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Crítica | Capitão América (1990)

por Ritter Fan
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O Capitão América é, na data de publicação da presente crítica, o terceiro super-herói da Marvel Comics com mais longas live-action solo – atrás apenas de Homem-Aranha e Hulk – mas ele foi, sem dúvida alguma, o que mais sofreu até acertarem de verdade com o longa de 2011, ainda na Fase Um do Universo Cinematográfico Marvel. A primeira tentativa foi o serial de 1944 que é até bom se esquecermos completamente que é uma suposta adaptação do Bandeiroso. Depois, vieram os dois acintosos telefilmes da CBS de 1979 que, ainda bem, não resultaram em uma série de TV. E, finalmente, em 1990, Menahem Golan, lendário co-fundador da Cannon, produtora que largara no ano anterior, colocou nas telonas uma surpreendentemente fiel adaptação do personagem que, porém, não consegue realizar seu potencial.

Com apenas uma grande modificação na história de origem do Capitão América, ou seja, a inexplicável troca de nacionalidade do Caveira Vermelha que de alemão passou a ser italiano, o roteiro de Stephen Tolkin mantem-se fundamentalmente fiel ao material fonte, iniciando a história com a origem do vilão, depois a do Capitão já na Segunda Guerra Mundial, seguido de seu congelamento no Alasca em 1943 e descongelamento 50 anos depois, quando ele precisa novamente enfrentar seu arqui-inimigo. Isso, no papel, funciona muito bem e é de se aplaudir a tentativa de transpor para as telonas algo tão próximo da criação de Joe Simon e Jack Kirby. Mas só no papel mesmo.

O problema está na execução. Afinal de contas, deixe-me relembrar que esse filme é uma produção encabeçada por Menahem Golan, conhecido por obras de orçamentos baixos, e não particularmente preocupado em refinar o material. Mesmo que o uniforme do Capitão seja em tese 100% fiel ao original e feito pelos mesmos designers do uniforme do Batman, de Tim Burton, de apenas um ano antes, o orçamento parco resultou em uma tenebrosa roupa de borracha, com um escudo muito claramente de plástico (ainda que melhor do que aquela porcaria transparente de 1979) e, pior ainda, com as orelhas aparentes de Steve Rogers (Matt Salinger) também de plástico(!!!). Tudo bem que a ideia original era criar um uniforme tático e que isso foi vetado por Stan Lee, mas daí a chegarem a esse resultado é de se coçar a cabeça em incredulidade.

E o desapontamento é ainda maior quando vemos que o trabalho com a maquiagem do Caveira Vermelha (Scott Paulin) tanto em 1943 quanto em 1993 é acima da média, assim como as diversas filmagens em locação que fazem bom uso de paisagens naturais e de construções locais do Leste Europeu como a fortaleza do vilão. Não ajuda que Albert Pyun, diretor trash que tem em seu currículo uma seleção de pérolas incluindo Cyborg: O Dragão do Futuro, com Jean-Claude Van Damme, não sabe muito bem como contar uma história ou posicionar as câmeras, gerando uma montagem estranha, que desnorteia muito mais do que localiza o espectador.

Puyn tem, também, dificuldade de trabalhar o Capitão já que a sequência em 1943 é brevíssima e não e não consegue estabelecer o personagem como uma figura heroica da época, com o roteiro tendo que recorrer ao ridículo artifício de um garoto – que, depois, seria o presidente dos EUA vivido por Ronny Cox – conseguindo fotografar o rosto do Capitão no momento em que ele desvia o míssil onde está amarrado da Casa Branca. Depois, uma vez descongelado, sua reinserção no presente é claudicante e extremamente conveniente, com uma decupagem que teletransporta o protagonista do Alasca para o Canadá quase que imediatamente.

Matt Salinger, que, curiosamente, é filho de ninguém menos do que o autor J.D. Salinger, até tem a aparência e o físico de Steve Rogers, com alguns truques de câmera sendo usados para torná-lo “mais fraco” no passado, além de uma alteração na origem que o coloca como vítima de poliomielite. No entanto, percebe-se muito claramente o desconforto do ator no uniforme azul, vermelho e branco e isso afeta as sequências de ação, especialmente quando close-ups destroem a magia com toda aquela borracha azul e uma máscara que não é cortada direto, criando um efeito estranho nos olhos do Capitão. E, sem o uniforme, o ator não mostra profundidade dramática para ser mais do que o bonitão que anda para lá e para cá com Sharon (Kim Gillingham), filha de sua amada Bernice (também Gillingham).

Errando bem menos do que em 1979 (o que não é nada difícil, obviamente), mas ainda ficando longe do ideal, ainda que ganhando pontos por manter-se muito próximo do material original, a produção de baixo orçamento e espiritualmente irmã do Quarteto Fantástico de 1994 até consegue divertir na mesma proporção que gera momentos de vergonha alheia. O Capitão América ainda precisaria de 21 anos para finalmente ganhar o tratamento que merecia na quinta tentativa de levá-lo para as telonas.

Capitão América (Captain America, EUA/Iugoslávia – 1990)
Direção: Albert Pyun
Roteiro: Stephen Tolkin (baseado em história de Lawrence J. Block e Stephen Tolkin e personagens criados por Joe Simon e Jack Kirby)
Elenco: Matt Salinger, Ronny Cox, Ned Beatty, Darren McGavin, Michael Nouri, Scott Paulin, Kim Gillingham, Melinda Dillon, Bill Mumy, Francesca Neri, Carla Cassola, Massimilio Massimi, Wayde Preston, Norbert Weisser, Garette Ratliff Henson (como Garette Ratliff), Bernarda Oman
Duração: 97 min.

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