firmados quando menos se espera e quando se mais precisa.

Embora termine de forma abrupta e seja bastante burocrático na abordagem feita para o trajeto entre Buenos Aires e La Paz, o filme tem ótimos momentos cômicos marcados pela relação entre Sebastián (Rodrigo De la Serna) e Khalil (Ernesto Suarez), uma relação marcada pelo gênio forte dos dois personagens e que aos poucos ganha de cada um uma nuance de amizade e de confiança que em dado momento da projeção chega a nos emocionar. Outras surpresas são adicionadas no meio do caminho e fazem da viagem um divertimento trágico, tanto pela condição de saúde do velho muçulmano quanto pela situação financeira e motivo principal pelo qual Sebastián aceitou fazer o trajeto.

Inicialmente temos a impressão de estar diante de um filme como Um Conto Chinês (2011), mas as camadas trágicas e o fator cultural e religioso — expostos de forma bastante exagerada a um certo ponto da viagem — nos mostram que a discussão sobre a existência e o acaso (ou não acaso) da vida colocam Camino a La Paz em um outro rumo. O filme nos entretém através da boa escolha para as canções na trilha sonora e para as composições originais da fita, além da maioria das tomadas das rodovias durante a viagem. É claro que ao se tratar de um road movie, falta maior exploração da viagem em si, particularidade que o roteiro deixou de lado para dar atenção a coisas que pouco acrescentam à história, como algumas cenas nos hotéis no meio da estrada e a inútil parada para um ritual muçulmano, sequência que jamais deveria ter entrado para o corte final, pois não está em sincronia com o mote principal da história.

A amizade improvável e as ótimas atuações dos atores principais salvam o filme pela simpatia. O público é conquistado pela entrega feita de um personagem para o outro e também se dispõe a aprender e entregar-se, comprando a ideia principal do roteiro e percebendo, ao término, que o caminho até La Paz (uma metáfora à aceitação, ao contato com o desconhecido) é também o nosso caminho através da vida.

Camino a La Paz (Argentina, 2015)
Direção: Francisco Varone
Roteiro: Francisco Varone
Elenco: Rodrigo De la Serna, Ernesto Suarez, Elisa Carricajo, Marta Lubos, Maria Canale
Duração: 92 min.

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